Por Dirce Satika Katayama*
Quando pensamos em igualdade entre os gêneros não podemos pensar somente em como educar as meninas. É necessário refletir no ensino dos meninos também. É preciso ponderar sobre nossas próprias crenças, sobre o quanto ainda somos um reflexo de nossos pais, avós, etc., embora o nosso discurso seja racionalmente diferente.
Cada mãe, como mulher, deve fazer uma analise do quanto suas convicções, conscientes ou não, apoiam a igualdade entre meninos e meninas dentro do próprio lar. Obviamente o pai também deve refletir sobre o assunto e agir de forma igualitária em seu cotidiano. A diferença na criação das garotas em relação ao sexo oposto começa dentro da cabeça dos adultos na família.
Discernir que algumas capacidades e habilidades são preferencialmente masculinas ou femininas, muitas vezes, é plausível. Mas generalizar e dividir tais competências pode fomentar uma desigualdade em termos de identidade enquanto indivíduo. Como situações como essas ocorrem de maneira sutil e involuntária, a questão torna-se ainda mais delicada.
É comum exaltarmos a beleza e a graça da menina e a inteligência do menino. Porém, ao agir assim, estamos enfatizando o aspecto exterior na menina versus o aspecto interior no menino, o que causa confusão, pois uma autoimagem positiva conta com características internas e externas. Elogios verdadeiros são fundamentais, mas precisamos observar se não estamos agindo de forma tendenciosa.
Muitas vezes, cobramos comportamentos diferentes de meninos e meninas e, ao negarmos a expressão da tristeza, medo ou raiva nas crianças estamos ensinando-as que sentir é proibido. O caráter do indivíduo irá se estruturar positivamente quando acolhido ao exteriorizar seus pensamentos e sentimentos e ao ser amado do jeito que é.
Se o filho homem tem regalias na hora de ajudar a organizar a casa, preparar seu próprio lanche ou lavar os pratos que usou, é preciso ficar alerta. Essas são habilidades treináveis em qualquer pessoa, independentemente do gênero. Ao ensinar o menino a ter autonomia na organização da casa, damos-lhe também a liberdade de não depender da mulher para isso.
Quando se fala em empoderamento da mulher, falamos de algo que é um estado interno, uma forma de ser e se sentir. Por mais que se promova a capacitação das mulheres e a igualdade de direitos, por meio de iniciativas voltadas às condições trabalhistas ou sociais, é no aspecto individual ou psicológico que o empoderamento realmente ocorre.
Acima de tudo, o exemplo que os pais são é o terreno no qual a criança irá construir seus sonhos e seu futuro. Pais que vivem com bom humor, senso de responsabilidade, de cidadania, que demonstram carinho e admitem que podem errar, serão excelentes alicerces na formação dos filhos, meninos e meninas.
*Dirce Satika Katayama é instrutora dos treinamentos do Núcleo Ser