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Conversa com o Gestor – Educação e Cidadania: Apontamentos que transcendem as salas de aula

“A escola atua na base da formação do sujeito. Lida com mentalidade, percepção e isso graças ao longo período da escolarização básica. A escola é um espaço privilegiado para uma vivência cidadã. Ela cria condições para a convivência coletiva no respeito a diversidade e pluralidade de nossa sociedade”, diz Aleluia Heringer Lisboa Teixeira, Diretora do Colégio Santo Agostinho Unidade Contagem – Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG)

Por Rafael Pinheiro / Fotos Patrick Bonnereau e Divulgação

Aleluia Heringer Lisboa Teixeira

O conceito de cidadania pode ser observado e problematizado sob amplas e complexas óticas. Se estreitarmos o olhar sobre as ideias, significados e seus respectivos desdobramentos em todas as esferas sociais transitadas cotidianamente, percebemos uma multiplicidade de pensamento acerca do exercício da cidadania que, de certa forma, transcende definições teóricas e expande para outros campos.

Nesse aspecto, o denso processo educacional, enraizado em mecanismos que abrangem o sociocultural e, também, a constituição, vivência e experimentação de cada aluno e aluna, desdobra e influencia uma educação para a cidadania – através de construtos diários, fomentando encontros, relações, conhecimento de si e do outro, empatia e em uma vivência coletiva pautada pelo respeito em todas as escalas de diversidade e pluralidade.

Para o professor Paulo Procópio da Silva, do Centro Universitário Eniac em Guarulhos, Grande São Paulo, o papel da escola na promoção da cidadania é levar o conhecimento de seus direitos e deveres a seus alunos e comunidades, criando assim um público mais crítico em relação a seus direitos e deveres. “O professor e a equipe de gestão escolar têm um papel fundamental para o desdobramento na educação de seus alunos, promovendo igualdade social, racial, respeito, disciplina, e acesso a cultura, são esforços praticados no espaço escolar na tentativa de formar cidadãos conscientes”.

O Colégio Santo Agostinho (MG) acredita no preceito “gente que forma gente”

Dessa aproximação entre educação e cidadania surgem alguns questionamentos significantes, como: É possível, em uma atualidade inteiramente conectada, estabelecer diálogos acerca da importância da cidadania? Sobre esse apontamento, Aleluia Heringer Lisboa Teixeira, diretora do Colégio Santo Agostinho Unidade Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), assinala que a ética, a cordialidade e o “bom tom” que utilizamos no “olho a olho”, devem ser levados para as redes sociais.

“Os debates envolvendo questões políticas, de costumes, religião, sexualidade, racismo, homofobia e tantos outros assuntos não podem engolir, abafar ou eliminar o outro. O bonito da vida é que ela não é do tamanho do meu mundo. Do mundo de ninguém! Querendo ou não, a escola, ao se abrir para a diversidade da vida, ao enfrentar e tratar de forma pedagógica e sem medo a complexidade da vida social, ela contribui para o fortalecimento do diálogo e da cidadania”, destaca Aleluia.

A interação transversal e a contribuição para este diálogo devem surgir (não apenas) em idades avançadas, mas, sobretudo, nos primeiros anos de vida e, assim, no início da vida escolar. De acordo com a diretora Aleluia, a idade específica para iniciar os trabalhos relacionados à cidadania no ensino, segue no maternal, “quando os pais entregam o filho para a professora. Ali, na portaria, a escola diz: pai/mãe, daqui para frente é com a gente. Este é um símbolo que significa que nós retiramos o ‘príncipe’ do ‘colo da princesa’ e o levamos para o reino dos comuns, do povo, da república. Ele é ‘destronado’, conforme se diz. Este é o papel da educação”.

Tornar-se sujeito com a compreensão integral dos aspectos da cidadania é uma tarefa árdua, longa e que, de certa forma, não é limitada, finita ou efêmera. Tornar-se cidadão ou cidadã é um movimento contínuo de descobertas, ações, reflexões e, também, do conjunto de ensino e aprendizagem.

O Colégio Marista Arquidiocesano (SP) salienta o _Projeto de Intervenção Social (PIS)_ como movimento de interação instigante entre os alunos

INTERVENÇÃO SOCIAL

Integrante do Grupo Marista – que possui uma rede de 18 colégios envolvendo mais de 24 mil alunos – o Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo propõe valores sólidos, acompanhamento das mudanças contemporâneas nas questões sociais, culturais e ambientais, além de promover uma gama diversificada de projetos e ações nos espaços da instituição.

Dentre os principais programas desenvolvidos pelo colégio, salientamos, aqui, o “Projeto de Intervenção Social (PIS)”, que terá início ao longo deste segundo semestre a partir de um tema cultural para a série “Lugares da cidadania: Por um modo mais ético de ser e estar no mundo”. Ricardo Santos Chiquito, coordenador psicopedagógico do Fundamental I do colégio, conta que este projeto foi pensado como mais uma situação de aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental, sendo assim uma prática que visa ampliar as perspectivas de ensino e aprendizagem no ensino fundamental.

“A ideia é colocarmos as crianças em uma situação de pensar sobre a realidade que vivemos e como podemos tornar nossas vidas melhores”, ressalta Ricardo. As reflexões e pesquisas do projeto partirão de 8 temas, que são: Muitos céus, uma só terra: os compromissos da fé por um planeta que vive; O que é preciso para a nossa vida ser melhor?; Se correr o lixo pega, se ficar o lixo come; A criança no/do mundo; Diversidade em risco, vidas extintas: a natureza pede socorro; Brasil: lugar de encontros e desencontros de culturas; O impacto das tecnologias em nossas vidas; Modas e modismos, consumos e consumismos: a vida tem preço?

“Estamos trabalhando com a ideia de que a pesquisa é, também, um lugar de cidadania e que a construção do conhecimento é um espaço em que a própria cidadania é construída. A pesquisa é, então, uma forma de se exercer a cidadania, um modo de ser e estar no mundo. Um lugar de cidadania e de experimentar uma vida de estudante-cidadão”, explica o coordenador.

As influências e desdobramentos que este projeto pode impactar na formação de cada aluno ou aluna transcende módulos pedagógicos e instaura um movimento maior de pesquisa, um processo de investigação “que procura pensar a realidade em que vivemos, seja em nossa escola, em nosso bairro, em nossa cidade, em nosso país”. Dessa maneira, complementa Ricardo, o projeto de intervenção é mais um movimento de leitura e escrita em meio à vida que vivemos. “Ler e escrever como atos de criação e de criatividade, de produção de conhecimento, de reflexão e posicionamento diante da realidade que vivemos e que queremos mudar”.

VOLUNTARIADO

Ampliando os horizontes para uma formação humanista, o Colégio Albert Sabin, localizado na região oeste da capital paulista, desenvolve, desde 2008, um projeto voluntariado que proporciona uma experiência instigante aos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II ao Ensino Médio. “A ideia do projeto surgiu da necessidade de uma atividade extra oferecida pelo Programa Sabin +Esporte e Cultura capaz de desenvolver nos alunos noções de empreendedorismo social, colaboração, solidariedade e cidadania”, afirmam os professores orientadores do projeto Telma Gonçalves de Oliveira e João Paulo Streapco.

Atualmente, 55 alunos participam deste projeto, que possui encontros semanais com duração de 45 minutos. As atividades externas, dizem os professores, acontecem bimestralmente, de acordo com o planejamento apresentado no início do ano letivo. Ao final de cada ano há uma cerimônia para a entrega dos certificados aos voluntários do ano.

“As propostas de atividades são desenvolvidas a partir do estudo e observação das necessidades específicas das instituições parceiras do colégio. Atualmente, temos 10 instituições parceiras que contam com a ajuda financeira arrecadada durante a Festa Junina Sabin, evento no qual a participação de toda a comunidade é voluntária”, destacam Tema e João.

A partir dessa ação, os voluntários do Sabin já trabalharam na revitalização de parque infantil da CEI Salvador Lo Turco; na integração junto aos assistidos e divulgação do trabalho da Pestalozzi de Osasco; na campanha para melhoria da coleta seletiva de materiais recicláveis do colégio, junto à Recicla Butantã, por exemplo. “O projeto voluntariado permite que os alunos vivenciem situações voltadas ao autoconhecimento, à colaboração, à conscientização da sua importância como agentes transformadores e do despertar para a cidadania, integrando estes aspectos com a formação mais ampla oferecida pelo colégio pelo curso regular”, finalizam.

 

Saiba mais:

Aleluia Heringer Lisboa Teixeira – contagem@santoagostinho.com.br

Paulo Procópio da Silva – paulo.procopio@eniac.edu.br

Ricardo Santos Chiquito – arqui@colegiosmaristas.com.br

Telma Gonçalves de Oliveira e João Paulo Streapco – atendimento@albertsabin.com.br

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