O denso processo educacional permeia, na atualidade, reflexões, pesquisas e discussões que evocam, de certa maneira, problematizações que abarcam o cotidiano de todas as instituições de ensino – do pedagógico ao administrativo. No interior dessas reflexões, que ganham corpo na contemporaneidade, observamos um tema em comum: a inserção tecnológica na escola. As questões que se colocam, nesse momento, são: Como utilizar os recursos digitais para alavancar as instituições? Como (re)construir a escola para as novas gerações que são nativas digitais?
Com o intuito de promover um novo conceito em evento escolar, o ClassUP – Escolas Exponenciais, levou ao espaço Expo Center Norte (SP), na última quinta-feira (11.04), sua segunda edição do evento, focado em inovação e crescimento escolar do Brasil. Organizado pela Escolas Exponenciais (empresa que nasceu como spin off do ClassApp), líder nacional em pesquisa e apoio estratégico para instituições de ensino, o evento contou com mais de dez horas de programação, reunindo cerca de mil gestores, mantenedores e diretores de escolas particulares de todo país.
“O maior desafio da educação privada no Brasil não é conceitual e sim de aplicação. Construímos um evento que traz uma visão integrada de medidas práticas que podem ser adotadas para implementar inovação na gestão educacional. A ideia é transmitir de forma pragmática como isso deve ser feito, com que recursos, qual a melhor maneira de lidar com os desafios, entre outras orientações”, comenta Vahid Sherafat, CEO e fundador do ClassApp e idealizador do evento.
Com uma programação diversificada, unindo temas significativos, como tendências e métricas; comunicação e marketing; inovação e gestão; desafios e competências para o futuro; os painéis, que ocorreram ao longo do dia, trouxeram profissionais que estão fazendo a diferença no mercado de startups e educação, como: Miguel Thompson (Instituto Singularidades), Cristina Godoi (Colégio Albert Sabin), Cristina Conforti (Avenues São Paulo), Priscila Torres (Concept), entre outros. Além da palestra de encerramento com a ativista californiana Puneh Ala’i, que comanda a ONG global For The Unseen.
ALAVANCANDO O CRESCIMENTO
Durante a primeira apresentação, a consultora e palestrante Cláudia Vale discursou sobre a importância da experiência positiva do cliente (alunos e pais/responsáveis), bem como uma análise através da perspectiva e anseios dos próprios estudantes para provocar, de fato, emoções positivas nas vivências cotidianas dos estudantes.
“Algumas empresas, hoje, já estão se preocupando com ações que geram memórias positivas na cabeça dos clientes e, para isso, é preciso explorar o emocional de cada cliente. É a memória que gera a ação – positiva ou negativa. Há muitas ações comportamentais dos funcionários das escolas que refletem em experiências positivas nos alunos e pais/responsáveis, como há, também, ações que podem potencializar experiências negativas”, disse a palestrante.
De acordo com Cláudia, alguns caminhos podem ser trilhados para promover essas emoções e memórias positivas, como jornada do cliente, identidade da empresa e adaptação dos processos:
Jornada do cliente: É o momento de olhar todas as etapas que o aluno tem na escola e, para cada etapa, tentar identificar que tipo de emoção o estudante tem hoje. “Primeiro dia de um aluno na escola… Ele terá a mesma emoção de um aluno que já está na escola há muito tempo?”, questiona. “Se a sua escola só observa os processos e não olha para as emoções que os alunos têm, é possível que você tenha muita dificuldade em inovar nas experiências”.
Identidade da empresa: Em qual característica a sua escola quer ser reconhecida? Qual o tipo de perfil de alunos que sua escola quer construir? “A partir disso, você começa a dizer ao mercado que sua escola é reconhecida em tais aspectos, ou seja, se você diz que inovação é uma característica da sua escola, você tem que entregar inovação em tudo o que você faz, em toda a jornada dos alunos”, complementa.
Adaptação dos processos: Observando esses dois tópicos anteriores, é possível criar uma nova missão para a instituição e, consequentemente, para todos os colaboradores que transitam diariamente na escola. Com um novo conceito de missão, o escopo da escola também muda, tendo cada funcionário como um viabilizador de experiências – e não apenas um executor de processos.
“Permanecer centrado no cliente não é mais uma questão de escolha, é uma questão de sobrevivência, e a área da educação sofre pressão dos dois lados – tanto das mudanças socioculturais, como dos pais/responsáveis. A sobrevivência passa por você, em sentar na cadeira do aluno e enxergar o mundo com as lentes dele, com os anseios da atual geração de alunos. E, então, adaptar as experiências que vocês entregam. Quando começamos a identificar as dificuldades dos alunos, a inovação começa a brotar facilmente”, ressaltou a palestrante Cláudia Vale.
EXPERIÊNCIA E TECNOLOGIA
O palestrante Arthur Igreja, um dos A’s da plataforma AAA (ao lado de Ricardo Amorim do Manhattan Connection e Allan Costa), questionou no início da sua apresentação: “Por que está todo mundo tão preocupado com inovação e tecnologia? A grande mudança, para mim, não é tecnológica, mas comportamental”.
Segundo Arthur Igreja, palestrante em mais de 120 eventos por ano com foco em inovação e transformação digital, estamos no auge da interação tecnológica. E, além da mudança dos alunos (que já são considerados nativos digitais), é preciso compreender que as características e comunicações do mercado, sobretudo educacional, também mudaram.
“Como eu conheço o trabalho de uma escola hoje? Eu busco o perfil da escola nas redes sociais, no Facebook, no Instagram, ou seja, se a sua escola não está nas redes sociais, ela não existe. Se ela não está bem posicionada nesses meios, ela não existe, ela não é atraente”, destaca.
Através de uma breve reconstituição histórica durante sua fala, mostrando as mudanças impactadas nas relações sociais e nas formas de consumo, Arthur ressaltou que nos últimos quatro anos, em especial, a ascensão tecnológica representou um afastamento entre as pessoas e entramos, segundo ele, em uma “zona bem perigosa”. Em uma atualidade pautada por customização de experiências, aumento exponencial de canais no YouTube e formas dinâmicas de consumir informação, a escola precisa repensar estratégias metodológicas.
“O que falta para as escolas são experiências. O nosso desafio é criar algo que não está no digital, ou seja, a escola vai ter que se tornar um campo de experimentações, onde o aprendizado é uma experiência agradável para o aluno. E não usar tecnologia pela tecnologia”, afirma. “Eu sou um entusiasta da tecnologia e da inovação, mas estou convicto de que, no mundo da educação, há alguns discursos que estão deixando de lado. É preciso utilizar a tecnologia em lugares certos. Esse ponto me parece importante”.
PESQUISA SOBRE ENSINO PRIVADO NO BRASIL
Durante o evento, foi lançado um estudo que avalia o que os pais esperam da escola e o que mais desgasta a relação deles com as instituições de ensino, além de medir o índice de satisfação e fidelização das famílias em relação aos colégios. O estudo, que ouviu 150 mil pais de alunos de cerca de 350 instituições de todo o Brasil, apontou que ter um relacionamento próximo e participativo com a escola é o aspecto mais importante para 41% das famílias na relação com a escola dos seus filhos.
Para Vahid Sherafat, CEO e fundador do ClassApp e idealizador Escolas Exponenciais, as conclusões da pesquisa mostram que as escolas vão precisar repensar as formas de se relacionar, comunicar e se envolver com os pais. “Muito além das questões pedagógicas, os pais esperam uma maior proximidade das instituições, o que passa por uma comunicação direta e próxima entre as duas partes. Isso é ainda mais importante para aqueles pais da geração Y, que começam a ter seus filhos ingressando nas escolas e exigem que os colégios repensem formas mais eficientes de engajá-los”, afirma.
Segundo dados do estudo, o relacionamento próximo e participativo da escola com as famílias dos alunos chega a ser quatro vezes mais eficaz, do que a qualidade do material didático.
O segundo e terceiro fatores de influência mais comuns entre os respondentes foram o fato de a escola propiciar uma excelente educação quanto a valores morais e éticos – escolhido por 34% deles -, e o cuidado e atenção pessoal com os filhos, selecionados por 34%. Outros motivos também apontados como relevantes foram: a localização próxima de casa ou do trabalho (27% dos pais) e informações frequentes sobre as atividades pedagógicas, por 21% deles.
Realizada no segundo semestre de 2018, a pesquisa, com margem de confiabilidade de 95%, contou com a participação de pais de alunos de escolas de ensino infantil, fundamental e médio de todo país. Ela propôs que os participantes apontassem, entre 18 alternativas, quais seriam para eles os principais motivos pelos quais considerariam manter seus filhos na mesma escola no ano letivo seguinte.
Confira abaixo outras conclusões da pesquisa:
- Para os pais, a característica que melhor representa a escola de seus filhos é o comprometimento com o ensino (47%), seguida da humanização (31%);
- 88% dos pais que responderam a pesquisa consideram que a escola onde seus filhos estudam valoriza genuinamente a relação com os pais dos seus alunos;
- Em 91% dos casos, os pais ou responsáveis pelo aluno são os tomadores de decisão sobre as questões educacionais e escolares;
- Para mais da metade dos pais (55%), as questões financeiras não são as mais importantes no momento de tomar a decisão de manter os filhos na mesma escola;
- No entanto, entre os pais que cogitam trocar os filhos de escola por motivos financeiros, 47% buscam escolas com mensalidades mais baratas e 39% buscam uma negociação com a escola atual;
- 72% dos pais se sentem suficientemente informados sobre os progressos e desafios de seus filhos na escola;
- Na comparação por segmento, o ensino médio conta com o pior desempenho junto aos pais de alunos, sendo a categoria que tem a maior taxa percentual de pais insatisfeitos, 12%. Na outra ponta, estão os cursos livres que, segundo a pesquisa, concentram a maior porcentagem de pais promotores: 82%.
FEIRA DE NEGÓCIOS
Além dos painéis, das trilhas simultâneas e do lançamento dos dados da pesquisa, os participantes acompanharam as soluções e serviços para as escolas pelos patrocinadores na feira de negócios:
Patrocinadores Diamond: ClassApp, Explica Mais, Eskolare, Superlógica, Super Geeks, Nave à Vela, Apoio Estratégico, FTD Educação, Livres, Editora do Brasil e Mathema.
Patrocinadores Gold: Ponto de Referência, Ateliê Urbano, Peck Sleiman, Fundacred, YOU, Nuvem9Brasil, Guia Escolas, Iugu, Nutrebem, Playkids, Cel.lep, Estante Mágica, Instituto Singularidades, HighFive e Direcional Escolas.
Apoio: Amplifica, Hackademia, Alabama, Profes, iStart, Futurekids, Techcamps e Abstartups.
Saiba mais:
ClassUP – Escolas Exponenciais – https://escolasexponenciais.