Ícone do site Revista Direcional Escolas

Especial Educação — Redes Sociais Digitais: como a escola pode (e deve) incorpora esta nova plataforma

Matéria publicada na edição 74 | Dezembro 2011 – ver na edição online

As redes sociais digitais são hoje um dos meios mais utilizados na comunicação entre os jovens e adolescentes. Munidos de aparelhos mobile, tablets e computadores, eles trocam informações sobre a agenda escolar e compartilham atividades em grupo. Mais fluentes nesta linguagem que os professores, os estudantes precisam, no entanto, de mediação que favoreça a cidadania digital. É um novo papel a ser incorporado pelas escolas, que vê a aprendizagem extrapolar de vez o espaço da sala de aula.  

Por Rosali Figueiredo

Não se trata de modismo nem de querer demarcar um diferencial mercadológico sobre a concorrência. O uso das redes sociais digitais pelas escolas tornou-se uma necessidade e mesmo as instituições que ainda não pensaram sobre a questão, podem se preparar, pois, cedo ou tarde, terão que se render ao fato de que jovens e adolescentes se comunicam cada vez mais através de celulares, tablets, de computadores pessoais e com os da própria instituição. Por meio das redes, eles compartilham experiências, preferências, dão dicas de jogos, vídeos, músicas, reportagens e imagens. Aproveitam ainda para confirmar as lições escolares, agendar atividades em grupo, trocar informações sobre os trabalhos, distribuir textos, expressar opiniões e expor dúvidas.

“O aluno está numa situação de tecnologia que lhe permite se conectar a qualquer momento, eles próprios trazem portáteis conectados”, anota a coordenadora do Departamento de Tecnologia Educacional do Colégio Dante Alighieri, Valdenice Minatel Melo de Cerqueira. Comemorando seu centenário neste ano e com mais de quatro mil alunos, o Colégio está todo conectado à internet por meio de rede Wi-Fi, incluindo as salas de aula. Está iniciando também um processo de distribuição de tablets aos estudantes do Ensino Médio, em forma de comodato.

Mestre e doutoranda em novas tecnologias aplicadas à educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professora de pós-graduação na Universidade Mackenzie, Valdenice lidera uma equipe no Colégio Dante que tem a função de formar professores, promover a sinergia entre suas propostas pedagógicas e a aplicação desses recursos, bem como mediar o uso desses canais na aprendizagem e nos projetos interdisciplinares dos alunos. Implantado há pouco mais de dez anos, o Departamento tem auxiliado a comunidade escolar a construir uma nova postura digital, tanto para o uso pedagógico das ferramentas e quanto para as relações interpessoais.

Para outra professora especializada na área, Débora Sebriam, do Centro Educacional Pioneiro de São Paulo, o grande diferencial que as redes sociais digitais potencializaram sobre a tecnologia de informação foi a possibilidade de interação “de pessoas com as pessoas e não de pessoas com as máquinas”. Segundo Débora, as redes sociais digitais são hoje o recurso mais utilizado pelos alunos como forma de comunicação com o grupo. “É um meio natural para eles, pois se sentem muito mais a vontade, é uma comunicação mais dinâmica, participativa e que permite a interação. Eles se colocam mais que na sala de aula, expõem a opinião sem medo de retaliação, pois consideram as redes um espaço mais amigável.” Assim, elas “agregam bastante no contato, na aproximação com o aluno e no próprio processo pedagógico”, acredita Débora, responsável pela Tecnologia Educativa do Pioneiro e mestre em Engenharia de Mídias.

TRÊS RAZÕES PARA ADERIR ÀS REDES

O engajamento das escolas se encontra ainda em fase embrionária, avalia Eduardo Cardoso Junior, diretor de Tecnologia Educacional do Grupo Aymará, engenheiro eletrônico pós-graduado em Teleinformática e em Gerência de Projetos. Mas segundo ele, não haverá como fugir das novas plataformas. “A escola está buscando informações sobre isso, está sentindo necessidade de entender, porém ela ainda tem um pouco de medo da exposição.” Conforme Eduardo, há, entretanto, três fortes motivações para a adesão: “As redes sociais facilitam a comunicação, proporcionam aprendizagem colaborativa e oferecem oportunidade para exercitar a ética e a cidadania digital. Essa é a mais importante, porque o aluno já está na rede, o que leva a escola a ter que incorporar um novo papel, que está dentro das competências do século XXI. Talvez a escola nunca tenha tido uma ferramenta que facilitasse tanto a comunicação aluno – aluno, aluno – professor. Por exemplo, há uma dinâmica única para a discussão histórica no Twitter, ferramenta que está mais próxima do dia a dia do aluno, que faz com que ele reflita sobre o que está escrevendo. Ou seja, quando a escola adere às redes, ela cria espaço e oportunidade para um uso crítico, nisso ela exerce a função de formar ética e criticamente o aluno.”

Entre as escolas que aderiram, observam-se dois principais movimentos: um mais espontâneo, de iniciativa do professor ou de um grupo de estudantes, outro institucional. No Dante Alighieri, há perfis oficiais e também de grupos de estudos e de projetos extracurriculares publicados no Facebook. O Pioneiro, por sua vez, ainda não aderiu de maneira institucional. Mas alunos e professores acabaram criando seus espaços em redes como o Facebook (leia mais sobre essas experiências no site da Revista Direcional Escolas). Também no Colégio Joana D’Arc, localizado no bairro do Butantã, em São Paulo, docentes e alunos criaram perfis na rede, por iniciativa própria. É o caso do professor de História Rodrigo Abrantes da Silva, que vem mediando o Grupo Paratodos, do 3º ano do Ensino Médio, no Facebook. A previsão era encerrar a experiência ao final do mês de novembro, mas os alunos pediram que se mantivesse a página aberta, mesmo que inativa.

PROFESSOR CURADOR E MEDIADOR 

O foco deste grupo é o ensino de História, com a publicação de textos, vídeos e comentários, sob a moderação do professor. Mas qualquer um dos 33 alunos inscritos no grupo pode publicar o material que quiser. “É um ambiente virtual onde disponibilizo e desdobro materiais trabalhados em aula ou onde também surgem questões que retomo em aula.” Rodrigo observa que a experiência gera reflexos positivos sobre os trabalhos em sala de aula, “pois você sai de um modelo de educação centrado na relação vertical e vai para o modelo de rede, a informação vai se disseminando e isso mobiliza no aluno mais motivação para o aprendizado”. As regras de uso não estão expressas em papel, mas, segundo Rodrigo, “existe uma ética, nunca tive que fazer intervenção, pois desde o princípio ficou claro qual seria a finalidade do grupo”. O professor fica conectado o tempo todo, recebendo publicações via celular.

O fenômeno projeta outro papel e demanda mais disponibilidade dos docentes. Para Eduardo Cardoso, do Grupo Aymará, o professor se transforma em “mediador do debate e curador do conteúdo”, no sentido que ele deve “organizar, orientar e zelar” pelos interesses da aprendizagem. Valdenice Minatel, observa, por sua vez, que “o professor está se reinventando para trabalhar isso em sala de aula e quando se sentir pronto, ainda correrá o risco de ser superado por outra nova tecnologia”.  Valdenice propõe trazer o próprio aluno para deixar sua contribuição, já que ele tem mais disponibilidade para desenvolver fluência em mídias digitais. Ao professor, comenta, fica a dica de procurar entender e explorar a “essência de cada ferramenta, como o Twitter, que com seus 140 caracteres mobiliza diferentes habilidades, como o poder de síntese e a melhora da argumentação, o que traz reflexos positivos, por exemplo, na Matemática”.

CUIDADOS E MUDANÇAS INDISPENSÁVEIS

Caso não haja esse envolvimento, a adesão às redes corre o risco de ficar ”no oba oba” e, em lugar de favorecer a aprendizagem, “aprofundar alguns problemas que podem sim ser gerados por elas, como a invasão de privacidade, a confusão entre o público e o privado, o imediatismo, a extinção do tempo de esperar para falar, a falta do convívio mais presencial, a ausência de construção argumentativa e de sentido. Afinal, o que nos acrescenta simplesmente publicar que ‘vou comer’? Não podemos banalizar esse mural”, pondera Valdenice. Nesse sentido, Débora Sebriam deixa um alerta aos professores: é preciso cuidado para não confundir perfis pessoais, que expõem fatos de sua vida privada, com o profissional. Também nas páginas coletivas não deve haver espaço para brincadeira, sugere Débora, questionando “quais seriam as consequências de se falar uma besteira em grupo”.

Isso não significa, por outro lado, que deve haver controle sobre o que pode ou não ser publicado, sob pena de prejudicar o caráter colaborativo das redes. Os especialistas concordam, porém, que deve haver diretrizes para este uso, discutidas e definidas coletivamente. “Pode até ser em documento impresso, desde que se mantenha aberto e colaborativo, pois ele deve se adaptar conforme acontecem as mudanças”, pontua Débora. No Dante Alighieri, o Departamento de Tecnologia coordena o projeto E-Cidadão, que através de palestras, fóruns, publicações etc., voltadas a alunos, professores e demais funcionários, promove a “formação para uso ético e seguro da internet”, afirma Valdenice Minatel.

De qualquer forma, a partir do momento em que está na web, em rede, a troca de informações de um grupo deve ser acompanhada por um mediador, em geral, o professor, o qual precisaria de uma disponibilidade mínima de três horas diárias para atender a essa nova demanda, observa Débora Sebriam. Um único grupo no Facebook, segundo ela, exige no mínimo o acompanhamento de uma hora diária, o que deixa outro grande desafio às escolas e professores: “é necessário organizar de outra forma o trabalho docente”. Segundo Débora, “o próprio professor precisa perceber que o sistema hora/aula não cabe mais nessa nova realidade”.

EXEMPLO DE PUBLICAÇÃO DE NOTA EM GRUPO DO FACEBOOK

A partir da aula de amanhã, vamos reconstituir os eventos que levaram à grave decisão do lançamento das bombas atômicas, cujas consequências começamos a discutir a partir do vídeo Hiroshima.

Vou deixar aqui duas citações de referência, que iremos contextualizar em aula, ambas extraídas do livro ‘Dez decisões que mudaram o mundo’, do historiador Ian Kershall.

Aqui vão: 

Se perdermos a oportunidade atual de entrar na guerra, teremos de nos submeter aos ditames americanos. Reconheço, portanto, que é inevitável que tomemos a decisão de iniciar uma guerra contra os Estados Unidos. (Hara Yoshimichi, presidente do Conselho Privado, 5 de novembro de 1941)

 Daqui a dois anos, não teremos petróleo para utilização militar. Os navios deixarão de navegar. Quando penso no fortalecimento das defesas americanas no sudoeste do Pacífico, na expansão da esquadra americana, no Incidente Chinês inconcluso e assim por diante, não consigo ver o fim das dificuldades. Podemos falar de austeridade e sofrimento, mas será que nosso povo pode suportar uma vida assim por muito tempo?

 (Tojo Hukedi, primeiro-ministro japonês, 5 de novembro de 1941)”

Saiba mais

Débora Sebriam
deborasebriam@gmail.com

Eduardo Cardoso Junior
Eduardo.cardoso@aymara.com.br

Rodrigo Abrantes da Silva
Absilva.rodrigo@gmail.com

Valdenice Minatel Melo de Cerqueira
valdenice.minatel@cda.colegiodante.com.br

Sair da versão mobile