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Guia para Gestores de Escolas

Conversa com o Gestor — Uso da Tecnologia Educacional forma novo ecossistema de aprendizagem: entrevista com o Centro Educacional Pioneiro

Matéria publicada na edição 90 | Agosto 2013 – ver na edição online
Pesquisa lançada em 2012 revela que a escola é o local em que as crianças e adolescentes mais acessem a internet depois de suas casas. E que 68% dos pais acham pouco ou nada provável que a internet lhes ofereça algum tipo de risco. Não é o caso do Pioneiro, que trabalha para garantir uma relação aberta, mas segura e produtiva, de alunos e professores com os recursos tecnológicos digitais.

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O Centro Educacional Pioneiro, localizado na zona Sul de São Paulo, investe há mais de uma década em sua equipe pedagógica para entender o funcionamento dos recursos tecnológicos de informação e comunicação, de forma a introduzi-los no ecossistema de aprendizagem. Do uso de softwares pagos ou livres, em disciplinas como Matemática e Geografia, por exemplo, à pesquisa na internet, edição de livros impressos, digitais e animados, passando pela produção de vídeos, a instituição cria oportunidades de estudos até mesmo com os próprios equipamentos de uso pessoal dos alunos. É o caso do Ensino Médio, em que é permitido utilizar em sala de aula celulares, notebooks e tablets conectados à rede Wi-Fi, desde que para interagir com a abordagem do professor.

Entretanto, há um preparo constante de toda a comunidade para atuar com a web 2.0, o que inclui professores, alunos, funcionários e pais, através de debates e trabalhos de conscientização promovidos no âmbito do Projeto Internet Segura. Em entrevista à Revista Direcional Escolas, a diretora geral da instituição, Irma Akamine Hiray; o supervisor pedagógico Fernando Isao Kawahara; e Débora Sebriam, especialista em Tecnologia Educacional e responsável pelo Projeto, revelam um pouco do percurso que têm feito para chegar a um ambiente digital seguro e produtivo. Débora atua em um departamento que possui cinco profissionais da área, coordenado por Eva Ono, e é mestre em Engenharia de Mídias para a Educação. Confira abaixo trechos da entrevista, que prossegue nas páginas 15 e 16.

A TECNOLOGIA EDUCACIONAL (TE) NO PROJETO PEDAGÓGICO

Irma Hiray: O Pioneiro é voltado para a formação de um aluno capaz de ser agente transformador da sociedade. Trabalha ainda para o atendimento de uma sociedade nesse contexto de Séc. XXI, e aí não tem como ficar alheio aos recursos tecnológicos disponíveis. A escola possui um departamento de informática [hoje TE] que foi constituído inicialmente por professores da área de Matemática, mas com a visão de utilizar a informática como ferramenta para as aulas. Começou envolvendo a formação da equipe e hoje está totalmente ligado aos projetos pedagógicos, foi um processo crescente.

Fernando Kawahara: Cada vez mais o mundo associado à tecnologia, às várias telas às quais o aluno está exposto o tempo todo, tem que ser incorporado pela escola. Porque se o aluno sabe utilizar esses equipamentos, ele não tem consciência do que significa tudo o que está fazendo. Despertar um pouco dessa consciência é função da escola – falar para que tome cuidado com o que publica nas redes; explicar a diferença entre o espaço público e privado; e mostrar que as ferramentas não são neutras. Esse é um trabalho que estamos desenvolvendo há algum tempo, com os pais também, que têm pouca clareza das implicações sociais dessas tecnologias.

A TECNOLOGIA NO DIA A DIA DA ESCOLA

Débora Sebriam: No Pioneiro, o professor tem autonomia para escolher quando vai usar a TE. O que o departamento tem feito é propiciar várias formações e momentos de debate a ele. Nosso papel não é instrumental. É o de ajudá-lo no planejamento e, inclusive, na mediação da aula, quando necessário.

Fernando Kawahara: Por exemplo, temos utilizado a lousa digital para fazer as correções de Matemática com os alunos das séries iniciais do Fundamental II. Isso faz com que a aula fique mais dinâmica. Mas há outros recursos muito mais sofisticados, como programas de Matemática do Ensino Médio (o SketchUp) em que os alunos projetam construções através de formas geométricas.

Débora Sebriam: São exemplos com a aplicação de softwares, mas partindo do Fundamental II e Ensino Médio usamos também a web 2.0. No EF II eles estão em processo intenso de criação de livros, tanto no meio papel quanto digital. O 6º ano trabalha a recriação de fábulas a partir de roteirização, gravação de áudio e edição de livro animado. Os alunos trabalham muito com a produção de vídeos, mesmo com os celulares, pois a partir do momento em que é solicitado pelo professor, ele pode utilizar o que ele tem no bolso. Todo mundo tem liberdade aqui, mas tem responsabilidade também – trabalhamos isso com os alunos. O Ensino Médio, até pela idade deles, vem mais munido com smartphones, tablets, notebooks. Eles podem ficar com isso aberto durante a aula, navegar na internet para ajudar o professor a buscar alguma informação adicional, e nos trabalhos coletivos interdisciplinares eles usam esses equipamentos para a criação intensiva. No Ensino Fundamental I, poucos trazem celulares, então eles utilizam o laboratório com computadores, onde fazem pesquisas na internet, promovem debates e, através de softwares, recriam algumas obras (como as de Vik Muniz).

PROJETO INTERNET SEGURA

Débora Sebriam: Temos internet aberta para os alunos. As redes sociais não são bloqueadas e os alunos podem acessá-las durante os intervalos. A escola deve intervir caso haja situações anormais, a nossa rede é configurada para bloquear certos tipos de conteúdos, mas não monitoramos os alunos. Temos o Projeto Internet Segura que debate a ética e a cidadania digital abertamente com eles. Ao longo dos últimos dois anos convidamos toda a comunidade escolar para participar de palestras e debates – alunos, professores e familiares. Eles focam em temas centrais do mundo virtual, como compartilhamento de dados pessoais, privacidade, mundo real versus mundo virtual, comportamento nas redes sociais, compartilhamento de imagens e vídeos, videogames e games online, SMS, sexting, cyberbullying e todas as questões levantadas pelo grupo. Elaboramos ainda uma política de uso de nossa página no Facebook, dando orientações às pessoas que desejam interagir conosco.

REDES SOCIAIS

Débora Sebriam: Nossa rede de internet tem filtros de palavras e conteúdos, jamais aqui dentro da escola os alunos vão conseguir acessar alguns sites. Criamos páginas no Twitter e Facebook com o intuito de deixar a comunidade escolar por dentro de tudo o que acontece na escola. Mas tivemos boas conversas por aqui para pensarmos coletivamente como lidar com a relação dos professores e alunos nas redes sociais. Apesar de não haver nenhum tipo de proibição, institucionalmente sugerimos que professores e alunos não sejam “amigos” nesses ambientes. Recomendamos, se houver interesse, que o professor crie um perfil exclusivamente profissional para interagir com os alunos sobre a sua disciplina.

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USO DE CELULARES E RISCOS DE DISPERSÃO

Fernando Kawahara: Com os alunos menores, usamos as plataformas da sala de informática, mais fáceis de controlar. Com os maiores, o controle vai ficando cada vez mais difícil, aí trabalhamos muito com a responsabilização dos alunos. E uma das maneiras de fazer isso é: eles têm ‘x’ tempo para entregar determinado produto. Você não cobra exageradamente na proibição. Em alguns momentos tem que proibir, quando acontece um abuso tem que dar uma sanção. Mas sempre pensando em primeiro trabalhar com eles o uso adequado, para depois, se necessário, uma proibição, às vezes temporária, dependendo do caso. Essas coisas não são novas. A briga que o professor tem para fazer o aluno prestar atenção, se concentrar naquilo que está acontecendo na sala de aula, é a mesma de sempre. Só que agora mudaram os apetrechos, é preciso incorporar em vez de brigar contra. O jogo todo é fazer com que eles saibam usar com responsabilidade esses equipamentos.

SUPORTE À FORMAÇÃO DOCENTE E À REDE FÍSICA

debora-sebrianDébora Sebriam: No começo do ano fazemos levantamento das necessidades de aprendizado do professor, procuramos ouvir todo mundo. Baseado nisso montamos ao longo do ano uma agenda de formação, o que é feito fora do horário de aula e também no final de semestre, ao longo de uma semana. E nossa equipe está à disposição do professor todos os dias. Participamos do planejamento junto com ele, além de oferecer suporte. Ajudamos o professor a pensar a tecnologia dentro do planejamento. Já na parte de infraestrutura, fizemos um estudo para deixar o acesso à internet via Wi- -Fi mais rápido, queremos estruturar um cabeamento melhor, oferecer mais dados para que essas atividades possam ser feitas de maneira cada vez mais efetiva, sem falhas de conexão.

Fernando Kawahara: Essa preocupação toda com a tecnologia e o protagonismo na utilização das mídias digitais está casada com outra preocupação muito grande com a formação, porque muitos professores não foram formados para lidar com esses equipamentos, mas para dar um tipo de aula que hoje já não é mais aquela que a gente precisa. A preocupação é preparar os professores com uma proposta de formação continuada em serviço, anterior à utilização mais intensiva da tecnologia em sala de aula. Pois nosso grande desafio hoje é ensinar o aluno a perguntar, porque as respostas ele encontra com essa oferta fantástica de informações que tem pela internet. Então, o professor já não é mais aquele que sabe as respostas. O professor tem que ser aquele que saiba encaminhar a curiosidade do aluno, fazê-lo elaborar uma boa questão. Esse é um diferencial de formação que a gente vem aplicando para os professores e que é cada vez mais importante, mesmo porque há uma demanda sobre um aluno mais propositivo em relação ao seu aprendizado, que ele saiba não só responder com as informações do professor, mas rearranjar tudo isso.

PERFIL DA ESCOLA / CENTRO EDUCACIONAL PIONEIRO

Localização: Vila Clementino, Zona Sul de São Paulo

Mantenedora: Fundação Instituto Educacional Michie Akama

História: Criado em 1971 pela Fundação, o Pioneiro é uma instituição multiétnica, mas com forte presença de descendentes da comunidade nipônica

Ciclos escolares: Infantil, Fundamental I e II, e Ensino Médio

Regime de aula: Parcial para Infantil e Fundamental I, com opção de horário estendido do Maternal ao 5º ano, além de período extra com monitores no final da tarde e início da noite; Fundamental II: 30 horas semanais; Ensino Médio: Integral

Nº de alunos: 850

Equipe: Com 127 funcionários no total, o Pioneiro possui quadro na área pedagógica com 71 professores, dez coordenadores e cinco profissionais de tecnologia educacional

Mensalidades em 2013: Entre R$ 820,00 (Maternal/ 5 horas) a R$ 1.800,00 (Ensino Médio / Integral) Instalações: Quadras poliesportivas, laboratórios, salas de áudio, biblioteca, sala de artes, de música, multimídia, ambiente de descanso para os pequenos, refeitório, cantina, parque infantil, área de convivência e enfermaria.

Por Rosali Figueiredo

 

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