“As mudanças no cenário globalizado são intensas e em incrível velocidade. É imprescindível manter-se atualizado e aberto para as mais diversas mudanças, desenvolver novas habilidades e estar preparado para a resolução de problemas. Além disso, é preciso foco para não se perder, tornando-se um especialista em ‘tudo’, porém de forma muito superficial”, destaca gestora educacional
Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação
Capacitar, formar, desenvolver habilidades, reunião de métodos e teorias, aperfeiçoar, ação ou efeito de educar. As definições para a palavra que contém oito letras e uma complexidade infinita apontam caminhos e reflexões na contemporaneidade que clamam uma atenção (mais que) urgente: precisamos falar sobre educação!
Essa educação, à qual me refiro, transcende barreiras, explora novos movimentos, ganha novos espaços, adentra outras salas de aula, repousa em pesquisas intrínsecas. E, para compreender este novo fenômeno educacional, que galgou carreiras superiores acadêmicas, é preciso ampliar a ótica e interpretar o denso mecanismo da aprendizagem como uma construção diária do saber.
Admitir a faculdade do saber e suas respectivas exigências, bem como aguçar sua vontade e curiosidade, transporta qualquer estudante à uma dimensão inimaginável, com ganhos subjetivos e explorações instigantes. Promover esse hábito como uma construção de vida é sinônimo de grandes mudanças, surpresas e renovações.
Christiane Vilhena, psicóloga, coach e mestre em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que a busca pelo desenvolvimento contínuo seja uma atitude que devemos cultivar na vida. “É do teólogo e psicanalista Leonardo Boff a ideia do ser humano como um projeto inacabado. Manter essa máxima como um desafio nos convoca, dia a dia, a fazer escolhas que possam, verdadeiramente, contribuir para o autodesenvolvimento”.
Segundo Christiane, quando assumimos o compromisso com a evolução disparamos um alerta atitudinal que pode e deve nos orientar na busca de situações, seja no campo pessoal, profissional ou familiar, que favoreçam a expansão das nossas forças, bem como o desenvolvimento daqueles aspectos que merecem ajustes.
Partindo desse pressuposto, é possível imaginar e projetar o sistema educacional através de intensos emaranhados e uma série de probabilidades. Observando a histórica engrenagem da educação, de forma simples e levemente, os anos de aprendizagem são separados por etapas que coincidem com os anos de vida de cada aprendiz. Após um extenso período de aprendizagem (nos ensinos básico, fundamental e médio), o ensino superior destaca a entrada no mercado de trabalho, possibilitando, assim, o conhecimento e atuação em uma profissão. Em uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), do total de estudantes na faixa entre 18 e 24 anos, parcela de 32,9%, frequentava o ensino superior em 2004. Em 2014, os estudantes dessa mesma faixa etária, formavam 58,5% na universidade, ou seja, um salto de mais de 30 pontos percentuais.
“Estudar continuamente pressupõe o reconhecimento de um não saber que de maneira extremamente saudável alavanca a busca pelo saber. Alimentados pelo desenvolvimento contínuo criamos boas condições para uma vida mais feliz. Feliz não por ser livre das dificuldades inerentes a qualquer uma, mas por ser regida por um propósito maior: nossa própria evolução”, indica Christiane.
Pensando, particularmente, em gestores, diretores e mantenedores escolares, diversas variáveis compõem seus percursos de estudos. Porém, a educação continuada, as possibilidades de especializações, aperfeiçoamentos e extensões são diferenciais que estimulam práxis educativas valiosas.
FORMAÇÃO CONTINUADA
Com um cenário atualizado e repaginado, o sistema educacional atravessa um período de reestruturação, de novos caminhos e maneiras de observar (não só) métodos de ensino e formação pedagógica, como resoluções administrativas no âmbito da gestão e comandos na rotina de cada instituição.
Eliana Rodrigues, docente da FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) e gestora educacional há 20 anos, entende que é imprescindível para o gestor manter constante aprimoramento e desenvolvimento. “Somente assim podemos entender claramente quais as necessidades de nossos alunos e professores para estabelecer as melhores políticas institucionais. Um gestor não pode parar no tempo sob pena de comprometer seriamente os resultados de sua instituição. Além disso, o gestor precisa compreender que a inovação é um forte atrativo para o alunado, além de contribuir para melhores resultados e qualidade”.
O gestor bem formado e atualizado, conta Eliana, busca construir suas políticas institucionais de forma mais aberta, compartilhada com docentes e discentes. A construção compartilhada aumenta o engajamento dos atores e culmina em melhores resultados. “Muitos profissionais insistem em metodologias tradicionais, que tem pouco ou nenhum resultado com as novas gerações. Nesse sentido, a formação continuada é de fundamental importância. É preciso que o profissional da educação, seja ele docente ou gestor, entenda como pensa a nova geração, como se relacionam com a tecnologia e o que buscam como objetivo. É natural tendermos a ensinar da mesma forma que aprendemos no passado. Mas é preciso buscar aprender e mudar essa fórmula”.
Acreditar e apoiar uma manutenção frequente do saber instaura um potencial com ganho duplo – tanto no campo profissional como pessoal. Com os efeitos da globalização e o surgimento regular de aparatos tecnológicos, existe um convite à reflexão, principalmente para aqueles que comandam instituições de ensino.
EDUCAÇÃO EM CRISE
Atravessamos, nos últimos semestres, um estado de crise econômica, política e social que, de certa maneira, reverbera no segmento educacional. Assim, outros rumos são adotados com intuito objetivo, assertivo, com teor econômico e eficiente. Para Alexandre Crispi, especialista em educação e diretor da Rede Educacional Alub, a formação continuada é o melhor meio para os profissionais buscarem novos conhecimentos para fazer melhor e com menor custo. Outra vantagem estratégica nessa fase de incertezas é que os profissionais que sempre se qualificam, possuem um diferencial de serem priorizados e mantidos em eventuais listagens de cortes de pessoal.
“Muitos gestores e mantenedores têm superado o atual momento econômico com a busca de programas de formação que foquem na sustentabilidade futura da instituição. Esses programas precisam trazer conhecimentos e estratégias para fidelizar alunos, rever processos e custos, inovar, refazer o planejamento estratégico e prospectar novos alunos. As alternativas são tanto por meio de cursos externos ou de contratar profissionais para ministrarem dentro da própria escola”, ressalta Alexandre.
Questionado sobre cursos e áreas do conhecimento que são relevantes e geram resultados estratégicos, o especialista em educação destaca quatro oportunidades:
Gestão financeira, cobrança e negociação. Capacitar a equipe responsável em renegociar com fornecedores e com clientes a fim de adquirir novas estratégias para reduzir custos e recuperar recebíveis.
Marketing digital e vendas. Uma das formas mais econômicas e eficientes de prospectar novos alunos é o marketing em redes sociais. Cursos de vendas com profissionais externos trazem uma grande melhora na efetividade de novas matrículas e visibilidade nas redes sociais.
Planejamento Estratégico e Inovação. Refazer a análise de SWOT para rever a estratégia da escola e buscar formas de fidelizar o cliente.
Coach. Curso para desenvolver competências de liderança, comunicação, a auto responsabilidade e assertividade em diretores, coordenadores e professores.
“O que o profissional de educação aprendeu na faculdade, na pós-graduação ou no seu último curso foi útil naquele momento, mas já está desatualizado para os desafios atuais. É preciso se qualificar hoje, com novas técnicas, novas formas e novas tecnologias para não se tornar um profissional obsoleto e desatualizado”, finaliza.
DEPOIMENTO
Cristina Favaron Tugas, diretora pedagógica do Colégio Termomecanica, mantido pela Fundação Salvador Arena, em São Paulo.
“Sempre gostei de crianças e me identifiquei com o processo de ensino e aprendizagem, por isso escolhi a profissão de pedagoga. No entanto, jamais me imaginei trabalhando na administração de uma escola.
Minha experiência em sala de aula foi breve, pois logo assumi a orientação educacional do Ensino Médio e, posteriormente, do Ensino Fundamental. E como minha função exigia auxiliar alunos, familiares e também professores nas dificuldades encontradas, voltei às salas de aula para cursar Psicopedagogia.
Alguns anos depois, surgiu a oportunidade de atuar na gestão escolar, primeiro na coordenação do ensino e posteriormente na direção pedagógica. Para facilitar minha compreensão de gestão e atuação, busquei me atualizar em congressos voltados para a área de gestão e também fiz um MBA em Gestão Escolar. Confesso que, apesar de saber que a teoria é extremamente importante e sentir a diferença na minha visão acerca do processo administrativo e de gestão de pessoas após a realização destes cursos, ainda acredito que o principal diferencial na carreira de um gestor é a troca de experiências realizada no dia a dia da profissão. Inspirar-se em bons modelos de profissionais, sem dúvida, faz muita diferença.
No que diz respeito ao profissional de gestão é imprescindível que ele esteja sempre conectado às tendências educacionais, para que a equipe se sinta segura nas suas tomadas de decisão. Enxergar as necessidades do grupo, buscando trazer para a escola capacitações internas e incentivar a formação continuada fora da empresa também é fundamental.
Aqui na Fundação Salvador Arena (FSA), por meio da Universidade Corporativa e do departamento de Recursos Humanos, os gestores recebem muitos cursos e oportunidades de participação em grandes congressos, fóruns e benchmarking, recursos muito utilizados pelos gestores para análise de mercado e busca por inovação para o processo. É importante destacar que as escolas não deveriam ter receio de se abrir, pois o foco deve ser sempre melhorar a experiência de aprendizagem do aluno, logo, não devemos enxergar outras escolas como concorrentes. Os bons modelos de ensino precisam ser divulgados e merecem servir de exemplo para outras instituições. Essas boas práticas podem e devem ser adaptadas a cada realidade escolar.
O Sistema de Gestão da Qualidade, implantado na FSA, contribui muito para melhoria contínua do processo, pois além de manter um histórico das boas práticas e mesmo das que não deram certo, por meio de seus procedimentos e ferramentas de controle, auxilia no estabelecimento de metas e elaboração de planos de ação para que as metas sejam monitoradas e atingidas. Manter um sistema de gestão auxilia o desenvolvimento e acompanhamento do processo pela equipe gestora e pelo próprio corpo docente, pois faz com que o tempo todo os resultados sejam avaliados e discutidos.
Estudo contínuo, compartilhamento de experiência, boas ferramentas de controle e escuta para auxiliar nas dificuldades enfrentadas pela equipe, para mim, são a chave do sucesso de uma boa gestão”.
Saiba mais:
Colégio Termomecanica – faleconosco@cefsa.edu.br
Christiane Vilhena – christianevilhena@versare.com.br
Eliana Rodrigues – eliana.rodrigues@fipecafi.org