A educação brasileira não poderá mais ficar restrita aos muros da escola. O professor deverá incentivar a criatividade e o pensamento crítico dos estudantes com a utilização das novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, e ele mesmo também terá que se aprimorar com competências mais complexas. Estes foram alguns dos caminhos apontados pelo IV Congresso Internacional Um Novo Tempo na Educação, encerrado na sexta-feira (2), em Curitiba.
Os três dias do evento, organizado pelo Instituto Casagrande, reuniram mais de 1,3 mil professores, gestores, prefeitos e secretários municipais e estaduais de educação, que acompanharam, de forma presencial, palestras, painéis e debates com alguns dos maiores especialistas e estudiosos da área educacional no Brasil – a participação on-line chegou a 50 mil espectadores.
“Conseguimos aqui, com certeza, tocar nos corações dos gestores educacionais, de prefeitos e secretários municipais e estaduais de educação, os quais vão para seus municípios e estados mais iluminados. Entendemos que não podemos mais ter a escola do passado, que ensine mecanicamente um aluno. Este deve aprender a pensar para resolver problemas que nem imaginamos que vão existir. Essa foi a lição final do Congresso. Fomos chacoalhados realmente para um novo tempo, a Inteligência Artificial derruba os muros da escola, e derruba o professor se ele não souber se inserir neste novo mundo. E tenho certeza que todos saíram do evento reflexivos e pensando que estamos com uma tarefa séria, de como será a escola na segunda-feira, porque ela não pode ser a mesma de hoje”, destacou Renato Casagrande, presidente do Instituto Casagrande.
Assim como nos primeiros dias do Congresso, a Inteligência Artificial (IA) foi muito debatida no último dia do evento. “Não há como falar de novo tempo na educação sem inserir a IA. Sempre falamos sobre tecnologia, de coisas muito vagas, mas a IA arrombou nossas portas no dia 30 de novembro de 2022, quando o ChatGPT entrou no ar, abalando completamente nossas estruturas educacionais. Neste tema, assim como em tantos outros debatidos no Congresso, houve um aprofundamento das discussões. Estou muito feliz que nosso evento possa ter sido um ponto de partida para refletirmos sobre as mudanças tão necessárias na educação brasileira e mundial”, afirmou Ronaldo Casagrande, vice-presidente do Instituto.
Ronaldo participou do principal painel – Como a Inteligência Artificial Impactará a Nossa Sociedade –, que destacou uma apresentação de Walter Longo, especialista em inovação e transformação digital. Ele apresentou os diversos caminhos que a IA abre e também o que ela irá exigir de professores e alunos. Para ele, as pessoas precisarão ter cada vez mais competência vocabular para se fazer entender pela IA, descrevendo tudo com muitos detalhes. “As novas habilidades necessárias são a imaginação, a expressão, o repertório e a capacidade de descrição. Não há limite para a criatividade quando nos relacionamos com a IA. A questão que se coloca é se a escola poderá preparar as pessoas para esta nova realidade. Não podemos continuar com as mesmas premissas. A escola deve preparar para a vida e não para o trabalho. A missão do professor será de inspirar”, destacou.
Segundo Longo, nenhum homem é melhor que uma máquina, mas nenhuma máquina será melhor do que o homem com uma máquina. “O homem deve ser preparado para a máquina, que fará o seu trabalho e deixará para o homem ser mais humano. Tudo que é humano será mais valorizado nessa realidade. A Inteligência Artificial vem pra mudar a natureza da nossa missão, para aflorar a criatividade e ajudar a devolver nossa humanidade, para reaprendermos a sonhar”, avaliou.
Outra palestra importante do dia foi apresentada por Cláudia Costin, doutora em Administração Pública e diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas, que falou sobre o tema “A Nova Educação: o que Muda e como se Preparar para o Futuro”. Segundo ela, os grandes desafios na educação do Brasil já existiam antes da pandemia da Covid-19 e se agravaram ainda mais depois dela. Houve uma grande perda da aprendizagem no período, aprofundando desigualdades educacionais.
“Mas, ao mesmo tempo, há um desafio maior a ser enfrentado. Com o advento da IA, muitos postos de trabalhos vão substituídos em uma velocidade sem precedentes na história. Outros postos serão criados com certeza, mas demandarão competências de nível muito mais complexo, como a capacidade de fazer análises muito mais aprofundadas, resolução colaborativa de problemas com criatividade, pensamento crítico e sistêmico. E cada vez mais a educação precisará de uma escola que ensine de fato a pensar, a formar pensadores autônomos, que sejam capazes de ler e entender, mas também capazes de produzir conhecimento”, afirmou.
Participação
O IV Congresso Internacional Um Novo Tempo na Educação reuniu profissionais de várias regiões brasileiras, muitos dos quais organizaram caravanas para acompanhar o evento em Curitiba. Os representantes da Secretaria Municipal de Araçatuba (SP), por exemplo, encararam quase 700km e 10 horas de viagem. “Este ano viemos em cinco pessoas. Buscamos renovação e novos conhecimentos para fortalecer ainda mais a base da educação na nossa cidade, para depois repassar para toda a equipe da secretaria municipal e das escolas”, disse Bruno Pascoal Barbosa, gerente de Recursos Humanos da secretária de educação do município paulista. Para ele, todas as palestras foram interessantes, principalmente as relacionadas à tecnologia. “É bom sairmos do nosso estado para ver eventos desse porte, que reúnem pessoas de todo o Brasil e até do exterior, uma oportunidade de troca de experiências. Conversamos com um grupo de Goiás, estamos levando também muitas ideias das cidades aqui do Paraná”, completou.
Dirce Bedin, da secretária de educação de Palmas, no sul do Paraná, esteve pela primeira vez presencialmente no evento, e já havia participado das outras edições de forma on-line. “É uma oportunidade única de ouvir grandes nomes da educação falando de temas tão relevantes no momento. Todos os debates apresentados foram muitos importantes, e só vieram somar ao conhecimento que já temos”, revelou ela, que destacou como maravilhosas as palestras de César Nunes e Cipriano Luckesi, ambos doutores em Educação. “Pretendo voltar para um novo evento e quem tiver oportunidade deve vir porque o conhecimento adquirido aqui levamos para a vida inteira”, finalizou