Matéria publicada na edição 115 | Fevereiro 2016 – ver na edição online
em 2015, a preocupação com o lixo que aumenta a cada dia e os diversos fatores que compõem nossa relação com o meio ambiente merece destaque em todas as esferas sociais – inclusive na educação” Fernando Carraro.
Sustentar, cuidar, proteger, comprometer, desenvolver, transformar, conscientizar. Todas essas definições podem ser acopladas em diversos espaços sociais – seja ele empresarial, público, privado, cultural, estudantil e tantos outros. Destacar a importância que o conjunto dessas definições implicam no cotidiano urbano denotam problematizações amplas que necessitam reflexões densas e ações práticas emergentes.
Quando pensamos no termo sustentabilidade algumas definições projetam em nosso consciente de forma singular. E, nas últimas décadas, a urgência do discurso da sustentabilidade ganhou força em todos os aspectos, envolvendo a relação e interferência do homem no meio ambiente, seu desenvolvimento social e a promoção de uma educação pautada pela sustentabilidade – ou para um futuro sustentável. Os debates sustentáveis anunciam (não só) uma preocupação intensa com o futuro que nos aguarda, como a conscientização educativa, critérios de equilíbrio ecológico, construção de um pensamento socioambiental e o cuidado plural que deve existir do ser humano com o espaço que ele habita e transita. Assim, nasce uma nova perspectiva de abordagem em sala de aula: a ecológica.
Fernando Carraro, formado em História, Geografia e Pedagogia, autor de livros publicados pela FTD Educação sobre a preservação da vida no planeta, diz que a educação sustentável “visa preparar o aluno a viver de forma consciente e responsável na maneira de se relacionar com o meio em que vive e de usar os seus recursos naturais; que prega o desenvolvimento sustentável em harmonia com o meio ambiente, ou seja, com o mínimo de agressões, fazendo de cada atitude em relação a ele, uma ação responsável”.
A educação para a transformação implica superar a visão generalista de participação no espaço ambiental e promover a relação deste espaço com nosso convívio.
Observando essa necessidade, alguns projetos podem ser inseridos em questões físicas e arquitetônicas, bem como em ações sociais que beneficiem essa troca de cunho social e humanitária.
Segundo Fernando, quanto aos primeiros passos a serem percorridos para se garantir uma escola sustentável, a lista de elementos que deveriam ser empregados: empregos de materiais considerados ecológicos (tijolos, tintas, madeira) produzidos de forma sustentável; redução da produção de entulho através do aproveitamento para reciclagem ou aterros de toda sobra de materiais a serem descartados da obra em construção; janelas amplas e paredes claras, lâmpadas LED, telhado e áreas verdes, para economia de energia dispensando o uso de ar condicionado, ventiladores, de lâmpadas acesas…; reutilização da água da chuva para descargas nos vasos sanitários; limpeza dos pavimentos e rega de jardins; sacos de jornal nas lixeiras dos banheiros; instalação de painéis solares de células voltaicas para produção de eletricidade; introdução de containers para separação dos resíduos destinados à reciclagem; hortas a serem cultivadas pelos alunos; local para compostagem; bicicletário como forma de incentivar meios de transporte não poluentes; e acessibilidade para alunos com necessidades especiais.
Além de todos os elementos citados para a construção física de uma escola caracterizada como sustentável, a participação efetiva de professores, funcionários, diretores, alunos e pais sobre os planos a serem implantados a curto e longo prazos, é relevante para o envolvimento e proliferação de novas ideias e cultura sustentável.
“É importante também que o gestor que se propuser a lançar tal desafio, seja o primeiro a mostrar com o seu exemplo que de fato vivencia o que está propondo, até porque as pessoas podem não acreditar no que você fala mas acreditarão no que você faz. E o mais importante de tudo é que seus desafios sejam abraçados e compartilhados por todos”, ressalta Fernando. No ambiente educacional, base de construções e desenvolvimentos, ações começam a ganhar força para a conscientização e divulgação de práticas com o intuito de promover o pensamento sustentável.
A preocupação em ressaltar a importância da economia tanto hidráulica como elétrica em debates/aulas com o objetivo de sanar dúvidas e promover a conscientização ambiental, além da separação de resíduos, mobilização de toda a comunidade escolar e sua contribuição consciente, deve ser uma prática recorrente que garante efeitos satisfatórios no desenvolvimento do aluno e, consequentemente, em sua participação social.
AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS
Formar indivíduos sensíveis às desigualdades sociais e aos desafios ambientais também faz parte de uma educação de qualidade.
Por isso, além de oferecer um ensino que promove o olhar crítico sobre a realidade, o Colégio Albert Sabin, localizado na região oeste da capital paulista, contribui com oito instituições de amparo social e com projetos de preservação do meio ambiente, buscando mobilizar não apenas os alunos, mas também pais e colaboradores, para que se envolvam nessas iniciativas.
Dentre os principais projetos, destaques para: Coleta seletiva de lixo – Dispõe de recipientes específicos para coleta de resíduos recicláveis e orgânicos, espalhados por todo o colégio e devidamente identificados; Economia de Papel – Desde 2012, as circulares, que eram impressas e enviadas via alunos para os pais, passaram a ser encaminhadas apenas por e-mail, com link direto para a área restrita do site; Descarte de Pilhas, Baterias e Celulares – Todos são convidados a doar os materiais descartados para empresas parceiras que garantam sua destinação correta. Periodicamente, o Banco Santander recolhe os materiais descartados; Descarte de Medicamentos – O objetivo desta ação é que seja feito o descarte correto de medicamentos fora do prazo de validade, além da arrecadação daqueles que estão dentro do prazo e ainda lacrados. Todos os medicamentos recolhidos são destinados à unidade Básica de Saúde do Parque Viana, em Alphaville. Adriana Vaccari, Gerente de Marketing do Colégio Albert Sabin, diz que o Projeto recicla+ é o principal projeto ambiental da instituição.
Nele, existe a preocupação de caráter ambiental e social, tendo os alunos do 9° ano do Ensino Fundamental à 3a série do Ensino Médio como voluntários que desenvolvem ações em parceria com a Cooperativa recicla Butantã, localizada nas proximidades do colégio. “Incluir a criança desde cedo em pequenas ações ambientais a ajuda a se sentir parte da construção de um mundo melhor. Cooperar é ser solidário. Desenvolvemos atividades de conscientização com as crianças sobre a importância da preservação do meio ambiente. Trabalhamos a questão do lixo, dos cuidados com a natureza, da poluição e do desmatamento”, afirma Adriana.
O recicla+ foi lançado em abril de 2013 e os números das coletas de 2015 são expressivos: 12.189kg de resíduo reciclável, 6.452kg de papel e 1.200 litros de óleo. Além de 2.436 pilhas, 241 baterias e 4.072 medicamentos (entre válidos e vencidos). “Decidimos criar projetos de sustentabilidade justamente por acreditarmos que, ao assumir um compromisso com as comunidades mais carentes e com as futuras gerações, o indivíduo passa a desempenhar um papel social construtivo e transformador, condizente com o espírito humanitário do nosso patrono, Albert Sabin, e com as demandas do planeta no século XXI”, explica Adriana.
CASAS SUSTENTÁVEIS
O projeto colaborativo Casas Sustentáveis, realizado no primeiro semestre de 2015 por cerca de 1300 alunos, de 31 escolas usuárias do Educacional – conjunto de soluções voltadas à Educação Infantil, ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio, criado pela Positivo Informática Tecnologia Educacional, mostrou que a tecnologia pode ser uma grande aliada em ações de cidadania e a favor do meio ambiente.
Estimulados a procurarem soluções sustentáveis para problemas como a escassez de água, uso da energia, tratamento do lixo, redes de esgotos e edificações, os alunos entrevistaram corretores, arquitetos e engenheiros, pesquisaram preços, fizeram orçamentos e criaram projetos reais para aproveitamento de energia solar, captação de água da chuva, substituição de telhados tradicionais por telhado verde, construções de casas com garrafas pet, implantação de cisternas etc.
“A maior preocupação dos alunos foi com o destino da água. Observamos que 70% das soluções apresentadas trataram da reutilização do recurso natural, prova de que eles estão antenados com a crise hídrica que estamos enfrentamos no Brasil”, explica Patricia Sprada Barbosa, Coordenadora Pedagógica do Educacional. 15% dos projetos foram de edificações, e os outros 15% dividiram-se entre ações de economia de luz, tratamento de esgoto e lixo – 5% cada.
Os alunos participaram de três desafios: primeiramente pesquisaram e identificaram soluções sustentáveis pela cidade. Depois pensaram e apresentaram uma solução para compor uma casa sustentável, com pesquisa de materiais e orçamentos, e, por último, escolheram, entre as soluções possíveis, uma para construir a própria casa sustentável.
Cada uma das fases foi acompanhada por outras instituições, alunos e professores conectados ao Educacional. Da mesma forma que em uma rede social tradicional, os participantes puderam “curtir” os posts, comentar e compartilhar fotos e vídeos dos processos. “Interação, colaboração, interdisciplinaridade e aprendizado na prática são os pilares da educação no século xxI e foram também a base do Casas Sustentáveis”, completa Patricia.
O Colégio Henrique I, de São Paulo, participou desse projeto apresentando uma solução com o objetivo de reutilizar a água até mesmo para consumo e criaram um filtro com garrafa pet, pedras de cascalho e carvão vegetal. O custo estimado do projeto foi de R$20 e gerou uma economia de até 40% na conta.
Com 23 participantes do 9° ano do Ensino Fundamental, “os alunos tiveram um excelente desempenho, sempre buscando, pesquisando e trocando informações em sala com os colegas”, completa Selma Guirardeli, Coordenadora Pedagógica do Henrique I. Para o colégio, refletir sobre a complexidade ambiental abre oportunidade para compreender o surgimento de novos atores sociais que se mobilizam para um processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a colaboração.
“O desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora em dois níveis: formal e não formal. Assim, ela deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades”, salienta Selma.
O Colégio Estadual Erich Walter Heine, em santa Cruz, Rio de Janeiro, recebeu em 2013 a certificação lEED de primeira escola totalmente sustentável do Brasil e de toda a América latina. A unidade escolar foi construída pela ThyssenKrupp CsA em parceria com o Governo do Estado e a Prefeitura do Rio de Janeiro dentro de padrões que geram redução de até 40% no consumo de energia. A certificação lEED é concedida pela U.s. Green Building Council, entidade sem fins lucrativos e para garantir o selo específico para escolas, é necessário cumprir certas exigências, como: a apresentação de um relatório ambiental da qualidade do solo, para que não seja perigoso