Elen C. de O. F. Ferraz
(Faculdade Pitágoras – Pós-Graduação
elen.ferraz@yahoo.com.br)
RESUMO
Este trabalho pretende apresentar como objeto de análise as práticas pedagógicas e a análise da cultura organizacionalda E.M.E.F.M.S. , localizada em Sorocaba-SP, uma instituição pública em atividades educacionais desde 1990. Para esse estudo, elegemos os anos de 2010 e 2011. A análise se desenvolveu, por meio de perspectivas que se entrelaçam ao longo do trabalho: caracterização da escola com apresentação do perfil, abordagem do diagnóstico da realidade escolar e caracterização dos atores e análise da cultura organizacional existente. Essa pesquisa permite-nos desvelar a realidade complexa e dinâmica da escola, mostrando alguns elementos da cultura escolar e as finalidades que as produzem, sejam elas, políticas, sociais, econômicas, religiosas ou de socialização, bem como os sujeitos que as elaboram ou dela participam, como atores ou espectadores, que também as transformam e, por elas são transformados. Desse modo, o olhar histórico no universo escolar possibilita-nos revisitar o passado, construir interpretações, explicações e entender a escola por dentro. Palavras-chave: Escola Pública Municipal; Práticas Pedagógicas; Cultura Organizacional; Cultura Escolar.
ABSTRACT
This work aims to present as an object of analysis the pedagogical practices and the analysis of the organizational culture of M. S. E. F. M. S., located in Sorocaba-SP, a public institution in Educational activities since 1990. For this study, we have chosen the years 2010 and 2011. The analysis was developed, through perspectives are interwoven throughout the work: characterization of school with profile presentation, diagnostic approach of school reality and characterization of the actors; analysis of the existing organizational culture. This research allows us to reveal the complex and dynamic reality of school, showing some elements of school culture and the purposes that produce, be they political, social, economic, religious or social, as well as the subjects that the elaborate or her participating, as actors or spectators, who also transformed and, for they are transformed. Thus, the historical look at school universe allows us to revisit the past, build interpretations, explanations and understand the school inside. Keywords: Municipal Public School; Pedagogical Practices; Organizational Culture; School Culture
- INTRODUÇÃO
Uma escola não é um conjunto de salas de aula onde os professores são individualmente responsáveis pela prática pedagógica nela desenvolvida. Constitui-se uma entidade sociocultural formada por grupos que vivenciam códigos e sistemas de ação num processo que faz dela, ao mesmo tempo, produto e instrumento cultural.
A escola constitui um organismo social vivo e dinâmico. Além da estrutura burocrática que a compõe, possui uma constituição cultural e simbólica que lhe confere vida própria. Estas singularidades lhe permite responder às demandas e limitações que lhe são impostas pelo meio (CÂNDIDO, 1977). Essa constituição é tecida por uma rede de significados (GEERTZ, 1989), que se encarrega de criar os elos que ligam passado e presente, instituído e instituinte, onde se estabelecem as bases de um processo de construção e reconstrução permanente. Neste estudo, buscamos no âmbito interno da unidade escolar, os elementos impostos pelo sistema, as bases históricas e materiais que foram se consolidando ao longo do tempo, ou seja, as bases “constituídas”. Sobre elas se assentam a dinâmica da reconstrução permanente exercida pelos processos administrativos e pedagógicos da instituição. O objeto de análise nesse estudo são as práticas pedagógicas e a cultura escolar da E. M. E. F. M. S. localizada no município de Sorocaba-SP, uma instituição pública, com atividades educacionais desde 1990.
- CULTURA ESCOLAR E CULTURA ORGANIZACIONAL
Para Chervel (1990), a cultura escolar não forma somente os indivíduos frequentadores da escola, mas penetra, molda e modifica a cultura da sociedade global. O mesmo autor diz, de forma incisiva, que a instituição educativa não é mera reprodutora de conhecimentos eleitos como relevantes para determinada sociedade, e por ser criativa, produz uma cultura específica, singular, e original que se alarga por toda a sociedade.
Viñao Frago (1995, 2000) também contribuiu para o nosso entendimento e análise sobre a cultura escolar à medida que assegura que a cultura escolar diz respeito as formas de organização, valores, saberes, estratégias e diferentes práticas estabelecidas e compartilhadas, no interior das escolas por todos os sujeitos envolvidos nas atividades específicas de natureza escolar realizadas por alunos, professores, outros profissionais da escola e a comunidade.
Buscamos entender, como os sujeitos escolares produzem a cultura escolar, ao mesmo tempo, como as culturas escolares produzem os sujeitos que dela fazem parte. De acordo com Vincent, Lahire e Thin (2001), a escola ou a forma escolar de socialização, são as responsáveis por transformações sociais, culturais e políticas, tendo papel relevante na produção de sujeitos sociais tanto no interior da escola como fora dela.
Cultura Organizacional representa o sistema de comportamentos, normas e valores sociais (padrões de referência que influenciam a forma como as pessoas agem e avaliam os acontecimentos) aceitos e partilhados por todos os membros da organização e que de certa forma a tornam única. É, portanto, um conjunto de características próprias que permite distinguir a organização de todas as outras. Corresponde ao que representa a personalidade no indivíduo e transmite a forma como os membros da organização se comportam de acordo com o sistema de valores vigente.
Para Leonor Cordeiro Brandão (2011), ao falarmos de cultura estamos nos referindo no sentido popular, `a forma de ser e de fazer de um determinado lugar, e que, por intermédio da cultura de uma organização, os colaboradores entendem quais são os comportamentos ou atitudes aceitas e quais são inaceitáveis.Entendemos cultura como um complexo que inclui conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos, que segundo Tylor (1887) inclui as aptidões adquiridas pelo homem como membro de uma sociedade.
Cultura de uma sociedade, conforme a proposta de Linton (1936) seria entendido, como uma soma de reações emocionais, condicionadas a padrões de comportamento habitual que seus membros adquirem por meio da instrução uo imitação e de que todos, em maior ou menor grau, participam.
Pode se dizer que cultura organizacional é, na definição de Mendes (1996) um grande sistema de valores compartilhados pelos seus membros, em todos os níveis, que diferencia uma organização das demais. Em última análise, trata-se de um conjunto de características-chave que a organização valoriza, compartilha e utiliza para atingir seus objetivos e adquirir a imortalidade. Como se a cultura organizacional onde você está inserido fosse representada pela forma como os colaboradores em geral percebem as características da cultura da empresa. Ele afirma que se a empresa onde você trabalha possui valores essenciais bem definidos e amplamente compartilhados, maior o impacto positivo das lideranças sobre o comportamento dos funcionários e, portanto, menor a rotatividade. Isso é o que se pode chamar de cultura organizacional forte. No entanto, quando os valores essenciais estão equivocados e se chocam com os valores adotados pela maioria, menor o grau de comprometimento para com eles e maior a probabilidade de a empresa sumir do mapa em uma ou duas gerações. Isso é o que se pode chamar de cultura organizacional fraca.
- ELEMENTOS QUE CONSTITUEM A CULTURA ORGANIZACIONAL
Segundo Fleury (1993), alguns estudos apontam para as estratégias de mudanças organizacionais e seus reflexos sobre a cultura das empresas.
Dentre esses estudos, em Freitas (1991) encontramos que descrição dos elementos que constituem a cultura organizacional, a forma como eles funcionam e ainda as mudanças que eles provocam no comportamento são modos de dar ao assunto um tratamento mais concreto e de mais fácil identificação. Ela aponta que os principais elementos para identificar a cultura organizacional são valores, crenças e pressupostos, ritos, rituais e cerimônias, estórias e mitos, tabus, heróis, normas e processo de comunicação.
De acordo com Freitas (1991), esses elementos fazem com que, no início, a cultura se torne uma competência marcada, uma fonte de identificação, uma espécie de argamassa que mantém os membros unidos.
Surgem então subculturas, crises de identidade, valores e pressupostos que são oportunidade para mudanças culturais. Entretanto, Fleury (1993) afirma que a tendência geral, na maioria das organizações, é a da preservação da cultura, ou seja, procura-se resolver os problemas que surgem de acordo com os padrões culturais vigentes.
Para formar o coração da cultura organizacional, Freitas (1991) ressalta a importância dos valores e definir sucesso em termos concretos para os empregados e estabelecer os padrões que devem ser alcançados. Representam a essência da filosofia da organização para o alcance do sucesso, pois fornecem um senso de direção comum para todos os empregados e um guia para o comportamento diário.
Conforme Tomei & Braunstain (1993), a cultura pode ser dividida em três grupos: a cultura subjetiva como crenças e valores (no que se acredita), a cultura subjetiva como significados (como interpretar as coisas) e a cultura subjetiva como entendimento (como as coisas são feitas). Essas definições falam sobre os principais elementos da cultura organizacional, e esses elementos fornecem base para todos os membros da organização.
Freitas (1991), detalha os principais elementos da cultura como apresentado a seguir:
- Valores: os valores são construídos principalmente, pela cúpula e estão amarrados aos objetivos organizacionais, representam o coração da cultura, e dizem o que é importante para se atingir o sucesso. No desenho da organização os valores indicam as questões que são prioritárias para a organização, determinam também os níveis hierárquicos e as relações entre seus membros além de exercer um importante papel em comunicar ao mundo exterior o que se pode esperar da companhia;
- Ritos, rituais e cerimônias: São atividades planejadas que têm consequências práticas e expressivas, tornando a cultura mais tangível e coesa. Os ritos e cerimônias tornam expressiva a cultura à medida que comunicam comportamentos e procedimentos, e exercem influência visível e penetrante, pois promovem a integração dos membros da organização;
- Estórias e mitos: As estórias narram os eventos ocorridos, reforçam o comportamento existente e enfatizam como esse comportamento se ajusta ao ambiente organizacional. Os mitos se referem a estórias consistentes com os valores da organização, porém, não sustentadas em fatos;
- Normas: As normas são regras que defendem o comportamento que é esperado, aceito ou sancionado pelo grupo;
- Processo de comunicação: Os processos de comunicação incluem uma rede de relações e papéis informais, que podem transformar as relações corriqueiras.
As culturas são sustentadas, transmitidas e mudadas através da interação social, atividades baseadas nas trocas de mensagens e na definição de significados. Saber sobreviver e crescer é um processo de autoaperfeiçoamento contínuo que deve ser aprendido, estimulado e ensinado. Quando a existência da empresa está em jogo ocorre uma suspensão temporária da resistência cultural e os esforços se unem em uma denominada lealdade negativa à organização.
- ANÁLISE DOS ELEMENTOS QUE CONSTITUEM A CULTURA ORGANIZACIONAL EXISTENTE
Nossa análise se fundamenta nos elementos que constituem a cultura organizacional.
Iniciamos buscando compreender os motivos que levam os pais a matricularem seus filhos na instituição que julgam ser ideal para sua educação. A distinção feita por eles, entre instituições com características semelhantes, seja no que se referem à classe social, escolaridade ou outros, se afirma na identificação em relação aos próprios membros desta instituição, alunos, pais e comunidades em geral. Também nos propomos a analisar quais os motivos que levam os pais a despenderem o dinheiro de um transporte particular para seus filhos (van ou peruas escolares) já que em seu bairro há a oferta do ensino apresentado por esta Unidade Escolar, possibilitando o não deslocamento do aluno.
Um dos critérios que se adequa aqui é a escolha pela confiança e credibilidade do ensino que a instituição oferece e isto pode ser um diferencial, quando o pai, ou responsável se identifica com os objetivos da instituição.
Quando a cultura se fortalece, não se pensa no que é melhor apenas para um ou outro aluno, mas para todos os que fazem parte desse universo. Para uma educação de melhor qualidade é necessário sensibilidade para perceber o que cada um necessita e assim contribuir com o seu melhor. Quando isso ocorre, podemos dizer que o aluno deixa de ser de um professor ou professora e passa a ser da escola, a dificuldade de um passa a ser a dificuldade de todos e o grupo passa a procurar caminhos coletivamente para uma questão que poderia ser observada de forma isolada e os pais percebem essa mudança de postura.
Podemos destacar alguns valores presentes em nossa instituição como a Educação Centrada na Aprendizagem, Melhoramento Contínuo, Foco no Futuro, Responsabilidade Pública e Cidadania e Agilidade.
A educação é centrada na aprendizagem e para isso são desenvolvidas sequências didáticas visando o melhor desenvolvimento de cada turma, fazendo adequações, recuperando paralelamente os alunos com mais dificuldade em aprendizagem, conversando com os pais e responsáveis, quando necessário oferecendo encaminhamentos a especialistas como fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais entre outros.
Neste processo os alunos interagem com a própria produção de seu conhecimento, melhorando as práticas da classe e tendo feedbacks de sua atuação enquanto sua aprendizagem e atuação, o que aumenta a concentração nas tarefas e eficácia do trabalho escolar. Um exemplo claro disto são as classes da Oficina do Saber, da Escola em Tempo Integral, que desenvolvem o trabalho com a “centopeia do saber”, no processo de avaliação e autoavaliação, que faz com que todos passem a rever seus comportamentos e aprendizagem e que todos os avanços são acompanhados e celebrados coletivamente.
Para garantir uma Educação Centrada na Aprendizagem, procuramos atender as suas necessidades de modo geral. Nesse ano, por exemplo, tivemos uma grande procura por crianças com necessidades especiais, não só por termos salas de Atendimento Educacional Especializado (que oferece até atendimento a alunos portadores de necessidade especiais), mas também pela iniciativa e crédito dos pais. Os alunos em seu convívio se tornam mais solidários, participativos, interagem e aprendem melhor. Todo esse processo faz intensificar o compromisso pessoal de cada um em relação à organização como um todo e a coerência na forma como o trabalho é desenvolvido se mostra de claramente.
Este Melhoramento Contínuo procura formas diferentes de se atingir os objetivos propostos de formas mais eficaz e eficiente. Desta forma indagamos “se a escola está boa, o que eu posso fazer para ela ficar melhor? ” , “o que o grupo pode fazer para melhorar e como posso contribuir neste processo?”.
O Foco no Futuro que retrata o compromisso que a U.E. assume com sua comunidade, funcionários ,alunos e professores, onde são objetivados fatores de curto e longo prazo, tanto para nossos alunos no ano que vem como daqui a cinco anos. O que a instituição fará para que isso se torne uma realidade, não se baseia em tendência ou modismos e sim no que faz sentido para o grupo, onde queremos chegar, quando e o que faremos para atingir esta meta.
O valor Responsabilidade Pública e Cidadania inclui questões como ética nas discussões seja na vivência de sala de aula, seja para promover a segurança dentro da instituição, seja nas reuniões de Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPCs), Reuniões de Avaliação Ensino Aprendizagem (RAEA), Reuniões de Equipe (RE), Reuniões de Conselho de Escola (RCE), Reuniões de Conselho Classe Série Ano Termo (CCSAT) ou atendendo a questões importantes da comunidade em seu entorno.
Muitas vezes é importante, se não fundamental que a escola lidere iniciativas para o bem. Uma delas aconteceu no ano de 2.009, quando muitos alunos possuíam vale transporte, porém vinham para a escola andando, devido ao vale transporte ser usado por familiares e responsáveis e os motoristas não permitirem o acesso ao ônibus circular sem o pagamento da passagem. Uma ação da U.E. foi atuar junto a PMS para que o transporte ocorresse através de ônibus escolar para que os alunos realmente tivessem seu transporte garantido até a escola, proporcionando assim segurança ao educando.
Outro exemplo dessa iniciativa se dá quando a Equipe de Liderança entra em contato com Pronto- Atendimentos, Assistentes Sociais e Conselhos Tutelares para que diversos órgãos desenvolvam trabalhos de apoio com as famílias para que sejam garantidos aos alunos seus direitos ao estudo, saúde e dignidade humana.
Em nossa U.E., Responsabilidade Pública é um valor que também se ensina, não só com os projetos de Meio Ambiente desenvolvidos nas aulas da Oficina do Saber (Escola de Tempo Integral), mas também na prática com atividade desenvolvida através do Mega Plantio que ocorreu no dia sete de junho deste ano, no bairro vizinho, onde todas as salas do período da manhã puderam participar e vivenciar que um mundo melhor depende de todos nós.
Agilidade também se aprende apesar de muitas pessoas acreditarem que este valor é só mais uma neurose do mundo moderno e, que em educação, só temos resultados em longo prazo. Ser ágil não é fazer de qualquer forma, é fazer o melhor em menor tempo, a fim de conseguir desenvolver o maior número de habilidades possíveis de forma adequada. Para isso os professores envolvidos trabalham avaliando continuamente os seus alunos e o próprio processo de aprendizagem, como todos os setores da instituição, que passam por reuniões periódicas. Neste valor deve-se buscar um feedback positivo que deve ocorrer sempre e o mais rápido possível. Nas salas de aulas quando os professores aplicam avaliações o retorno deve ser o mais breve, para que as dificuldades possam ser sanadas e o processo possa ser redirecionado para que a meta seja atingida com o grupo.
Ao tratarmos de funcionários, há a necessidade de intervenções pontuais e não apenas por reuniões de setor, sempre com agilidade para que uma dificuldade de entendimento não se transforme em um problema difícil de ser resolvido futuramente. Muitas vezes a simplicidade consegue ser um bom caminho para nos tornarmos mais ágeis.
Para sair e entrar na escola há um portão de acesso que normalmente está fechado, exceto no momento de embarque e desembarque dos ônibus devido ao alto fluxo de crianças, mas, nesses momentos, sempre há um inspetor de apoio no corredor que dá acesso a entrada. Infelizmente a U.E. não possui um guarda fixo embora seja uma solicitação constante realizada pelos familiares para aumentar a segurança da escola, porém temos rondas periódicas da Guarda Municipal e Guarda Militar, que prestam apoio neste critério. A família sempre é contatada quando alguém deseja retirar algum menor que não esteja listado, para conferir se há consentimento ou não. Todos os bilhetes enviados por pais no que se refere a saída antecipada são confirmados por telefone
No que se refere à questão segurança e confiança no trabalho pedagógico também sentimos este fator pela lista de espera de alunos que desejam participar da Oficina do Saber (Escola em Tempo Integral). Como vários pais que trabalham e acreditam que o lugar mais seguro para seus filhos ficarem é na escola, onde os alunos estão protegidos e podem “aprender coisas boas”.
Há a crença no diálogo como um caminho para a não violência. Tanto os pais, quanto os alunos acreditam que uma boa conversa é o melhor caminho, pois mesmo quando os alunos se envolvem em brigas ao serem questionados, eles informam que estavam errados e que o procedimento para resolver o problema era procurar um adulto que estivesse próximo para intermediar a questão sem usar a força.
Outro pressuposto é de que a escola é pública, portanto cabe ao município fornecer o material escolar. Todo ano o material escolar é fornecido aos alunos da rede municipal, para isso eles recebem o kit escolar. Esse kit é enviado uma vez no ano, cabendo aos responsáveis completá-lo com materiais, a medida em que forem acabando. Isto nem sempre acontece, e cabe à escola encontrar meios e disponibilizar materiais como: lápis, borracha, cadernos que são enviados as salas de aula para uso coletivo.
Em relação às normas, possuímos o Regimento Escolar, alinhado às Diretrizes da SEDU, onde se encontram direitos e deveres que orientam nosso trabalho como instituição, tendo características que se adaptam a faixa etária que atendemos. O mesmo está disponível e acessível à pesquisa dos pais, quando estes o desejarem.
Nas salas de aula são realizados os combinados para o convívio harmonioso entre todos, o que normalmente ocorre já no início do ano e sofre modificações de acordo com a necessidade do grupo. Estes combinados são conversados e discutidos sendo eleito o que fizer mais sentido para aquela sala. Alguns pontos dos combinados são muitos parecidos entre as salas como, por exemplo: aguardar o colega falar, respeitar os colegas e professores, enquanto outros se adéquam a realidade de cada sala de acordo com suas necessidades.
Há normas específicas para o uso de espaços como nunca entrar na sala de informática comendo alimentos, aguardar a vez para ser atendido na secretaria, entre outros.
Quando pensamos nas atividades planejadas que têm consequências práticas expressivas, tornando a cultura mais tangível e coesa, os ritos e cerimônias comunicam comportamentos e procedimentos de uma organização. Um exemplo de rito que ocorre em todas as escolas municipais é o Ponte Suave. É um rito de passagem e de preparação dos alunos das 4ª séries para terem prosseguimento em seus estudos para outra escola na qual irão continuar a 5ª série. Neste processo são contatados os professores e liderança da outra unidade que chamamos de unidade de destino que irá acolher nossos alunos. Neste nosso caso a Escola Estadual “Jordina do Amaral” é nossa escola de destino ocorrendo assim troca de informações importantes para ambas as escolas preparando uma melhor adaptação do aluno.
Também desenvolvemos um rito denominado Vinda Suave, que se dá entre nossa escola e o Centro de Educação Infantil nᵒ 79 de período integral. Planejamos atividades práticas com os alunos de 2ᵃ Etapa que no ano seguinte cursarão o Primeiro Ano Fundamental em nossa escola.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto cada vez mais amplo da globalização da cultura e dos diversos direitos cívicos incluímos a convivência interpessoal. Independentemente de qual possa ser o sistema educativo ideal, tem-se verificado, ao longo dos séculos, que a educação dos cidadãos é essencial à realização pessoal e coletiva das sociedades minimamente organizadas.
A educação vai muito mais além do que a simples e quantas vezes enganadora propaganda demagógica, porque ela deve ser entendida como um desígnio nacional que todos, sem exceção, devem ajudar a concretizar. O mundo moderno, que se pretende civilizado e democrático, quaisquer que sejam os instrumentos constitucionais em que uma determinada sociedade se constitua, tolera cada vez menos as práticas ditatoriais e, nesse sentido, implementam medidas educativas, formativas e cívicas que, gradualmente, incutam um novo conceito de cidadania. Na base de tais estratégias e para lhes dar a credibilidade e eficácia, encontra-se a escola no seu papel insubstituível de educar, formar, e instruir. Naturalmente que não se pode ignorar a força, legitimidade e competências do poder político, legal e democraticamente constituído, ao qual compete, em primeira instância, enquanto legislador e executor, traçar os objetivos proporcionar os meios e acompanhar todo o processo educativo.
Em nosso projeto de educação e formação para a cidadania plena, tão importantes como o conceito, o currículo, os objetivos e os resultados, é o desenvolvimento pessoal, social e cultural, na perspectiva da construção e consolidação da personalidade do cidadão, respeitando, tanto quanto possível, a vocação própria do indivíduo, face ao que a sociedade democrática exige.
Parece ser necessário lembrar que cada pessoa tem características específicas, qualidades inatas, predisposição para certas tarefas, habilidades latentes que, através da aplicação do projeto educativo adequado, podem ser potenciadas e rentabilizadas a favor do próprio, enquanto satisfação individual e alimento da autoestima, como também em benefício da comunidade que, num dado domínio, pode assistir à resolução de problemas e situações mais difíceis.
Buscamos atingir o sucesso na aposta da escola multicultural que depende em primeira análise de todos interiorizarem as vantagens de uma educação que promova e facilite o relacionamento exemplar entre indivíduos de culturas diversas, para o que se pressupõem competências, atitudes e abertura para conviver com situações diferentes das que eram habituais.
Ferreira, nisto nos auxilia e diz que “a competência multicultural diz respeito à ausência de preconceitos raciais ou culturais e conhecimento de características de diferentes grupos raciais. Implicitamente, inclui também uma consciência cultural, que diz respeito a um indivíduo reconhecer que a forma como percebe a realidade não é universal e que difere profundamente da percepção que dela têm indivíduos pertencentes a outras nações ou grupos étnicos” (2003,140).
No exercício da cidadania plena, liberdade e autonomia são dois valores essenciais à dignidade da pessoa humana e, qualquer deles, entre muitos outros possíveis e igualmente fundamentais, não só devem ser divulgados e estudados, como também, exercidos plenamente.
Visando atender as exigências da nova sociedade e das organizações em geral é imprescindível que o indivíduo tenha um papel participativo no caminho que pretende seguir especialmente neste conjunto de características e valores próprios onde poderemos distinguir nossa organização de todas as outras para a cada dia, fortalecermos e vivificarmos a cultura organizacional de nossa escola.
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