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Conversa com o Gestor — E.E. Aquilino Ribeiro

Matéria publicada na edição 67 | Abril 2011 – ver na edição online

Integrante de um programa piloto de tutoria de professores, coordenadores pedagógicos e coordenadores de pais, empreendido na Zona Leste de São Paulo pela Fundação Itaú Social em parceria com o Instituto Fernand Braudel e a Secretaria Estadual de Educação, a Escola Estadual Aquilino Ribeiro tem colhido bom desempenho junto ao Idesp.

A “GRANDE VIRADA” A PARTIR DO RESGATE DO COMPROMISSO COM A APRENDIZAGEM

Integrante de um programa piloto de tutoria de professores, coordenadores pedagógicos e coordenadores de pais, empreendido na Zona Leste de São Paulo pela Fundação Itaú Social em parceria com o Instituto Fernand Braudel e a Secretaria Estadual de Educação, a Escola Estadual Aquilino Ribeiro tem colhido bom desempenho junto ao Idesp. Mas esse é apenas um dos benefícios trazidos por uma gestão focada na cobrança rigorosa das responsabilidades dos educadores, familiares e alunos.

Às vésperas da divulgação do desempenho de cada escola junto ao Idesp de 2010 (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo), gestores, professores e demais funcionários da Escola Estadual Aquilino Ribeiro, localizada em Guaianases, zona Leste de São Paulo, andavam bem ansiosos. O cumprimento total, parcial ou até mesmo superior às metas estabelecidas pelo governo iriam se converter em bonificação salarial para a equipe, a ser paga em princípios de abril (Os resultados foram divulgados após o fechamento desta edição). No ano passado, cada profissional da Aquilino recebeu 2,9 salários a mais por conta das boas médias obtidas no Índice de 2009 (Veja quadro na página 12), 20% maiores que aquelas previamente estipuladas. Já com relação às médias de 2010, havia o temor de que a introdução da avaliação de Física pudesse comprometer o patamar mínimo projetado para a escola pela Secretaria de Educação. “Trabalhamos muito para atingir o rendimento proposto, mas esta é uma área muito defasada, não temos profissionais com formação específica”, observou a diretora Maria Tereza Simões de Almeida.

De qualquer maneira, independente do desempenho final alcançado em 2010, a Aquilino Ribeiro pode comemorar “a grande virada” que conquistou em quase dez anos de um trabalho de gestão fortemente baseado na disciplina e organização escolar. “Enquanto não se organizar a disciplina da escola, a escola não anda”, observou Maria Tereza em entrevista à Revista Direcional Escolas, durante uma verdadeira roda de conversa realizada na escola em conjunto com a Fundação Itaú Social e o Instituto Fernand Braudel para a produção deste Perfil da Escola. A Aquilino Ribeiro é uma das dez unidades da rede estadual que participam do Programa de Excelência em Gestão Educacional, uma experiência piloto lançada pela Fundação com a parceria do Instituto e da Secretaria de Educação. Diretora efetiva da escola desde 2005, Maria Tereza implantou como norma na instituição um beabá básico para qualquer ambiente profissional: “trabalhar todos os dias e cumprir com as obrigações”, regras válidas não somente à própria gestora, mas a todos os seus funcionários. Isso atraiu o piloto de Excelência em Gestão.

”UMA ESCOLA ORGANIZADA AJUDA O ALUNO A FICAR”

“Quando cheguei, faltava organização, disciplina e, sobretudo, professor, que não vinha trabalhar”, lembrou Maria Tereza. “Este ainda é um problema sério da rede, todos nossos professores estão contratados, mas no dia em que um falta, vira um transtorno. Antes, porém, havia um abuso de atestados médicos e de dentista, até que uma Resolução da Secretaria de Estado, de 2008, impôs o limite de um atestado por mês”, observou a diretora. Ela implantou um sistema de agendamento de falta abonada, “embora o professor não goste muito”. Pela regra, a direção abona apenas uma falta por dia entre os docentes, que têm que agendar quando e porque pretendem se ausentar. “Assim, a coordenadora consegue organizar o turno de forma a que o professor eventual cubra esta lacuna, mas houve dias em que mesmo com o eventual tivemos dificuldades para dar conta”, afirmou Maria Tereza.

A diretora destacou que faz parte de suas atribuições decidir pela concessão ou não do abono ao professor, o qual possui o direito legal a seis faltas por ano. “Esse abono deve ser dado somente se não atrapalhar a área pedagógica da escola”, disse Maria Tereza, critério que procura cumprir com rigor. Segundo observou Claudia Romero Codolo de Carvalho, coordenadora técnica do Programa pelo Instituto Fernand Braudel, ex-tutora no Programa de Excelência, “o grande problema é que muitas escolas não adotam essa prerrogativa, o que seria fundamental para que funcionassem”. Claudia ressalvou, no entanto, que entre as dez escolas atendidas pelo programa, “temos muito professores comprometidos, excelentes profissionais. E quando a escola é boa, os professores querem trabalhar, pois a instituição dá as condições e o respaldo necessário”.

Para chegar a este ponto, a primeira medida que um gestor deve adotar é “colocar cada funcionário para trabalhar dentro de sua função”, conforme sugeriu Maria Tereza. Na Aquilino Ribeiro, por exemplo, “todo mundo era diretor da escola”, ou seja, cada um determinava onde, como e com que tarefas atuaria. Desde 2002, quando esteve pela primeira vez na direção da escola (como não efetiva), Maria Tereza fez “com que cada um assumisse o seu trabalho, pois se a pessoa não estiver ali, onde é preciso, o resto não funciona”. “Há uma obrigação moral pelo trabalho, não estamos aqui fazendo favor para ninguém, mas sendo pagos para isso”, destacou Maria Tereza, considerada uma gestora “linha dura” entre os seus pares. “Eu converso, peço, explico, mas, quando não dá certo, adoto as medidas necessárias”, disse.

É um estilo de gestão rigoroso “no sentido de se organizar a escola e estar correta nos propósitos”, conforme avaliou Maria Carolina Nogueira Dias, da Fundação Itaú Social e uma das coordenadoras gerais do Programa de Excelência. Na verdade, o que está em debate não é a aprovação ou não dos procedimentos de um diretor, mas o fato de que “uma escola organizada ajuda o aluno a ficar”, observou, por sua vez, a tutora de Língua Portuguesa, Márcia Cristina Giupatto. Além disso, segundo acrescentou Fernanda Cristina Cruz, professora coordenadora do Fundamental II, a organização acaba repercutindo em mudanças no perfil do próprio estudante, o que facilita o trabalho do professor em sala de aula. “Há escolas em que o professor tem que cuidar para que um aluno não machuque o outro. Aqui os alunos têm uma dinâmica diferente, não fazem o que querem”, comentou.

DE “AQUILIXO PARA “AQUILUXO”

Um dos procedimentos simples de gestão que ajudaram a colocar a casa em ordem foi instituir uma rotina “de horário de entrada e saída de funcionários e alunos”. Na Aquilino, as regras de convivência são anunciadas logo no primeiro dia de aula, em uma grande reunião realizada com a participação de pais e alunos. “Isso permite ao professor impor as normas adequadas à sala de aula logo de cara, estabelecendo uma porta para o diálogo, mas, ao mesmo tempo, pontuando o que é interessante para o convívio neste ambiente”, observou Fernanda. Segundo ela, o encontro com os pais permite ainda que estes deem as suas sugestões, legitimando todo o processo.

O principal resultado deste trabalho é “não ver mais alunos pulando o muro, mas sim respeitando o espaço da escola”, conforme destacou a coordenadora do Instituto Braudel, Claudia Romero. O fim das escapulidas carrega uma simbologia forte, pois remete à “grande virada” conquistada pela escola sobre a sua imagem de dez anos atrás, quando era rejeitada pela comunidade e tratada pelo apelido depreciativo de “aquilixo”. “Temos hoje na Aquilino Ribeiro uma escola funcionando dentro daquilo que se espera de uma escola, com um direcionamento de pais e alunos para o foco da aprendizagem”, resumiu a coordenadora da Fundação Itaú Social, Maria Carolina.

“Somos conhecidos agora como ‘aquiluxo’, os estudantes querem vir para cá”, destacou a coordenadora Fernanda, lembrando que hoje é grande a procura por vagas na instituição. Portanto, mais do que os bons indicadores no Idesp, a Aquilino Ribeiro comemora o resgate do clima de confiança que predomina entre todos – funcionários, equipe pedagógica, pais e alunos, fruto de um investimento diário e persistente na organização da aprendizagem de 1.600 estudantes.

RAIO-X

Turmas e turnos: 1.600 alunos divididos em Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio, aulas nos três períodos (manhã, tarde e noite);

Equipe gestora e pedagógica: diretora, vice-diretora, três professores coordenadores e 68 professores;

Programa de Excelência em Gestão Educacional: disponibiliza tutores aos professores de Língua Portuguesa e Matemática, aos coordenadores e uma coordenadora de pais;

Localização: Jardim São Paulo, Guaianases.

EVOLUÇÃO E CUMPRIMENTO DAS METAS DE RENDIMENTO no IDESP

A APOSTA NA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS EDUCADORES

Inspirados em iniciativas bem sucedidas da rede pública de escolas de Nova York, a Fundação Itaú Social e o Instituto Fernand Braudel estão desenvolvendo desde 2009 uma experiência piloto de aprimoramento dos profissionais da educação – coordenadores e professores de Língua Portuguesa e de Matemática. Por meio da figura de tutores, selecionados do próprio quadro de professores da Secretaria Estadual de Educação, a Fundação e o Instituto têm oferecido orientação e acompanhamento ao trabalho dos professores e coordenadores em dez escolas da região. Também instituíram a figura do coordenador de pais, uma pessoa contratada junto à comunidade para estabelecer uma aproximação entre a escola e as famílias.

O piloto, que será concluído no final deste ano, compõe o Programa de Excelência em Gestão Educacional da Fundação Itaú Social. Os resultados e as reflexões reunidas nesses três anos de trabalho serão posteriormente organizados e poderão ser disseminados para o restante do País. O mais interessante da metodologia é que ela não exige grandes investimentos físicos nem financeiros por parte dos sistemas de ensino. “A metodologia proporciona um ganho de escala sem necessidade de mexer muito nem de ampliar a infraestrutura. Ela revê algumas funções e papéis”, observa Maria Carolina Nogueira Dias, da Fundação Itaú Social. Ou seja, aproveita os recursos, as diretrizes e os materiais didáticos que já se encontram disponíveis na rede.

Na prática, o programa apóia uma melhor organização do HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo); ajuda a estabelecer horários exclusivos de atendimento aos pais e de entrada e saída em sala de aula; oferece orientação ao professor coordenador de forma a que conheça melhor suas funções, entrando, inclusive, em sala de aula para acompanhar o trabalho do professor; e trabalha os professores de Língua Portuguesa e de Matemática. Neste caso, os tutores proporcionam aos docentes ensinamentos de “gestão de sala, de gestão da aprendizagem do aluno e de gestão do planejamento da aula”, explica Maria Carolina. Já Claudia Romero, ex-tutora e atual coordenadora técnica do programa junto ao Instituto Fernand Braudel, acrescenta que o tutor coloca-se “ao lado do professor”, “encorajandoo a colocar em prática o trabalho em equipe, ‘o fazer junto’”.

A adesão ao trabalho dos tutores é voluntária, tanto entre os professores quanto coordenadores, mas os responsáveis pelo programa vêm observando um interesse cada vez maior entre os educadores das dez escolas. “Cada vez mais eles permitem que os tutores entrem em sala de aula, o que é um indicador interessante do sucesso do programa”, aponta Maria Carolina. Já entre os professores coordenadores, a adesão é de 100%, mesmo porque, segundo lembra a coordenadora do Fundamental II, Fernanda Cristina Cruz, a rede estadual não proporciona formação específica nem preparo para o exercício desta função. “O tutor nos ajuda a modelar, a saber como avaliar o professor em sala de aula e, depois, a saber o que fazer com essas informações”, diz. Para o conjunto das dez escolas, o Programa de Excelência disponibiliza três tutores de Língua Portuguesa, três de Matemática e dois para os professores coordenadores.

Finalmente, o coordenador de pais, função exercida na Aquilino Ribeiro por Maria Aparecida Alexandre Custódio, em carga horária de 40 horas semanais, incluindo o período noturno, tem o desafio de trazer os pais à responsabilidade pela educação dos filhos. A ideia é antecipar-se a um potencial risco de evasão, colocando a escola em contato com a família. Quando necessário, a coordenadora faz visitas domiciliares aos pais, ajudando a resgatar um clima de confiança e de cumplicidade. “Atualmente, registramos de 85% a 90% de adesão dos pais às reuniões, e aqueles que não podem vir se justificam para a coordenadora”, comenta Maria Carolina. Um trabalho que, segundo a coordenadora Fernanda, contribui para “mudar a disposição do aluno em sala de aula”.

Por Rosali Figueiredo

Saiba mais

CLAUDIA ROMERO CODOLO DE CARVALHO
Instituto Braudel
claudia@braudel.org.br

FERNANDA CRISTINA CRUZ
Professora Coordenadora do EFII
fernandacrcr@ibest.com.br

MÁRCIA CRISTINA GIUPATTO
Tutora
marcia@braudel.org.br
MARIA APARECIDA ALEXANDRE Custódio
Coordenadora de Pais
custodioaparecida@ig.com.br

FUNCAÇÃO ITAÚ SOCIAL
www.fundacaoitausocial.org.br

MARIA TEREZA SIMÕES DE ALMEIDA
Diretora
a.tereza@ig.com.br

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