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Guia para Gestores de Escolas

Fusão das Escolas – Quando a saída é somar

Matéria publicada na edição 02 | Março 2005 – ver na edição online 

Fusão das escolas

Por Luiza Oliva

Das escolas de educação infantil até o ensino superior, a fusão de escolas é uma realidade. Desde que o perfil de alunos e o projeto pedagógico se assemelhem, é uma tendência que visa a sobrevivência das instituições de ensino, diante das dificuldades de um mercado cada vez mais competitivo. Em São Paulo, são inúmeros os exemplos de fusão ocorridos nos últimos anos: o Colégio Equipe se uniu à Escola Ibeji, o Colégio Oswald de Andrade à Escola Caravelas, entre outros.
O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (SIEEESP) não tem números relativos a fusões de escolas. Mas, segundo o Censo escolar de 2004, o número de alunos nas escolas particulares paulistas aumentou 1%, enquanto o número de estabelecimentos de ensino subiu 4,6%. As 6047 escolas de ensino básico apontadas no Censo de 2003 passaram para 6324 em 2004. Fecharam 359 escolas, enquanto 636 foram abertas. “Há uma grande ociosidade na maioria das escolas. Recentemente, as fusões têm acontecido em menor número, mas continuam sendo uma possibilidade de solução para essa situação”, aponta Roberto Prado, diretor executivo do SIEEESP.
Na opinião de Eugênio Machado Cordaro, diretor da Corus Consultores, com experiência de mais de 20 anos no setor educacional, as escolas que se candidatam a uma fusão devem estar dispostas a rever sua forma de gestão, mudando alguns paradigmas e abrindo mão de parte do poder que tinham isoladamente. “Todos devem aceitar que após a fusão haverá uma nova escola, diferente das anteriores, preservando o melhor de cada uma, sem os antigos vícios indesejados e inovando no que for de interesse das escolas e da clientela”, orienta.
A fusão dos Colégios Horizontes e Uirapuru aconteceu em 2002. Até um ano e meio após o processo, as diretoras das duas escolas continuaram comandando a nova instituição, o Colégio Horizontes Uirapuru. Depois desse período, a diretora do Uirapuru partiu para uma outra empresa e Gabriela Lian Branco Martins, que vinha do Horizontes, assumiu a direção do Horizontes Uirapuru. “Foi importante que nesse processo permanecessem as duas cabeças da direção. Cuidamos de pequenas diferenças na linha de orientação das escolas, e tentamos ao máximo ter atitudes iguais”, lembra Gabriela. Um exemplo de necessidade de unificação: no Uirapuru os alunos eram avaliados por conceitos e no Horizontes, através de notas. No regimento da nova escola, foi adotado o sistema de notas.
Gabriela comenta que, quando independentes, as escolas tinham um bom relacionamento e afinidades de pensamento. O Horizontes, inaugurado em 1981, oferecia desde a educação infantil até o ensino médio. O Uirapuru, antes de ter o ensino médio, costumava indicar alunos para o Horizontes. As escolas ficavam em bairros vizinhos. O Horizontes, na rua Groenlândia, no Jardim Europa, e o Uirapuru, na rua Alves Guimarães, em Pinheiros, em São Paulo. “Tínhamos populações semelhantes, os pais buscavam praticamente o mesmo objetivo com as escolas e tínhamos em média o mesmo número de alunos”, comenta. Os nomes das duas escolas, apesar de tão distintos, foram mantidos. Os logotipos foram unificados e as cores das escolas padronizadas. Até os antigos uniformes das precursoras da união ainda continuam sendo usados por alguns alunos. “Pais e alunos continuaram tendo vínculos com as escolas de origem”, avalia.
Fisicamente, durante um ano e meio as escolas mantiveram as duas unidades. “Assim, garantimos que o espaço dos alunos ficasse preservado. A escola bancou inclusive um transporte entre as duas unidades para não causar transtorno aos pais”, explica. Mas, administrativamente a divisão entre os dois prédios era complicada. Assim, em meados de 2003 a escola investiu numa reforma da unidade de Pinheiros e fechou a do Jardim Europa. Hoje, os 350 alunos, da educação infantil ao ensino médio, ocupam o mesmo endereço. “Tudo foi feito para que evitássemos perder alunos”, diz a diretora. Para as famílias que pagavam a mensalidade mais baixa, pois havia uma pequena diferença de valores entre as duas escolas, a Horizontes Uirapuru ofereceu um desconto até o final do curso para que não se sentissem prejudicadas.
Gabriela sustenta que após a fusão a perda de alunos ocorreu num patamar considerado normal. O saldo foi mais do que positivo, em sua opinião. Hoje, a Horizontes Uirapuru faz parte do Grupo A, formado também pelas escolas Aprendendo a aprender, Liceu Santa Cruz, Colégio Pirajuçara e Colégio Concórdia. Gabriela sustenta que tanto no Santa Cruz como no Concórdia o trabalho foi diferente da fusão com o Uirapuru. O Santa Cruz foi comprado pelo grupo em 2000 e enfrentava sérias dificuldades financeiras. O Grupo A manteve praticamente a mesma equipe, antiga no Liceu. A escola cresceu, profissionais antigos foram promovidos, outros foram contratados. “Foi uma equipe fácil de conquistar”, diz. Já para os funcionários do Concórdia a mudança de direção foi uma surpresa. “Entramos com uma proposta de trabalho diferente e tivemos que conquistar pais e funcionários”, aponta.

O melhor de cada um
Encaminhar adequadamente o processo de fusão junto aos pais de alunos é um dos pontos essenciais para que a iniciativa seja bem sucedida. “No geral, quando os principais pontos estão definidos, os pais e alunos são comunicados. Este é sempre um momento tão difícil quanto fundamental para o sucesso da fusão. Geralmente, a clientela fica com muitos receios da novidade. Porém, quando o processo é bem cuidado, com o tempo a maioria, na medida em que consegue ver as vantagens, adere à nova escola”, sustenta o consultor Eugênio Cordaro.
Na fusão das escolas Bem-me-quer, Logos e Mater Dei, concretizada em São Paulo em 2003, houve tempo para que a comunicação ocorresse de maneira adequada. O processo de negociação começou em 2001 e durou até o final de 2002. Isso permitiu que as escolas envolvidas pudessem cuidar da comunicação e da preparação de seus colaboradores de forma positiva. Nesse período, foram organizadas a integração e as mudanças, até mesmo físicas. Em 2003, as aulas começaram no Colégio Cidade de São Paulo, nova escola surgida através da fusão. Segundo os diretores da instituição, a reação da clientela foi muito boa, de maneira geral. Apenas quem residia mais longe de onde ficavam as sedes anteriores não acompanhou a mudança. “Mas, sempre existem os casos de resistência à mudança. Algumas famílias que saíram por ‘medo’ da fusão ou por ‘fofocas’ criadas na época, e foram experimentar outras escolas, estão voltando, desde o ano passado. Isso mostra que o processo deu certo”, acredita Marcello Cafaro, diretor do Cidade de São Paulo.
No caso das escolas Bem-me-quer, Logos e Mater Dei, a necessidade da fusão nasceu do fato das três se situarem na mesma região (bairros paulistanos dos Jardins, Pinheiros, Moema e Itaim), e de disputarem a mesma clientela, com uma população cada vez mais velha (média entre 45 e 55 anos), que têm menos filhos em idade de cursar educação infantil e fundamental. “A fusão decorreu da soma de aspectos competitivos das três escolas, da mesma preocupação com o ensino de qualidade e da semelhança entre as propostas pedagógicas e os valores éticos”, aponta Cafaro. “Com a fusão, otimizou-se a estrutura administrativa possibilitando à nova escola aumentar a capacidade de investimento, trazendo benefícios a todos”, completa.
Na área administrativa e financeira, foi grande a redução de custos. Alguns setores tornaram-se comuns (antes, cada escola tinha o seu). Essa racionalização de custos possibilitou ao novo colégio manter o valor das anuidades no primeiro ano. Em alguns cursos o valor foi até reduzido. Para o diretor, todo mundo saiu ganhando com a fusão: “Contamos com aquilo que de melhor existia em cada escola: as melhores competências, os melhores colaboradores, os melhores equipamentos, as melhores instalações. A vontade e o comprometimento de todos os envolvidos fez nascer um projeto realmente de peso. O Colégio Cidade de São Paulo entrou em cena com um projeto cujos resultados, nos nossos alunos, serão para a vida toda, sem falsa modéstia.”

Quando fazer
Na opinião do consultor Cordaro, um dos objetivos básicos de uma fusão é melhorar as condições econômico-financeiras da escola. “Mas, se ela não for bem conduzida, a nova escola pode continuar com os mesmos problemas anteriores, agregados de outros, novos e indesejados. Isto é mais comum do que se imagina, pelo fato da escola não ser uma empresa nos moldes tradicionais, ou seja, os clientes se encontram diariamente, e mantêm contato por vários anos com os diretores e funcionários da escola”, sustenta. Cordaro complementa que uma fusão deve ser estudada quando a escola estiver enfrentando perda de alunos, dificuldades econômico-financeiras, de crise societária ou em fase estratégica de crescimento ou ainda em absorção de novas tecnologias.
Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria e especializado em gestão universitária, explica que no ensino superior as fusões e incorporações são uma tendência natural. “Seja por problemas de gestão, pela concorrência ou por incompetência das empresas, naturalmente as instituições vão se agrupar. Teremos um enxugamento do sistema nacional de ensino superior”, garante. Conforme o Censo de 2003, há no País 1650 instituições de ensino superior. Mil são catalogadas como micro ou pequenas empresas. “Essas escolas estão se tornando cada vez menos competitivas. Elas podem ser mais enxutas na administração, mas acabam copiando o modelo e oferecendo os mesmos cursos de instituições mais antigas”, argumenta.
As altas taxas de ociosidade, inadimplência e evasão escolar, que estão atingindo as escolas simultaneamente, resultam na necessidade de outros modelos de administração. Monteiro sustenta que um deles é a fusão, que ocorre quando uma das duas instituições perde a identidade. Outro é a incorporação, quando podem se manter marcas diferentes, porém com uma nova maneira de direção. “Tanto uma quanto a outra solução devem ser trabalhadas com muita atenção. A absorção de uma cultura por outra não é tão fácil”, justifica.
Segundo Monteiro, principalmente nos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Fortaleza e Vitória, as fusões e incorporações serão mais comuns. “Nessas regiões, a oferta de cursos e vagas, além de estar concentrada em cursos padrão, é maior que a demanda. Não existem alunos para todos”, diz. Alguns dados comprovam a concentração excessiva em determinados cursos: Direito e Administração representam quase 25% dos alunos matriculados no Brasil; 10 cursos representam 50% dos alunos matriculados no País. “Buscar diferenciais competitivos no projeto pedagógico e na qualidade do atendimento é condição de sobrevivência para as instituições. É preciso criar um projeto novo, ter coragem de apresentar propostas inovadoras”, avalia. E, para quem busca parcerias, a saída é ter transparência de dados e ser uma empresa bem administrada. “A escola que quiser trabalhar a idéia de fusão ou incorporação precisa apresentar dados que resistam a uma análise mais detalhada”, aponta.

PARA MAIS INFORMAÇÕES
Colégio Horizontes Uirapuru
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Colégio Cidade de São Paulo
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Eugênio Machado Cordaro
[email protected]

Carlos Monteiro
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