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Guia para Gestores de Escolas

Como organizar o currículo escolar: Novas competências e práticas, para além do conteúdo básico

Matéria publicada na edição 88 | Maio 2013 – ver na edição online
O currículo escolar é tema de constantes reflexões entre todos que constituem a escola no Brasil. Cercados por vários problemas sociais, os gestores pensam em muitas formas de combater a violência, a intolerância étnico-racial, de gênero e de orientação sexual, e muitos desejariam ter autonomia diante das situações enfrentadas pela sua escola. Os temas transversais vieram para que as instituições permeiem os assuntos juntamente com o currículo existente, mas o que consta como facultativo no processo escolar muitas vezes deixa a desejar, exigindo que uma nova concepção esteja presente entre os profissionais da educação.

Com as transformações ocorridas nos últimos anos, aceleradas pela evolução tecnológica, algumas escolas passaram a adicionar, em sua carga horária, disciplinas relevantes para enriquecer o currículo e torná-las um diferencial da instituição. A concepção e organização curricular para a Educação Básica segue o Parecer n° 07/2010 da Câmara de Educação Básica e Conselho Nacional da Educação, instâncias vinculadas ao Ministério da Educação. A Portaria especifica que o currículo é um conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção e a socialização de significados no espaço social, e contribuem intensamente para a construção de identidades sociais e culturais.

Assim, certamente muitos especialistas em Educação defendem que temas como empreendedorismo, ética e cidadania, valores, direitos humanos e educação financeira se tornem disciplinas curriculares. Mas enquanto não chega essa determinação oficial, cabe aos gestores incorporarem-nas ou não dentro do seu sistema educacional, porque mais do que preparar para o Enem, a escola atual necessita conectar os conteúdos à dinâmica do mundo.

Na verdade, os conteúdos clássicos não precisam ser determinantes ao currículo, mas ponto de partida para a exploração do saber, preparando os jovens para compreender e transformar a si mesmos. Veja por exemplo a mudança processada sobre o currículo nas escolas de Ensino Fundamental e Médio do Distrito Federal, que as nomeou como Currículo Movimento da Educação Básica. A composição se dá, entre outros, da seguinte forma:

I – Bloco Inicial de Alfabetização (BIA)

II – Sistema semestral por área de conhecimento para Ensino Médio

Este, por sua vez, está assim formatado:

curriculo-escolar2

Essa é uma tendência em discussão junto ao Governo Federal, visando a uma reestruturação do Ensino Médio. Mas muitos outros problemas e opiniões surgirão. Considero a aprendizagem um processo contínuo, focar em cada disciplina é aprofundar conhecimento, porém não está evidente que seja a solução. O novo painel da organização curricular propõe uma articulação interdisciplinar voltada para o desenvolvimento das competências, saberes, valores e práticas. A viabilidade do avanço da qualidade da educação brasileira, lastreado em um currículo consistente, dependerá do compromisso político e profissional, da autonomia das instituições sobre o PPP (Projeto Político Pedagógico), além do respeito às diversidades dos estudantes.

“SUCESSO NA MATEMÁTICA”, BOM EXEMPLO DE INOVAÇÃO

Em sondagem com algumas escolas brasileiras, obtive variações de nomenclatura e adaptação na forma como estão organizando seus horários mediante esses novos desafios. Em Guaratinguetá, por exemplo, o professor de uma instituição criou o programa “Sucesso na Matemática”, com o objetivo de melhorar o aprendizado da disciplina e fazer com que os alunos conheçam sua real importância. O processo é realizado em horário facultativo, mas com muita determinação, ele conseguiu conquistar o interesse dos alunos.

A iniciativa atinge inclusive o Ensino Fundamental I uma vez por semana, em aula de no mínimo 50 minutos, onde o professor polivalente, de acordo com o conteúdo de cada ano, utiliza recursos como jogos, equipamentos multimídia e de informática para trabalhar eventuais dificuldades dos alunos. No ensino fundamental II, o projeto auxilia nos trabalhos pós- -aulas, através de atividades e exercícios resolvidos juntos com o mediador, buscando resgatar o interesse dos alunos na aprendizagem. A aula é de 50 minutos. E no 8º e 9º anos, o projeto consiste em prepará-los desde cedo para o Enem, através de atividades de raciocínio lógico, também em um encontro semanal de 50 minutos.

Em outras escolas, temas significantes têm sido abordados nas aulas de Sociologia e Filosofia do Ensino Médio, para não sobrecarregar a carga horária. Mas tem sido frequente ainda a introdução da Filosofia no Ensino Fundamental I, através de dinâmicas variadas. Também a Educação para a Paz vem compondo o currículo de algumas instituições brasileiras desde que o Brasil lançou, em 1999, a Convocação Nacional pela Educação para a Paz, programa sensível às diretrizes da Unesco e transversal a questões como valores, cidadania e ética.

Outro filão é o empreendedorismo, que salta os olhos dos gestores, são mais de 200 escolas que já o adicionaram em seu currículo como disciplina. Eu mesma já o introduzi no Ensino Médio do Colégio Ômega de Santos e do Guarujá, a fim de obter alguns ganhos para melhorar a qualidade de vida do aluno, a partir do desenvolvimento da autoestima, comunicação, organização pessoal, e, principalmente, da construção de seu projeto de vida, traçando a busca da felicidade e o valor da liberdade.

Para lidar com esse acréscimo curricular, a organização de atividades extras após o horário das aulas regulares tem sido outra opção adotada pelas escolas. Em geral, no horário invertido, são oferecidas aulas relacionadas aos esportes, línguas e informática. Os alunos aderem, pois seus colegas da escola estão juntos nas atividades, facilitando a interação e o prazer. A robótica educacional também ganha espaço, estimulando a criatividade, o desenho e a programação, podendo estar integrada ao cotidiano das pessoas e alinhada aos conteúdos das disciplinas curriculares.

Por Márcia Claro
Márcia Claro é graduada em Pedagogia e Letras, possui MBA em Gestão Escolar pela Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Atualmente cursa especialização em “Ética, Valores e Cidadania na Escola” pelo Programa USP/ Univesp. É mantenedora e diretora do Colégio Ômega, de Ensino Infantil, Fundamental e Médio, localizado em Santos e no Guarujá (Baixada Santista, São Paulo). Atua ainda como palestrante em eventos da área de gestão pedagógica.

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Márcia Claro
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