Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação
Todo o sistema educacional atravessou densas e significativas reestruturações no último ano. Na esteira das mudanças, os processos avaliativos de ensino e aprendizagem, bem como as suas lacunas e possíveis resoluções, encontraram alguns desafios, sobretudo no ensino remoto e/ou na metodologia híbrida. Nesse sentido, este especial da Conversa com o Gestor amplia as reflexões acerca das avaliações de aprendizagens que emergem no começo do ano letivo de 2021
Refletindo sobre as novas configurações e dinâmicas nos processos – e nas relações – entre ensino e aprendizado, sobretudo no atual momento de pandemia que atravessamos, um dos desafios da educação em 2021 será, de certa forma, as avaliações de aprendizagens, bem como o diagnóstico e as resoluções de possíveis lacunas que se instauraram tanto no ensino totalmente remoto como na metodologia híbrida.
Nesse sentido, para ampliar o olhar e adensar as discussões sobre o assunto, reunimos gerentes, diretores/as, coordenadores/as, empresários do setor e especialistas em avaliações para responder o seguinte questionamento: Diante de tantas mudanças que atravessamos nos últimos meses com a pandemia, como realizar avaliações do desenvolvimento escolar, os níveis de aprendizagens, os testes de desempenho escolar e os diagnósticos das dificuldades de aprendizagens nesse período?
“Um dos grandes ganhos da adoção de tecnologias no ensino remoto é a possibilidade do registro de várias etapas, por meio de mídias e instrumentos de avaliação, que dão visibilidade ao desempenho dos alunos e permitem a verificação de evidências da aprendizagem ao longo desse processo. No Ensino Médio Técnico do Senac São Paulo, trabalhamos com uma metodologia baseada em projetos desenvolvidos de maneira colaborativa em grupos maiores, onde os professores estabelecem propostas que geram registros individuais e evidências para o acompanhamento da evolução de cada aluno, além da diversificação das atividades e formatos de entrega, que proporcionam várias oportunidades de estudo como, por exemplo, execuções de vídeos, arquivos de áudio, portfólios digitais, postagens em redes sociais e mapas conceituais, tendo o aluno sempre como protagonista.
O estudante tem papel ativo em seu processo de aprendizagem e isso inclui o acompanhamento de sua evolução, momentos de autoavaliação e de avaliação entre pares, assim como de feedback por parte do professor, que são essenciais para a construção contínua e reguladora de avaliação que transcende a mera realização de tarefas. Além disso, tendo em vista o contexto da pandemia, o Senac São Paulo aprovou um plano de ação que prevê o resgate individual dos conhecimentos necessários para o desenvolvimento das competências previstas no Ensino Médio Técnico, tanto em ações presenciais quanto on-line, onde cada aluno terá um plano elaborado em conjunto com professores e coordenadores pedagógicos.”
Melina Sanjar – Gerente de Desenvolvimento no Senac São Paulo
“Primeiramente, temos que entender os tipos de avaliação e qual é a sua função. No Colégio Mater Dei utilizamos a avaliação processual, também chamada de ‘formativa’ ou ‘contínua’, pois consideramos o processo avaliativo uma forma de identificar as fragilidades e potencialidades de cada aluno, para que possamos replanejar e preparar novas formas de aprendizagem de acordo com a necessidade de cada um deles. Essa avaliação pode ser em formato de atividades individuais, em grupo, mapa mental, pesquisa, projetos, etc., desde que sejam avaliadas habilidades e competências e não apenas conteúdo. Com esse tipo de avaliação, em que o aluno tem que compreender, analisar, aplicar, criar, etc., há um desenvolvimento cognitivo e socioemocional, e a grande preocupação da ‘cola’, que incomoda tantas escolas, não existe.
Além desse tipo de avaliação, fazemos, trimestralmente, uma avaliação diagnóstica por meio do Learning Analytics, ou seja, analisamos minuciosamente as necessidades de cada aluno por meio de dados gerados após uma avaliação digital com itens de diversos tipos (objetivos e dissertativos), competências, habilidades e tipos de inteligência. Com esse diagnóstico conseguimos saber a dificuldade real e trabalhar para saná-la, por meio de atividades personalizadas, criadas pelo professor ou do próprio material didático. Utilizamos material digital que cria planos de estudo individualizados de acordo com as necessidades ou potencialidades de cada aluno; após a execução desses planos, recebemos relatórios com a evolução do estudante. Foi utilizando essas ferramentas e metodologias que conseguimos verificar a eficácia do trabalho realizado remotamente em um ano tão atípico, como o ano de 2020.”
Sueli Cain de Oliveira – Diretora do Colégio Mater Dei (SP)
“Existem diferentes estratégias avaliativas que podem ser empregadas e que valorizam a produção autoral, como relatórios, portfólios, produções de textos de diferentes gêneros, seminários, trabalhos e apresentações em grupos, produções de vídeos, podcasts, debates, entre outros. O emprego de rubricas específicas para cada instrumento avaliativo é muito eficaz e auxilia o estudante a identificar os seus pontos fortes e os pontos que pode aperfeiçoar. Essas devem ser apresentadas anteriormente, para que fique claro para o aluno qual trajeto precisa perseguir.
A diversidade de formatos e instrumentos expressa o universo de habilidades que é trabalhado pedagogicamente. As avaliações diagnósticas são realizadas e, a partir delas, é possível identificar e personalizar processos educativos. Alguns estudantes necessitam de reforço e acompanhamento sistemático, quando aulas de recuperação são oferecidas e atividades complementares são propostas. Professores Tutores e Orientação Educacional realizam um acompanhamento bem próximo a cada dificuldade emergente. O nosso acompanhamento está pautado no acompanhamento direto e próximo a cada estudante. Feedbacks constantes, visando avanços na aprendizagem e resultados melhores, são sempre necessários.”
Tânia Lindemann – Coordenadora do 5º ao 8º Ano do Colégio Humboldt (SP)
“A implementação do ensino remoto na educação básica, em decorrência da pandemia da Covid-19, fomentou a revisão de diversas práticas educativas, em especial a avaliação da aprendizagem. No modelo presencial, é frequente a aplicação de provas de fim de período (bimestrais, trimestrais, etc.), de caráter somativo, que visam avaliar a assimilação e a memorização dos conteúdos trabalhados. Ocorre que este modelo de avaliação pressupõe, na maior parte das vezes, fiscalização rigorosa pelos professores durante a aplicação, a fim de evitar ‘colas’, o que é inviável no ensino remoto, exceto quando há uso de recursos de vigilância por meio da tecnologia, ainda incipientes. As avaliações continuadas de período, aplicadas por meio de diferentes instrumentos, também tiveram de ser adaptadas. A observação dos alunos em sala, a intervenção do professor durante as aulas e estratégias que demandam interação presencial foram substituídas por formulários on-line e outras ferramentas. Com a mudança de paradigmas, foi inevitável a revisitação dos propósitos da avaliação da aprendizagem, dos instrumentos adequados e da análise das respostas dos alunos, em busca de evidências mais consistentes dos níveis de proficiência e dos conteúdos que deverão ser retomados.
No tocante aos propósitos, o ensino remoto evidenciou a necessidade de acompanhamento mais frequente das aprendizagens, uma vez que há ainda mais incertezas sobre a assimilação dos conteúdos trabalhados. Para realizá-lo, professores têm usado ferramentas de enquetes (Zoom, Kahoot, outras); de edição de texto on-line (algumas com possibilidade de reescritas com base em observações dos corretores); arquivos em nuvem para o upload de manuscritos e diversos documentos; formulários que possibilitam a correção automática e relatórios, e outras formas de monitoramento. Essas novas práticas podem contribuir para que a avaliação se torne mais formativa, que, se aplicada de forma intencional, possibilita a autoavaliação, contribui para o próprio aprendizado (e não apenas o verifica), oportuniza as correções de curso pelos professores e, por meio de relatórios, propicia as tomadas de decisões fundamentadas em evidências.
O conjunto das avaliações, isto é, os instrumentos aplicados no decorrer e ao término do período para a verificação dos conteúdos acumulados, fornecem evidências de lacunas que deverão ser cobertas. Neste ponto, se faz necessário que elas sejam identificadas com a maior precisão possível, afinal, não será possível rever toda a matéria. Por isso, defende-se que os professores tenham um olhar clínico para o conjunto dos resultados apresentados pelos alunos, e os leiam à luz do contexto atual, em que os estudantes podem fazer consultas, especialmente pela internet. Fundamentadas nas evidências, as retomadas podem ocorrer por série, turma, agrupamentos de estudantes ou até por indivíduo, por meio da incorporação das revisões nos planos de ensino das séries posteriores, de aulas sobre conteúdos específicos, de atividades ou roteiros de estudos, dentre outras ações. Em suma, a implementação do modelo híbrido trouxe desafios, os quais, por sua vez, podem ser observados como oportunidades. Afinal, vivemos em um mundo com acesso à informação que possibilita novas formas de se construir o conhecimento, então não seria o momento de a escola revisitar suas formas de avaliar a aprendizagem?”
Claudio Pinheiro – Coordenador do Ensino Fundamental II do Colégio Albert Sabin (SP)
“Durante a pandemia precisamos nos adaptar e criar novas maneiras de fazer a escola acontecer à distância, garantindo um processo de ensino e aprendizagem com significado, mesmo que em um contexto tão novo para todos. Foi preciso, com isso, estruturar novas maneiras de avaliar o percurso de cada aluno e pensar em instrumentos potentes neste novo formato, sem a possibilidade de um contato próximo – algo que tínhamos até então.
Foi importante ter muito claro quais eram as expectativas de aprendizagem e planejar momentos e atividades em que fosse possível observar de fato o aprendizado dos estudantes. Foi assim que surgiram diversas propostas que possibilitaram um acompanhamento dos percursos de cada um, como: momentos virtuais em pequenos grupos com pautas de observação elaboradas pelos professores; uso de jogos como o Kahoot, em que os estudantes precisaram criar perguntas sobre determinados assuntos e pensar em boas alternativas de resposta; trabalhos colaborativos, como criações de Padlets com as descobertas de um tema estudado; apresentação em grupo; avaliações pelo Google Forms; textos feitos colaborativamente no Google Docs, pesquisas de descoberta e ampliação, entre outros.
Com estas múltiplas possibilidades de avaliação foi possível estar perto de cada processo de aprendizagem dos alunos e, com isso, pensar em intervenções potentes para um formato digital, como: atividades diversificadas, encontros em pequenos grupos, momentos para tirar dúvidas individualmente, e aulas no contraturno foram algumas estratégias usadas e que percebemos que também atenderam as múltiplas necessidades dos alunos.
Sendo assim, com clareza das dificuldades individuais e questões apresentadas nos grupos, planejamos o ano de 2021. A primeira ação foi uma sondagem, para entender de fato como os grupos estão planejando ações em grupo, pequenos grupos ou individualmente. Adaptações continuam acontecendo e, desta maneira, continuamos garantindo o aprendizado de todos e mantendo o cuidado com cada um durante este processo.”
Dinah Carolina Borges Crespo – Coordenadora Geral Escola Santi (SP)
“Com a pandemia e sem a proximidade física com as estudantes, precisamos contar com recursos avaliativos que levem em conta todo o seu processo de desenvolvimento. Para isso, a tecnologia pode ser uma grande aliada. Sinalizar à família e à estudante quais habilidades ela precisa desenvolver, e pedir registros escritos, fotográficos e de vídeos das tarefas e das atividades pode ser uma forma interessante de a professora captar esses momentos e avaliar. Após um ano com a estudante realizando o ensino remoto, e agora, em algumas regiões, o híbrido, a professora pode contar com recursos digitais para aplicar avaliações diagnósticas e identificar as oportunidades de aprendizagem. Feito isso, é possível indicar atividades e objetos digitais para que a estudante tenha novos momentos para se desenvolver.
Outra ação possível é criar grupos de reforço e propor atividades específicas de retomada para esses grupos. A tecnologia facilita e acelera muito o acompanhamento do desenvolvimento escolar. Nesse sentido, as Expedições e Artigos da Cloe podem contribuir muito para que as estudantes revisem conteúdos e continuem aprendendo. As avaliações processuais, como quizzes, também podem contribuir para que professoras e famílias acompanhem o processo de aprendizagem das estudantes no ensino presencial e remoto.”
Fernando Shayer – Fundador e CEO da plataforma educacional Cloe
“A avaliação escolar, por anos, e ainda pode ser observado isso (infelizmente), possui um histórico de função punitiva muito mais do que a esperada função de construção do conhecimento e de desenvolvimento de habilidades junto ao educando. Em nosso contexto escolar mundial, nunca foi tão necessário fortalecer a função da avaliação como ferramenta para um aprendizado mais significativo e individual para cada aluno.
Em um ambiente virtual de aprendizado proporcionado pela escola, neste tempo de pandemia, o ambiente presencial que os alunos estão inseridos, o lar, é extremamente diverso e reflete no aprendizado escolar, cada qual ao seu modo, com estímulos positivos ou negativos, todos sem a organização desejada e planejada pela escola. O resultado disso é um aprendizado menos uniforme e possivelmente com lacunas inesperadas.
A escola terá que criar meios de observação e registro dessas lacunas, assim como utilizar as avaliações diagnósticas já usadas anteriormente, e, ao serem utilizadas, precisam ser analisadas com maior critério para se permitir uma construção personalizada do conhecimento e de desenvolvimento de habilidades para o aluno, visto o exposto anteriormente.
É preciso compreender que dados antes coletados e com uma perspectiva quase que uniforme, ano a ano, podem sofrer alterações inesperadas, resultando em ações educativas nunca vistas antes. O processo individual de cada aluno precisa ser, mais do que nunca, respeitado e levado em conta na hora de se propor o caminho de aprendizado para ele.”
Priscila de Moraes – Coordenadora Pedagógica da Escola do Futuro (SP)
“Atravessamos, nos últimos meses, um período atípico. Entramos num ano que requer uma ação bastante criteriosa, a fim de auxiliar o estudante em sua aprendizagem. É preciso resgatar o que não teve sucesso nesse período de muitas mudanças e novas experiências. A avaliação escolar é o termômetro que permite confirmar o estado em que se encontram os elementos envolvidos no contexto. Para tanto, faz-se necessária uma intervenção pedagógica intencional e planejada a partir da aplicação da Avaliação Diagnóstica, buscando identificar as fragilidades que os estudantes trazem em relação a 2020.
A partir de uma avaliação diagnóstica segura, providências para estabelecimento de novos objetivos, retomada de objetivos não atingidos, elaboração de diferentes estratégias de reforço, levantamento de situações alternativas em termos de tempo e espaço é que poderemos garantir que a maioria dos estudantes aprendam de modo completo as habilidades e os conteúdos que se pretenda ensinar-lhes.
Na prática, é necessário programar atividades que contemplem as lacunas apresentadas, considerando numa mesma turma a necessidade apresentada. De acordo com a porcentagem mais acentuada de falta de domínio dos estudantes, o professor deve propor uma retomada mais ampla das habilidades/conteúdos identificados. Sendo um grupo menor, pode-se propor trabalho num contraturno e quando ainda menor, apresentar trabalhos em grupo, eliminando assim as fragilidades. Vale conferir até que ponto o estudante consegue aprofundar na linha de raciocínio para desenvolver gradativamente seu domínio.
Para atingir uma aprendizagem efetiva, precisamos de reflexões, análises e propostas assertivas que devem embasar nosso trabalho em 2021, a fim de capacitar os estudantes de forma plena, segura e eficaz.”
Deise Lúcide Martins – Coordenadora de Avaliações da Positivo Soluções Didáticas
“O importante é termos uma atitude empática. Nesse momento o que nos interessa não é a quantidade, mas sim a qualidade. Por meses, os alunos tiveram que reaprender uma nova rotina, uma nova forma de estudar e de aprender. Aprenderam? Não sabemos, e uma só avaliação diagnóstica não vai nos dar certeza do nível de aprendizagem dos alunos.Nesse sentido todos os instrumentos são importantes: acolhimento, rodas de conversa, sondagens orais e escritas, e, por favor, nada valendo nota, pois em primeiro lugar precisamos receber os alunos para uma nova realidade, nunca vivida antes, bem como entender as fragilidades causadas pelos longos meses de ensino remoto.Lembre-se que o aluno pode não ter apreendido os conteúdos que entendemos como desejáveis ou necessários, mas certamente desenvolveu novas e inusitadas habilidades que podem ser muito bem aproveitadas, como autonomia, organização e autoaprendizagem. Com base nesse conjunto de proposições, é essencial ir adequando metodologicamente as aulas a partir das fragilidades e potencialidades sinalizadas nessa fase de acolhimento.”
Rita Schane – Supervisora de avaliações do Sistema de Ensino Aprende Brasil
“A avaliação numa perspectiva formativa e processual permeia todo o ciclo de aprendizagem e aí reside a grande recomendação para enfrentar este momento em que ficou mais difícil acompanhar e assegurar o desenvolvimento dos nossos alunos: considerando que, vista dessa forma, a avaliação é contínua, cabe aos professores variar os instrumentos e as práticas e considerar o máximo possível as interações em sala de aula como oportunidades de aferir o desempenho dos estudantes. Nesse exercício de observação e análise, cabe ao docente ir registrando e coletando dados qualitativos e quantitativos que comporão os resultados de seus alunos. Por exemplo, além da clássica prova (aberta e/ou de múltipla escolha, oral ou escrita), vale usar momentos de seminário, apresentação de trabalhos, exposição pedagógica, exercícios individuais e em grupo, pesquisas, participações dos discentes, etc. para verificar o aproveitamento da turma.
Uma vez feito esse mapeamento do nível de proficiência dos estudantes, os professores podem compilar a análise da turma, priorizar as habilidades e conteúdos em que houve mais dificuldade, e focar as suas próximas aulas na abordagem dessas habilidades e conteúdos.”
Bianka de Andrade Silva – Gerente de Avaliação e Produtos Digitais do SAE Digital
“Na Stella Escola, trabalhávamos, na Educação Infantil, com portfólios. No ano de 2020, por não termos as crianças na escola, não conseguíamos fazer atividades que nos mostrassem a evolução dela com ela mesma. Nos vimos em uma situação não antes vivida. Como estávamos utilizando uma plataforma para as aulas on-line, marcamos reuniões individuais, com cada aluno. Nesse momento, o responsável entrava no link, a criança conversava com o professor e fazia o que era pedido, sempre recebendo um retorno incentivador.
Com os resultados em mãos, nos reuníamos com o responsável, para um feedback dos resultados das atividades. Para os alunos que precisavam de um acompanhamento mais sistemático, sugeríamos atividades lúdicas com objetivos pedagógicos para auxiliar.
Já no Ensino Fundamental, eram realizados trabalhos e atividades especiais que davam um feedback para os professores). Com a pandemia, a proporcionalidade precisou ser alterada, e, os trabalhos, tinham um peso maior. No 1º ano, eram enviadas atividades em documentos de word, que deveriam ser realizados até a data marcada. Sabíamos que interferências dos responsáveis aconteciam, mas nos pautávamos também pelos retornos dados durante as aulas. A partir do 2º ano, as atividades especiais eram feitas através do Google Forms, durante o momento on-line, e o professor acompanhava a realização.
Para as crianças dos 1º e 2º anos, fazíamos momentos de monitoria, de acordo com as necessidades e reuniões com os responsáveis para indicação de atividades lúdicas para ajudar nas dificuldades apresentadas. Do 3º ano em diante, pela maturidade das crianças, fazíamos encontros com os responsáveis para que fossem feitas atividades de reforço, e, caso necessário, também marcávamos um encontro com as próprias crianças que já entendem a responsabilidade de estudar e assistir as aulas, fazendo com que elas sejam autoras da própria história.
Ao final de cada etapa, realizávamos atividades de sondagem, para orientar o trabalho do período seguinte. Analisávamos os conteúdos que foram bem assimilados, os que ainda precisavam de uma revisão, e os que não foram absorvidos. Realizamos também 2 conselhos de classe, para que os professores também pudessem dissertar sobre cada aluno e mostrar para a coordenação como estavam as percepções deles. Esses encontros também nos orientavam para reuniões com os responsáveis.
O ano de 2021 começou, e como os professores dos anos seguintes não tinham uma visão real de como estavam as crianças, fizemos atividades diagnósticas para estruturarmos o caminho que teríamos pela frente. Temos ciência de que algumas lacunas ficaram, mas os alunos se saíram muito bem. Em 2021, continuaremos contando com a parceria escola & família, para minimizarmos essas dificuldades, sempre com muito diálogo.”
Renata Dias – Diretora Pedagógica da Stella Escola (MG)
“No atual contexto, as avaliações de aprendizagem precisam considerar o cenário educacional em que o aluno está inserido. Se faz necessário que sejam feitos com o objetivo de avaliar não somente o conteúdo pedagógico, mas também o nível de envolvimento dos alunos com os processos de aulas remotas. As avaliações devem ser pensadas, considerando sempre a retomada de conteúdos, uma vez que essa dinâmica é importante para reforço e nivelamento dos alunos. O feedback do processo é igualmente essencial. Da mesma forma, o diagnóstico de pré-requisitos do ano anterior é importantíssimo para tomada de decisão e reorganização do planejamento didático. A partir do resultado desse diagnóstico, é importante que a instituição elabore ações de reforço, nivelamento para os alunos e faça ações contínuas junto às famílias. Outro ponto importante que reverbera diretamente no processo de aprendizagem dos alunos, é cuidar do lado emocional. Para isso, ações de motivação e acolhimento são fundamentais.”
Antunes Rafael – Diretor Pedagógico do Colégio Oficina do Estudante de Campinas (SP)
“Tivemos um período atípico de aprendizagem e não será possível considerar a avaliação como antes se fazia, pelo menos por este e pelo próximo ano. As crianças perderam muitas experiências e não há como medir a perda de algo que não se fazia com uma avaliação que media algo que era feito. Sendo assim, para diagnosticar os alunos, é interessante que a escola faça uma escala de desenvolvimento, especialmente para os principais pontos a serem trabalhados no ano letivo.
O professor precisará perceber, dentro desta escala, em qual momento de aprendizagem o aluno ‘parou’. Um exemplo prático é a adição. Uma criança de terceiro ano já deveria saber adição com reagrupamento, porém não sabemos se compreende a questão de centenas, dezenas, unidades, ou mesmo até qual número sabe contar. O ideal seria uma página com resoluções de adição desde adições até 10 ou 20, passando por contas já armadas, depois contas para armar simples e finalmente as com reagrupamento. Ao visualizar a sondagem, o professor poderá saber exatamente em quais o aluno tem dificuldade, porque terá resolvido com facilidade as que realmente aprendeu. O mesmo se aplica aos demais conteúdos. A regressão de avaliação em conteúdo é menor, para facilitar uma escala de avaliação.”
Janaína Spolidorio – Especialista em educação
“As atividades diagnósticas sempre fizeram parte do processo de ensino e aprendizagem. Durante o novo cenário que vivemos, a atividade avaliativa ainda é instrumento de grande valia para que os professores tracem suas estratégias e didáticas de ensino. Somos conscientes de que atualmente, os resultados atingidos, principalmente no contexto remoto, indicam para o professor que há novas formas de verificação, estudo em forma de pesquisa, porém, trabalhar com a consciência de cada aluno para que a cada passo ele se torne um estudante mais autônomo e leal com seu próprio rendimento escolar, deve ser incentivado e renovado a cada ano, tanto no contexto escolar quanto no contexto familiar. Assim, esperamos que as avaliações caracterizem o seu maior objetivo dentro do processo de aprendizagem – ser o termômetro para equipe docente e discente em busca de alinhamentos e atendimentos que se fizerem necessário ao longo do ano.
Aqui no Colégio Joseense a avaliação do aluno é feita aula a aula, atividade por atividade. Usamos o Sistema Etapa que nos direciona e nos mostra quais conteúdos devemos retornar antes de avançar ou aprofundar novos conhecimentos. O processo de retomada é lento e gradativo. Os conteúdos são revisados e, se necessário, mais atividades extras serão aplicadas. Em todas as aulas há momentos para tirar as dúvidas e corrigir as atividades da aula e as tarefas de casa. É um processo diário e contínuo.”
Rogéria Sprone – Diretora Pedagógica do Colégio Joseense (SP)
“Sabemos que inúmeras escolas fecharam em decorrência da pandemia. Imagine as consequências ocorridas pela ruptura dos vínculos, centenas de crianças ficaram sem aulas, professores entorpecidos, colaboradores sem empregos, milhares de famílias literalmente confusas. Contudo, o isolamento forçado abriu uma porta de oportunidades para o setor da educação, como mais acesso ao ensino remoto, capacitação tecnológica dos professores e colaboradores, empreendedorismo em projetos educacionais. Para enxergar o futuro, precisamos da pluralidade de olhares, pois não há apenas um futuro, mas múltiplos futuros possíveis. Precisamos de educação e informação sobre o futuro do trabalho, sobre as novas revoluções, tanto pela lente tecnológica quanto pela perspectiva humana. Tudo para que tomemos melhores decisões hoje. Como a nossa caminhada começa no planejamento, é preciso ter em mente que qualquer falha pode comprometer o futuro. Lembre-se de que ser professor é escrever a história do futuro. E nós, professores, somos os especialistas para a construção dessa trilha e responsáveis para alcançarmos as metas. Portanto, para que nossos alunos retomem o desejo de aprender, precisamos realizar o diagnóstico claro, conciso, coerente, compreensível e comprometido em não deixar nenhum aluno para trás. Sabendo que o futuro dos alunos não pode ficar comprometido, precisamos pensar como trabalharemos diariamente com eles. Saiba que trabalho é amor tornado visível”.
Carlos Dorlass – Diretor Geral do Colégio Marista Arquidiocesano (SP)