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Guia para Gestores de Escolas

O paradigma da invenção, segundo Sugata Mitra

O indiano Sugata Mitra ganhou o prêmio TED 2013. Ele começou a realizar, ao final dos anos 1990, experimentos para observar como as crianças poderiam aprender com um computador. Em um bairro pobre de Nova Delhi, ele inseriu, no muro de uma rua, um computador conectado à internet, e o deixou lá, com uma câmara escondida. Ele observou as crianças interagindo com a máquina, aprendendo inglês, pesquisando uma variedade de sites na Web, de ciências e outros tópicos, e ensinando umas às outras. O experimento foi reproduzido em diversas regiões, ao longo dos anos 2000, com diferentes formulações, que desafiavam as crianças a compreenderem a estrutura do DNA e a comunicação entre neurônios, sem que nunca tivessem ouvido falar sobre esses temas. Baseado nessas evidências, ele criou, na Índia, o School in the Cloud, um laboratório de aprendizagem, onde as crianças embarcam em aventuras intelectuais de aprendizagem ao se engajar e se conectar com informações e tutoria online.

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Os pilares do School in The Cloud: Banda larga, colaboração, encorajamento e admiração. Proponho desdobrarmos cada termo da seguinte forma:

– Banda larga: é a condição de inserção cultural do sujeito;

– Colaboração: é o momento de imersão no mundo das informações, representações e símbolos da cultura, e supõe um outro, ou outros, semelhantes, com quem confrontar ideias;

E, por fim, o terceiro momento do processo:

– Encorajamento: este supõe um outro, terceira instância, situado em outra posição, capaz de encorajar e promover o reconhececimento necessário à inscrição da subjetividade no mundo.

Essas seriam as condições para um Self-Organized Learning Environment (SOLE) ao redor da Web. Claro, a palavra “self” costuma gerar equívocos ao ser traduzida por algo como “auto”. Mas, é evidente que não se trata de algo como um “auto-aprendizado”, embora essa conotação esteja sendo veiculada pela grande imprensa. O que os experimentos de Sugata Mitra colocam em xeque é a posição do professor enquanto mestre e detentor do conhecimento. E, a premissa que ele deriva de suas evidências deixará muitos colegas um tanto preocupados. Segundo o cientista indiano, o conhecimento não é mais algo com que as pessoas tenham que se preocupar. O conhecimento está disponível, como uma extensão de nossa mente, na Web. Dessa forma, podemos nos concentrar em atividades criativas, descobrindo formas de aplicar esse conhecimento para melhorar nosso comportamento, nossa sociedade e o mundo.

Além disso, outra premissa deriva de suas evidências: que posição o outro deve ser capaz de sustentar para que o aprendizado ocorra? Ou, em outras palavras, o que o outro deve fazer? A resposta é: nada. Quem terá que fazer é o outro, a criança, o aluno.

Mas, não se iludam: não fazer nada, suportar uma ausência, é difícil. O outro será sempre necessário no interior da relação de aprendizagem, assim como em todo tipo de relação, e, por isso, a palavra é essa que empregados: relação. Além de ser o operador de uma ausência, ele representa uma instância de inscrição e reconhecimento da subjetividade do aluno no mundo, em suma, ao se prestar a que o sujeito legitime sua produção, o outro encontra sua função como operador do pensamento criativo e elemento de ligação da cadeia associativa que une o ser humano ao mundo.

O obstáculo que aparecerá, nessa abordagem, deriva do apego do professor a uma posição que não tem mais espaço no interior das transformações que se anunciam. O professor sempre supôs que tinha algo a dar aos seus alunos, um saber para completá-lo com o que lhe faltava, e, durante um tempo, essa suposição funcionou. Todavia, se o que falta ao aluno não é o que o professor tem para dar? Esse é o núcleo do conflito que se evidencia no campo da educação.

Por Rodrigo Abrantes da Silva*

rodrigo-abrantes*Rodrigo Abrantes da Silva é historiador e professor. Especializou-se em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e atuou como pesquisador do Projeto Análise e do Núcleo de Pesquisas de Psicanálise e Educação (NUPPE) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Edita ainda o blog www.aulaplugada.com.

Mais informações:  [email protected]

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