Por Priscila Campanholo, diretora pedagógica da Escola Carlitos
A discussão sobre a pluralidade cultural está inserida no projeto de ensino oficial há décadas, e a Escola Carlitos busca de modo amplo e transversal abordar as múltiplas questões propostas por este tema. Durante o mês de março, por exemplo, em razão do Dia Internacional da Mulher, foram realizadas oficinas semanais com os alunos na biblioteca para discutir o papel da mulher na literatura. Essa foi uma atividade organizada pela bibliotecária e, além de discutir um tema relevante na perspectiva da diversidade, ainda apresentou textos literários importantes para os alunos: os 8º e 9º anos leram fragmentos de “Um teto todo seu”, de Virginia Woolf, que relata as dificuldades enfrentadas pela autora, por sua condição de mulher, de sobreviver em seu ofício de escritora; já os 6º e 7º anos discutiram “Eu sou Malala: a história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã”. Para finalizar o mês, por sugestão das alunas, as duas oficinas foram reunidas, e o livro “Para educar crianças feministas”, de Chimamanda Ngozi Adichie, nova aquisição da biblioteca, foi apresentado a elas. Concomitantemente a esse projeto de leitura, foi feita uma ocupação dos murais da escola com informações em língua portuguesa, francês, espanhol e inglês (línguas estudadas na escola) sobre a representatividade das mulheres na política.
Outra ação da escola com a finalidade de proporcionar experiências culturais diversas e plurais aos alunos ocorreu durante o festejo do carnaval. Durante o mês de fevereiro, o professor de Educação Física desenvolveu com os alunos um projeto de samba de roda, manifestação cultural considerada patrimônio imaterial da humanidade pela UNESCO. Os alunos aprenderam a história da dança, alguns passos, cantos e, na semana do carnaval, receberam na escola um grupo de samba de roda do Recôncavo Baiano, comandado por Nega Duda, representante importante deste ritmo.
Os murais da escola apresentam frequentemente discussões sobre a diversidade. Atualmente, há uma análise das propostas de governo dos candidatos à presidência da França no que tange às diferenças (políticas de igualdade racial, igualdade de gênero, políticas de imigração). Também, nos horários dos intervalos organizamos playlists que ampliam o repertório cultural dos alunos e apresentam músicas de diversas regiões do Brasil e do mundo, colocamos os alunos em contato com ritmos tradicionais e conhecidos, propomos o acesso a cantos em diferentes línguas para que possa, assim, habituar-se a outros sotaques, outras formas de expressão cultural.
Por fim, no estudo de literatura, empreendemos um grande projeto de estudo da diferença a partir dos textos literários. Neste projeto, chamado “Somos todos diferentes”, os alunos leram poemas, contos, romances que abordavam literariamente a diferença em todas as línguas estudadas na escola (inglês, espanhol, francês e português). Ao longo desse estudo, que resultou em uma apresentação de declamações dos textos analisados em classe, os alunos estudaram desde a diferença que se apresenta na aparência física, até a diferença no encontro com outras realidades: o estrangeiro, o migrante, o imigrante, encontros entre os colonizadores e os povos autóctones da América, entre personagens de diferentes classes sociais, entre personagens de diferentes tempos e lugares. Nesse projeto, por exemplo, alunos do 7º ano leram “O Alienista”, de Machado de Assis, para discutir as relações entre a ideia de normalidade e anormalidade; estudaram em espanhol a canção “Venas Abiertas” (Veias abertas) de Mercedes Sosa, em que se problematiza o sentido de ser latinoamericano; os alunos do 8º ano, estudaram poemas em francês, entre eles o belo poema “Cher Frère Blanc” (Caro irmão branco), do senegalês Léopold Sédar Senghor, em que o poeta questiona a expressão “homem de cor”.
O grande interesse em trabalhar de forma tão constante esses temas é o de promover a formação do aluno em sua dimensão socio-cultural, é o de promover o reconhecimento da diferença como formadora da própria identidade do aluno, é o de promover diálogos e ações mais justas e menos preconceituosas.