A Organização Mundial da Saúde estima que a depressão será um dos piores problemas de saúde global a partir desta década. Essa doença pode alterar o cérebro, tornando os episódios piores ou mais frequentes. Além disso, afeta o corpo e a saúde física, causando fadiga, problemas digestivos, dores e outras complicações relacionadas às más decisões tomadas durante o humor deprimido.
É cada vez mais frequente alunos com transtorno de ansiedade e de depressão, mesmo antes da pandemia. Entre os riscos que podem trazer, estão:
– Dificuldade de aprendizagem: alunos com transtornos emocionais, geralmente, apresentam dificuldade para se concentrar e para assimilar informações ditas pelo professor, o que pode acarretar em uma aprendizagem pouco satisfatória.
– Desistências: é comum que alunos com muita ansiedade ou depressão acabem não atingindo os resultados esperados, o que pode levá-los a desistir de realizar certas atividades. Trabalhos em grupo, por exemplo, podem ser bastante estressantes para alunos com ansiedade. Nesses casos, esses alunos podem começar a tremer, apresentar voz trêmula ou até mesmo perder a voz.
– Isolamento social: muitas pessoas que apresentam transtornos emocionais mostram-se “solitárias” nas escolas. A chamada ansiedade social, na qual o indivíduo teme sentir-se envergonhado, faz com que o aluno evite ser o foco de atenções e exposições.
– Suicídio: há uma grande relação entre transtornos de ansiedade ou depressão e o risco de suicídio. Alunos com esses transtornos devem ser bem observados, e qualquer manifestação de risco deve ser tratada com a devida importância.
É fundamental, portanto, que a escola incentive atividades que ajudem a melhorar o controle emocional dos alunos, gerando o equilíbrio entre a razão e a emoção. Também é importante identificar os alunos que apresentem algum comportamento ou sintoma suspeito, para encaminhar a uma avaliação especializada e iniciar rapidamente o tratamento.
Atenção em relação a qualidade do sono é outro fator relevante. Nas crianças e nos adolescentes, principalmente, o sono influencia no crescimento, na fixação das memórias e no aprendizado, regula a produção de vários hormônios relacionados ao controle emocional e também o controle do peso, entre muitos outros benefícios.
Dormir adequadamente é imprescindível para a manutenção da saúde física e mental. Durante o sono o organismo produz uma série de hormônios fundamentais para reparação de tecidos, crescimento muscular, síntese de proteínas, consolidação da memória – que é peça-chave para a produtividade – e outras funções. Nesse sentido, se é importante para os adultos, porque uma noite mal dormida pode afetar o trabalho profissional, também é essencial para crianças e adolescentes que podem ver o rendimento escolar baixar drasticamente.
O grande problema é que os atrativos como as redes sociais, os games, Netflix, e WhatsApp concorrem diretamente com as preciosas horas de sono que vem sendo sacrificadas, trazendo consigo vários impactos negativos na saúde. Uma noite bem dormida é altamente importante para a manutenção da saúde, pois é durante a noite que fixamos e consolidamos memórias, é quando hormônios importantes para a saúde são liberados como a melatonina e o hormônio do crescimento.
A importância da atividade física é outro ponto que merece atenção. Poucas coisas são tão essenciais para a saúde e o bem-estar como a atividade física. Antigamente as crianças brincavam nas ruas, através de atividades como pique-esconde, futebol, queimado e soltar pipas. Atualmente a preferência da maioria das crianças é assistir televisão e jogos online.
A escola pode ser um ponto de partida para disseminação e implantação desse saudável hábito, mostrando que fazer atividade física na infância e na adolescência impacta na saúde mental, que os exercícios ajudam na prevenção da obesidade, além disso auxiliam no aprimoramento do rendimento escolar, contribuindo para uma boa noite de sono, possibilitando o fortalecimento dos laços entre os alunos.
A recomendação da OMS é que as crianças e adolescentes de 5 a 17 anos devem acumular ao menos 60 minutos diários de atividade física, pois nessa fase que se processa todo o crescimento e desenvolvimento físico do corpo humano.
No que diz respeito a alimentação, as vitaminas e minerais fazem parte de uma cadeia de reações que ocorrem no organismo. Alguns nutrientes específicos fazem parte da formação e manutenção da saúde dos neurônios, as células que compõem o sistema nervoso, e outros formam as células vermelhas, que são responsáveis por levar o oxigênio a todas as células do corpo. Diante disso, a deficiência de tais nutrientes acomete diretamente sistemas importantes do organismo. Levando a diversos problemas: o cansaço mais frequente que impede a criança de brincar com entusiasmo, passando por falta de motivação, e a dificuldade de concentração e de manutenção do foco na hora de aprender ou estudar, devido a lentidão de raciocínio.
Em relação a influência das emoções no ensino, o aprendizado melhora quando os alunos se sentem bem consigo mesmos e com os que se encontram ao seu redor: professores, amigos e equipe escolar. Somos seres integrais, dotados de sentimentos, emoções, pensamentos e experiências, que fazem de nós seres únicos e especiais, e desta forma levamos esta bagagem de vivências e emoções.
As emoções, quando gerenciadas de forma equilibrada e sadia, propiciam aprendizagens benéficas e prazerosas, componentes indispensáveis para o desenvolvimento intelectual e cognitivo de todo aluno.
Nos dias atuais, a população em geral, incluindo crianças e adolescentes, recebem um grande volume de informações, e muitas delas desencontradas e inverídicas, que podem confundir e gerar malefícios. Diante disso, junto com minha esposa, a Dra. Patrícia Friço, escrevemos o livro “Pais Saudáveis = Filhos Saudáveis” (Editora Gente), que visa a orientação de saúde dentro das famílias. Também criamos o Projeto Escola Saudável, destinado aos professores e estudantes do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) da Educação Básica. É baseado em evidências científicas, com o objetivo de ajudar os professores para que ensinem as crianças, os adolescentes e suas famílias a adotarem e manterem hábitos saudáveis, harmonizando alimentação, atividade física, controle emocional e qualidade do sono.
Thanguy Friço é médico e possui pós-graduação em nutrição e fisiologia do exercício pela USP. Atua como professor da Universidade de Vila Velha (ES) ensinando a Medicina do Estilo de Vida. Acredita que a medicina deve ser focada na promoção da saúde, e não apenas no diagnóstico e tratamento de doenças, com o lema é “o melhor tratamento é a prevenção”.