Por Renato Júdice de Andrade
Antes de você iniciar a leitura, ressalto que o tema deste artigo é educação, e não a luta sem trégua entre taxistas e o aplicativo Uber.
Taxistas têm ironizado os motoristas dos carros pretos do Uber, como se estes tivessem como diferenciais somente as balas e a água oferecidas aos passageiros. À luz dessa situação, e da polêmica que a mesma suscita, que tal empreender uma análise sobre as escolas brasileiras?
Enquanto o Uber propõe um conceito no qual o cliente é o epicentro do negócio, o taxismo privilegia o bem-estar da categoria profissional, sua sobrevivência, e refuta a concorrência. Não é raro encontrar taxistas que só aceitam pagamento em dinheiro, recusam trajetos e infringem normas de trânsito quando conduzem “passageiros” (e não “clientes”).
Pois o modelo de gestão escolar e a filosofia de ensino seguidos no Brasil têm muito a ver com o nosso combalido serviço de táxi: a maior parte das escolas brasileiras persiste no taxismo, ou seja, não privilegia o aluno no centro da aprendizagem, na posição de protagonista da educação.
As profundas transformações sociais registradas nas últimas décadas, bem como o advento da economia do compartilhamento, impõem agora aos educadores a criação de uma nova escola. O modelo atual de ensino, assim como o serviço de táxi, está próximo da caducidade.
Na nova escola as aulas raramente serão expositivas, para incentivar alunos criativos e críticos, empreendedores. O professor assumirá uma posição de orientador, provocador e não a de um mero transmissor de conteúdo. A escola do século XXI remete a uma empresa da economia criativa, ancorada na atmosfera digital.
Não se engane: se a escola de seu filho se orgulha por ter instalado uma lousa digital ou distribuído tablets em sala de aula, mas mantém o aluno como ser passivo e o professor como ator principal do ensino, está mais próxima do taxismo do que da era digital e da economia do compartilhamento.
A maior parte de nossas escolas permanece no século XVIII. Seu modelo de ensino foi forjado durante a Revolução Industrial, que deu origem ao conceito de “transmitir conhecimento”.
De lá para cá trocou-se a lousa pelo quadro digital, o design dos uniformes, o giz pela caneta e o caderno pelo tablet, mas o aluno permanece ainda um espectador passivo. Em vez de compartilhar conhecimento, a instituição de ensino dita atual quer “entregar conhecimento”. Nós não acreditamos mais neste modelo!
A diferença entre a escola do século XVIII e a que vislumbramos para as próximas décadas é a mesma que separa os taxistas e o Uber: uma quer manter o processo, a outra, inovar para obter resultados e agregar valor ao cliente.
Enquanto a escola “da antiga” insistir em controlar o processo de aprendizagem, com cronogramas, planejamento, livro didático, “provas” e “entrega de conhecimento”, viveremos uma crise profunda no tocante à qualidade da educação, crise semelhante à que caracteriza o serviço de “transporte de passageiros”.
Não deveremos nos assustar, portanto, com o avanço de poucas escolas que estão ousando romper paradigmas do passado, de forma avassaladora e disruptiva, como o século XXI nos exige. Por sinal, lá no século XVI apareceu um maluco dizendo que o Sol, e não a Terra, era o centro do cosmo. Mais tarde comprovou-se que Nicolau Copérnico estava certo.
Diretor geral do colégio Elvira Brandão e diretor pedagógico da Tuneduc. É físico e doutor em Educação.