Quando o matemático, educador e professor sul-africano Seymour Papert, do renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, morreu, em 2016, o jornal britânico The Guardian precisou de um longo obituário para relatar todos os avanços que a educação teve nos últimos anos graças às suas ideias. Uma delas, mesmo décadas depois de elaborada, ganhou fôlego recentemente: um esboço do que viria a se chamar Aprendizagem Criativa. “O ato de aprender é mais efetivo quando parte de uma atividade de quem está aprendendo é construir algo que tenha significado”, dizia ele ainda nos anos 1960.
De lá para cá, o argumento permaneceu relevante pelo trabalho de outro professor do MIT, o estadunidense Mitchel Resnick, que moldou a ideia de Papert para as necessidades do século 21 e, com seus estudos sobre o jardim de infância e seu empreendedorismo em diferentes projetos educacionais, se tornou a principal referência do conceito — que ele nomeou posteriormente.
O movimento segue uma ideia central: qualquer tipo de aprendizado, na educação formal ou não, depende de uma dose de criatividade e de colaboração para ter efeito prático na vida de quem aprende.
Para dar forma à Aprendizagem Criativa, Resnick dividiu o movimento em quatro pilares, os chamados 4 P’s: Projetos (projects); Paixão (passion); Pares (peers); e Pensar brincando (play). Essa fórmula cria o ambiente ideal para um aprendizado prático, com significado. Alguns educadores salientam que a Aprendizagem Criativa é parte de um projeto global de melhorar o nível educacional hoje para, com pessoas mais qualificadas, construir um desenvolvimento econômico no futuro.
Nas escolas inglesas, por exemplo, atividades que estimulam a criatividade são um dos pilares do currículo nacional básico. Já nos Estados Unidos existem escolas, como a Brightworks, situada em São Francisco, onde as paredes de um sistema tradicional de ensino deram lugar a livres espaços de experimentação e práticas hands on, em que as crianças são convidadas a serem co-autoras de sua educação.
Espaço maker
No Brasil, a Fundação Lemann e o MIT Media Lab se uniram em 2015 para fundar a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, que identifica projetos alinhados com o movimento e coordena discussões e projetos conjuntos. A iniciativa conta com mais de 2 mil educadores, empreendedores e demais interessados pelo tema. O país já conta com 16 núcleos regionais, e só o de São Paulo possui cerca de 400 integrantes.
Um exemplo de projeto em execução no Brasil é a Little Maker, de Americana, cidade do interior de São Paulo. Trata-se de uma metodologia que leva a Aprendizagem Criativa para as escolas. Por meio de um programa instigante e inquisitivo, o programa transforma um espaço Maker (ou “mão na massa”) em um ambiente rico em exploração, colaboração e aprendizado significativo, integrando as competências do currículo escolar enquanto os alunos constroem seus projetos. Toda a dinâmica respeita os princípios da Aprendizagem Criativa de livre escolha de ideias, ferramentas e materiais.
“Ajudamos escolas e professores a levar a Aprendizagem Criativa para dentro da sala de aula, estimulando competências cognitivas e socioemocionais dos estudantes durante o processo de aprendizagem. Essa metodologia criativa, ‘mão na massa’ e colaborativa ajuda a sedimentar atitudes e valores, despertando no aluno o prazer em aprender”, diz Diego Thuler, fundador da Little Maker.