Se para os adultos já é difícil gerenciar a uma dieta com restrições alimentares, imagine controlar a alimentação de uma criança. Muitos pais são desafiados todos os dias a mandar seus filhos para escola e para o mundo sem que eles acabem ingerindo os alimentos que desencadeiam sintomas desagradáveis e, na maioria das vezes, muito perigosos. É o caso das crianças celíacas ou as que têm intolerância à lactose.
As crianças, além de muito curiosas, sentem necessidade de repetir o padrão de comportamento dos colegas, para não ficarem excluídos do grupo social. E isso inclui compartilhar a merenda ou comer o mesmo tipo de alimento que os demais. Somado a isso, há sempre o perigo de contaminação por outras vias (utensílios e objetos contaminados) ou pelas substâncias “escondidas” nos alimentos. Um professor, funcionário ou parente pouco familiarizado com o problema pode não notar uma substância proibida na composição do produto que está oferecendo à criança.
Vivemos em um momento, no qual as indústrias de alimentos, alertadas para as necessidades das pessoas com restrição de alimentos, estão fornecendo uma série de produtos compatíveis com as possibilidades de alimentação dessas pessoas, com rótulos adequados. Associações dos portadores de cada uma dessas restrições surgiram, se desenvolveram e se dedicam a ensinar como enfrentar a restrição alimentar sem perda na qualidade de vida, sem perda do prazer de comer.
Entretanto, a vida dos pais de crianças com restrições alimentares não se tornou mais fácil. As cantinas de várias escolas regulares, escolas de natação, balé, música, etc. estão repletas de coxinhas, empadinhas, pães de queijo, batatinhas fritas, salgadinhos, enfim, petiscos gordurosos e farinhentos. Abundam doces, balas, chocolates, muitas vezes até mesmo de qualidade duvidosa, para serem mais baratos.
Um grande número de crianças, nos dias de hoje, faz lanche e almoçam na escola. Ainda que alguns colégios anunciem ter orientação nutricional e ofereçam cardápios alternativos para as crianças com restrições; estão bem longe de oferecer uma alimentação de fato saudável e atraente aos seus alunos. As queixas dos pais à orientação das escolas parecem inócuas frente à permanência de alimentos de baixa qualidade nutritiva e de alto teor calórico.
É absurda, e mesmo antiética, a colocação de recipientes cheios de balas nas salas de espera de academias de esportes, dança e nos consultórios médicos e clinicas para crianças. Fica difícil a vida das crianças que não podem comer de tudo, frente a essa exposição de guloseimas muito pouco saudáveis para qualquer um. E torna complicada e muito sofrida a vida dos pais que têm que impor um controle a seus filhos a despeito da oferta desrespeitosa de instituições que, ao contrário, deveriam prezar uma qualidade de vida saudável para as crianças que as frequentam.
As crianças, pela idade, ainda não adquiriram o controle sobre os impulsos e necessitam da ajuda de seus pais para não comer tudo o que lhes atraem. Precisam se alimentar para crescer de modo saudável e podem aprender a apreciar aquilo que podem comer. Embora seja uma tarefa árdua para os pais, cuidar da boa alimentação de seus filhos é imprescindível, principalmente em uma época de tanto consumo, na qual são ofertadas, com abundância, guloseimas que só fazem mal para a saúde.
Devido à dieta restritiva, as crianças podem sentir-se isoladas, diferentes e até mesmo excluídas do grupo quando não são recebidas de forma inclusiva pela escola. Por não saberem lidar com essa situação e por medo da criança ingerir algum alimento com leite acidentalmente, alguns pais e professores optam por isolá-la durante o recreio ou evitam que ela participe dos lanches coletivos, das festas e datas comemorativas. Essa conduta é um paradoxo uma vez que apesar de ser um cuidado extremo pode acarretar consequências psicossociais traumáticas à criança.
O lado psicológico dos envolvidos está diretamente relacionado à situação de exclusão e isolamento que é colocada pela escola. As crianças acabam sentindo-se diferentes e excluídas do grupo de amigos quando não são recebidas de forma inclusiva pela escola, podendo acarretar consequências emocionais, psicológicas e psicossociais gravíssimas.
E é muito difícil para os pais verem os filhos nesta situação, pois provoca sofrimento e indignação. Em primeiro lugar, é preciso que os pais saibam que é direito da criança frequentar a escola pública, ou articular se for a escolha dos pais, tendo suas necessidades atendidas, e os pais podem e devem brigar por este cuidado com o filho. Vale a pena insistir porque é um direito. Porém, estamos lidando com pessoas. Se os pais percebem que a escola não está trabalhando em parceria, que o filho vem se sentindo humilhado, isolado, desprezado e tem condições de buscar uma escola que realmente trabalhe de forma inclusiva com as crianças, esta é a melhor alternativa.
Porém, quando não há vagas e os pais não tem condições de pagar por outra escola, devem sim lutar pelos seus direitos veementemente, buscar um profissional da área da psicologia para auxiliar a criança a lidar com estas dificuldades.
A escola é um ambiente importante não apenas na educação da criança, mas também para o desenvolvimento da socialização, construção de identidade, autoestima, e cidadania, e deve atuar de maneira inclusiva.
A criança com restrição alimentar é uma criança normal que não pode e não deve ser tratada de forma diferente das demais. Há inúmeras estratégias que as escolas podem seguir para que estas sintam-se inseridas em momentos de refeições coletivas, como recreio, festas de confraternização, etc. , de auxiliar o grupo a compreender as questões alimentares e as diferenças, de agir em conjunto com os pais para que estes possam, caso a escola não tenha condições, providenciar alimentos para a criança equivalentes ao que as outras comem em dia de festa, etc., oferecer em alguns dias a dieta restritas para todos os alunos.
A criança precisa sentir-se bem ao frequentar a escola, sentir-se parte dela, brincar, fazer amigos e manter suas atividades como qualquer outra. Em casa, é importante que os pais trabalhem no sentido de conscientização da criança do porquê da respiração alimentar, mostrando que cada pessoa tem suas diferenças, a dela é esta mas existem outras diferenças também, evitarem vê-la também como a diferente, a rejeitada, com pena, pois ela precisa que ter sua autoestima fortalecida por meio de olhares de admiração, de estima, de reconhecimento de suas boas qualidades. Porém, muitas vezes isso não é suficiente para manter a autoestima da criança e o auxílio profissional faz-se necessário.
SERVIÇO:
Ana Paula Magosso Cavaggioni psicóloga da Clia Psicologia e Educação
Psicóloga Clínica – Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).
Especialização RAMAIN – Cari Psicologia e Educação
Especialização DIA-LOG – Cari Psicologia e Educação
Pesquisadora convidada do IPUSP – Departamento de Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade.
Diretora da Clia Psicologia e Educação
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