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Guia para Gestores de Escolas

Alfabetização, Letramento e Biletramento

Por Nina Stocco, do Sproutly – Bilinguismo para Todos

Vamos começar explicando cada um dos termos que, apesar de estarem intimamente conectados, possuem importantes diferenças conceituais entre si.

Primeiro, vamos falar sobre o processo de alfabetização, que está relacionado ao conhecimento do sistema alfabético. A alfabetização é o desenvolvimento da consciência e entendimento a respeito das letras e de seu funcionamento. A criança alfabetizada compreende que, ao juntar letras, consegue produzir sílabas, que, por sua vez, quando unidas, formam palavras. Ou seja, a criança compreende o código alfabeto e é capaz de utilizá-lo mecanicamente, lendo e escrevendo. A alfabetização pode ocorrer em casa com ajuda dos pais ou de alguém que cuide da criança, no entanto, geralmente é na escola onde acontece a instrução formal, a concretização e sistematização da alfabetização.

Agora, vamos definir letramento. Este processo ocorre desde que a criança é bem pequena, geralmente quando ela ainda não está alfabetizada. O letramento é o entendimento de que a leitura e a escrita desempenham funções sociais, presentes nos diferentes ambientes frequentados por ela. A criança começa a perceber que os jornais e livros lidos pelos pais ou irmãos mais velhos, por exemplo, possuem um código, que são diferentes dos desenhos e que querem dizer algo.

Ao testemunhar a mãe ou o pai escrevendo uma lista de supermercado ou respondendo a um email, ela entende que aquele mesmo código está sendo usado para registrar coisas em uma lista ou transmitir mensagens através do computador. O letramento é a compreensão de que a leitura e a escrita estão presentes nos mais diversos âmbitos do cotidiano e que são ferramentas sociais importantes que exercem diversas funções.

O que seria o biletramento, então? Vamos lembrar que a alfabetização acontece apenas uma vez, considerando que a maioria dos idiomas se baseia o sistema alfabético. A letra A, B, ou C continua sendo A, B, ou C independentemente do idioma – em alemão, inglês, francês, ou português elas são as mesmas e formam as mesmas sílabas de acordo com a combinação. Não existe, portanto, bi-alfabetização. Entretanto, existe bi-letramento, uma vez que, ao ser exposta a dois idiomas, a criança é estimulada a compreender o funcionamento de ambas as línguas como ferramenta social, suas especificidades e características. O biletramento está associado ao desenvolvimento de habilidades relacionadas à função social de dois idiomas e com o enriquecimento proporcionado com a ampliação do repertório cultural, social e acadêmico. A criança entende, portanto, como cada idioma é utilizado nas comunidades onde estão presentes, as características específicas de cada um e a forma como são utilizados e interpretados.

Assim, a função da escola e do professor bilíngue é proporcionar, além da alfabetização, ou seja, o conhecimento sobre o sistema alfabético, também a exploração sobre a forma como as duas línguas são utilizadas e suas funções e práticas sociais. Lembrando que uma criança letrada nem sempre está alfabetizada ainda, pois o letramento geralmente acontece antes da fase de alfabetização. O contrário também pode ocorrer, ou seja, uma criança alfabetizada nem sempre é letrada, ou biletrada. Cabe aos profissionais envolvidos com educação bilíngue fazer a ponte entre o letramento ou biletramento e a alfabetização, desde cedo.

Nina Stocco, formada em jornalismo, pedagogia e pós-graduada em psicopedagogia, é mestranda em educação na University of San Diego, na California. Com 15 anos de experiência como professora de inglês em escolas bilíngues no Brasil, especializou-se em aprendizagem e desenvolvimento de línguas e bilinguismo, e seguirá pesquisando a área através de seu projeto de doutorado que iniciará em setembro de 2016. É sócia-diretora do Sproutly – Bilinguismo para Todos. sproutly.com.br[email protected]

 

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