Estudo da história e cultura afro-brasileira deve fazer parte da grade curricular das instituições de educação do país; Temática é exigida por lei e tem o intuito de desconstruir preconceitos dos alunos e formar cidadãos
Com o objetivo de contribuir com a educação e respeito a outras culturas, o Colégio Franciscano Pio XII propõe aulas sobre a cultura afro-brasileira aos alunos do Ensino Médio. Desde a década de 70, quando foi descoberta a data da morte de Zumbi – líder do Quilombo dos Palmares –, até a redemocratização do Brasil e a promulgação da Constituição de 1988, uma série de acontecimentos marcou a história do povo africano. O Movimento Negro, como era conhecido, ganhou mais espaço nas discussões sociais, econômicas e políticas. Foram criadas leis, como a do preconceito e raça; de cotas raciais e, especificamente, na área da educação básica, o ensino da história que retrata as raízes afro-descendentes do povo brasileiro tornou-se obrigatório em 2003 (Lei 10.639) a partir da luta histórica da população negra no Brasil – legislações que auxiliam na igualdade racial do país, na defesa de direitos étnicos e no combate à discriminação.
Desde 2014 são ministradas aulas sobre a cultura afro-brasileira no Colégio Pio XII, pelo professor Paulo Edison, nas disciplinas de sociologia – No 2º bimestre da 1ª série do Ensino Médio, dentro do tema “A formação do povo brasileiro” – e nos 1ºˢ e 2ºˢ bimestres da 3ª série com tema “Raça e etnia: políticas públicas de ações afirmativas”.
De acordo com o educador da disciplina, aproximadamente 50% da população brasileira é afro-brasileira, segundo o IBGE. Porém, a história oficial, bem como as disciplinas, não abordava as contribuições dos negros no Brasil. Quando eram citados, relatavam apenas seu passado de escravidão, ignorando seus conhecimentos e contribuições, os heróis e as heroínas e a resistência à escravidão. “A lei regulamenta a Constituição que versa sobre a igualdade entre todos os cidadãos e contribui para a implementação dos direitos humanos e a alteridade, sobretudo no espaço escolar, instituição responsável por preparar o jovem para a vida cidadã e o desenvolvimento pleno”, explica.
Na sala de aula, o tema é introduzido em três etapas. Em um primeiro momento, os alunos são sensibilizados com o filme de ficção “Vista minha pele”, onde os brancos foram escravizados, a Europa é pobre e a África é rica, seguido de dados de violência e preconceito no Brasil e os exemplos da história oficial preconceituosa. No segundo momento, eles fazem pesquisa e debates sobre como o preconceito se manifesta. “Na terceira etapa, problematizo o porquê de não se falar dos intelectuais, heróis e os conhecimentos dos afro-brasileiros. Por fim, chegamos às políticas públicas de ações afirmativas para compreender sobre como funciona e sua importância. Posso dizer que, no final do bimestre, os alunos ficam impressionados”, relata o professor Paulo, responsável pela aula.
De acordo com o educador, a escola deve possibilitar a discussão na área, trazer profissionais para falar sobre o tema, propor um projeto interdisciplinar numa série e solicitar que seja trabalhado com livros paradidáticos em algumas disciplinas. “Percebo que o maior impacto nos estudantes sobre o ensino desse tema é a desconstrução do preconceito, o reconhecimento que existe discriminação e a necessidade de combatê-lo”, explica, ressaltando que o maior resultado é provocar os alunos para a investigação científica e sensibilizá-los para os temas sociais. “Ao final do bimestre, eles trazem notícias sobre o tema, o que demonstra que estão mobilizados para refletir sobre a temática e que estão atentos à violação de direitos”, finaliza.
Apresentação do projeto em Cuba
O professor Paulo Edison viajou a (Havana) Cuba no mês de outubro para apresentar no Congresso de Leitura e Escrita um trabalho sobre o ensino da lei 10.639/2003 no currículo de Ciências Humanas. “No projeto de pesquisa que tenho realizado, os dados demonstram a dificuldade de implementação desta lei. Acredito que com esta exposição em um importante evento de educação, fora do Brasil, é extremamente importante para que conheçam nossa identidade e origem”, conclui.
Sobre o Colégio Franciscano Pio XII
O Colégio Franciscano Pio XII foi fundado em 1954 com o compromisso educacional conduzido pela filosofia franciscana. Há mais de 60 anos forma gerações com o diferencial de educação em constante diálogo entre o conhecimento acadêmico e a formação humana, entendendo o educando como agente de transformação social, que atua em prol do fortalecimento de um mundo justo e fraterno.