Imagine que um mantenedor de um expressivo Centro Educacional, que possui cursos em todos os níveis, necessite contratar um gestor ou uma gestora para conduzir sua escola. Rico, politicamente influente, acredita que chegou a hora de buscar uma opção política e, portanto, necessita esquecer o comando da Instituição de Ensino que, por mais de vinte anos, presidiu. Pensa em dispor de um profissional ou de uma profissional competente que possa garantir e ampliar a qualidade de ensino que sua escola construiu e que possa, também, manter ou aumentar o número de alunos matriculados.
Após receber indicações e colecionar currículos chega aos dois últimos profissionais que, segundo sua análise, acredita que poderiam substituí-lo com vantagens na gestão da entidade. Compara os currículos e descobre que ambos são íntegros, competentes, dedicados e que se acomodam em pretensões salariais compatíveis ao que oferece. Possuem quase a mesma idade, uma candidata é mulher, outro candidato é um homem. Qual escolher?
A diferença de gênero influi na qualidade gestora? Este ou aquele sexo é superior para a função que pretende? As diferenças de cérebro masculino e feminino interferem na ação e desempenho de um profissional, sendo possível garantir que um é superior ao outro?
Até relativamente pouco tempo essas questões não apareciam. Havia uma ética hipócrita que não permitia aceitar diferenças expressivas em funções profissionais e os estudos sobre o cérebro humano e sua ação na conduta da pessoa, ainda navegavam em oceano primitivo. Hoje já não é mais assim. Desde a década de 1980, surgiram aparelhos que permitiram observar o cérebro em funcionamento e imagens de tomografia por emissão de pósitrons e ressonância magnética funcional mostraram que homens e mulheres processam informações de forma diferente, administram, escutam e leem de maneira nada parecida. Dessa forma, podem se destacar mais nesta ou naquela profissão, podem até mesmo fazer com que se pressinta qual apresenta tendências mais adequadas para a gestão escolar.
O cérebro humano é mais simétrico na mulher que no homem. As mulheres possuem quantidade mais expressiva de matéria cinzenta, contam com cerca de 11% a mais de neurônios nas áreas pré-frontais e temporais e, por essa razão, possuem processo de compreensão, linguagem e memória superior. O corpo caloso feminino é cerca de 20% superior ao masculino e isso lhes permite, com uma facilidade e agilidade que todo verdadeiro homem inveja, fazer muito mais coisas ao mesmo tempo.
Os homens, por sua vez, as superam no que se denomina massa branca e por isso conquistam o poder de concentração com rapidez maior, são melhores em raciocínios numéricos e em habilidades espaciais. Não é sem razão que existem mais homens que mulheres na arquitetura, pilotagem de aviões e neurocirurgia. Além dessas diferenças, os hemisférios cerebrais influem muito e assim os homens por trabalharem principalmente o hemisfério esquerdo são melhores em análises de situações, raciocínios lógicos e atenção focada, mas perdem para as mulheres que, operando bem mais o hemisfério direito, são excelentes na percepção de mundo, nas formas e espaços, na administração e compreensão de sentimentos e na argumentação verbal.
O que é certo é que, homens e mulheres, ativam distintas partes do cérebro diante do mesmo estímulo e isso interfere muito na forma como irão gerir a escola fictícia que para este ensaio se buscou caracterizar. Mas, todo o volume dessas certezas neurológicas, ainda não responde de forma objetiva a pergunta do mantenedor. Escolhe um homem ou prefere uma mulher, considerando que a imensa abrangência que envolve uma ação de gestor educacional implica nas qualidades masculinas da linguagem mais articulada, do raciocínio numérico, da lógica e do poder de análise, mas também na administração de sentimentos e emoções, prosódia, integridade e poder de síntese, claramente mais expressivas em quem melhor administra seu hemisfério direito?
A resposta não é fácil e, certamente, o melhor candidato seria aquele ou aquela que sem abdicar das qualidades do hemisfério direito, pudesse também abarcar as qualidades do hemisfério esquerdo.
Homens e mulheres, do ponto de vista estritamente cerebral e como gestores educacionais, são como duas excelentes espaçonaves. Ambos possuem turbinas, cabines, bancos e freios, mas a diferença é que um Boeing 787 Dreamliner não é um Boeing Yellowstone. Circunstância que não impede de se acreditar que são ambos Boeing e de se estar sempre bem servido com um e com outro, desde que jamais se descuide de sua manutenção.