A soberania alimentar para os moradores do campo virou tema da sala de aula da Escola Técnica Estadual (Etec) Sebastiana Augusta de Moraes, em Andradina, na Região de Araçatuba, oeste do Estado. Esse debate está mudando a concepção da comunidade local sobre a produção de alimentos ao estimular o plantio e a disseminação das culturas agrícolas crioulas, uma prática adotada para obter produtos sem modificação genética.
Liderado pelo professor Leandro Barradas Pereira, o projeto tem como parceira a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo.
Inserido na disciplina de agricultura orgânica do curso técnico de Agronegócio, o projeto surgiu em 2014 com o resgate de espécimes locais. É na unidade Apta de Ilha Solteira que ficam armazenadas as sementes utilizadas no trabalho.
A iniciativa permite que a escola desempenhe um papel social importante em toda a comunidade, servindo como um centro de pesquisa e preservação cultural, já que as sementes – definidas como qualquer parte da planta que possa garantir sua propagação – são consideradas um bem público e carregam em sua história informações sobre seu ecossistema e sobre os povos nativos que as mantiveram intactas geração após geração.
A plantação é feita na Etec, propiciando aos alunos – todos moradores de áreas rurais – conhecer e dominar o plantio e a colheita. “Temos variedades de milho, feijão, arroz, mandioca e também adubos verdes, como crotalárias e mucunas”, explica Barradas. “De posse dessas sementes em suas propriedades, os estudantes ganham autonomia, pois essas culturas fornecem a base da alimentação.”
Fora da escola
Uma equipe de docentes da Etec buscou sementes na própria Região de Araçatuba, na Apta e no Vale do Ribeira, em comunidades quilombolas. Eles procuraram materiais conhecidos como crioulos, ou seja, tradicionais, nativos, sem modificação genética, e disseminados regionalmente. Essas culturas podem fazer frente a algumas imposições da agroindústria. No caso do milho, por exemplo, 99% da produção nacional é transgênica. Na Etec, as descobertas são compartilhadas com pequenos produtores rurais, quebrando esse ciclo.
O resultado é o protagonismo dos alunos como guardiões e disseminadores dos grãos, tubérculos e cereais mais apropriados para o cultivo em suas regiões e mais saúde e variabilidade nutricional para as famílias. Além disso, o projeto traz a possibilidade de expor e publicar trabalhos científicos sobre o tema, abrindo caminho para o Ensino Superior.
“A agropecuária precisa ser mais sustentável. O trabalho com sementes crioulas é de base e deve ser propagado e arraigado”, reforça uma das coordenadoras de projetos do Centro Paula Souza Raquel Fabbri. “Nosso papel é oferecer as técnicas adequadas para que isso possa acontecer.”
O próximo passo do trabalho é implantar uma câmara para a conservação das espécies testadas e produzidas na escola, consolidando a unidade como uma referência, o primeiro banco de sementes crioulas dentro de uma escola estadual em São Paulo.
Sobre o Centro Paula Souza – Autarquia do Governo do Estado de São Paulo vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, o Centro Paula Souza administra as Faculdades de Tecnologia (Fatecs) e as Escolas Técnicas (Etecs) estaduais, além das classes descentralizadas – unidades que funcionam com um ou mais cursos técnicos, sob a supervisão de uma Etec –, em aproximadamente 300 municípios paulistas. Nas Etecs, o número de matriculados nos Ensinos Médio, Técnico integrado ao Médio e no Ensino Técnico, para os setores Industrial, Agropecuário e de Serviços, ultrapassa 211 mil estudantes. As Fatecs atendem mais de 81 mil alunos nos cursos de graduação tecnológica.