Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação
A atualidade é permeada por diversas mudanças que refletem diretamente em todos os processos educacionais. No cotidiano escolar, especificamente, novas/outras formas relacionais com o ensino começam a surgir, na tentativa de aproximar os estudantes das demandas contemporâneas, bem como de um aprendizado engajado, interativo e criativo
O mundo mudou. Ou melhor, estamos atravessando transformações significativas que repercutem em todas as áreas sociais, inclusive – e sobretudo – na educação. Os efeitos da globalização, a intensificação do ensino a distância, a tecnologia indissociável de nossas realidades, as novas profissões que emergem, e, evidentemente, os impactos da pandemia de Covid-19, são alguns (dos vários) exemplos que ecoam em escala global, e que interferem diretamente nas dinâmicas escolares.
Mantendo o foco na rotina escolar, e nas demandas e necessidades que surgem na contemporaneidade, evidenciando a urgência de (re)pensar metodologias, práticas de ensino e novas/outras relações com o aprendizado, além de inserir o aluno como protagonista do conhecimento e promover uma educação mais ativa, este especial da Conversa com o Gestor traz algumas falas de profissionais da educação respondendo o seguinte questionamento: Diante de tantas mudanças que a educação atravessa, como trabalhar na prática características como interatividade, engajamento e criatividade no cotidiano escolar?
“As constantes mudanças sociais que o mundo tem passado impulsionam as mudanças na educação. A sala de aula continua sendo um grande laboratório social onde professores e alunos atravessam conflitos cognitivos e relacionais e, com isso, os estudantes vão se desenvolvendo e amadurecendo de acordo com cada faixa etária.
Quando pensamos nas questões socioemocionais dos alunos, sobretudo pós-pandemia, o processo interativo na sala de aula é um dos pilares para a construção do conhecimento e das relações. Outro ponto é o engajamento dos estudantes. É fundamental que eles se sintam parte do processo para que fiquem comprometidos e motivados a construírem o conhecimento juntos com o professor, que deixa de ser aquele que apenas dá aula, mas quem propõe projetos.
Com isso, é possível reforçar o protagonismo do aluno e conquistar o grupo para que participe ativamente do processo, fazendo juntos, pesquisando, trazendo discussões e dinâmicas que conversem com as questões do dia a dia. Este caminho está intimamente ligado às soft skills, que hoje são fundamentais em qualquer área do conhecimento e em qualquer faixa etária. É nossa tarefa desenvolver o pensamento crítico, a capacidade de colaboração, o trabalho em grupo e também atitudes que levem os estudantes a trabalharem assertivamente as incertezas que vão enfrentar no dia a dia.
Estes são os desafios que fortalecem o papel da escola na educação contemporânea. No Colégio Renascença, nosso trabalho pedagógico é baseado na metodologia de investigação e na educação colaborativa. Todos os projetos estão ligados à concepção de ‘currículo por problemas’ e, por isso, a todo momento trazemos grandes questões para dentro da sala de aula para que nossos alunos discutam e, criativamente, solucionem problemas e proponham intervenções para a realidade.
Desde pequenos nós os motivamos para que se engajem nessa missão de responder, dentro da faixa etária de cada um, aos problemas atuais. Isso faz com que desenvolvam o pensamento crítico e ganhem um repertório apurado para impactar positivamente a sociedade. Além disso, este modelo faz com que trabalhem em grupos diversos, interagindo entre eles e também com o que acontece no mundo, ou seja, dentro e fora da sala de aula.”
Prof. João Carlos Martins – Diretor-Geral do Colégio Renascença
“O período pandêmico impactou diretamente o ensino básico, não somente pelo distanciamento entre alunos e professores, mas por todo o cenário em seu entorno, trazendo também desafios emocionais. Neste momento, portanto, é fundamental focarmos em preparar o ambiente escolar de maneira adequada e, para isso, é preciso termos como base três principais pilares: o acolhimento dos alunos, professores e, também, das famílias, na nova forma de estudar após dois anos de distanciamento social; desenvolvimento de habilidades cognitivas em conjunto com habilidades socioemocionais (é importante que haja esse equilíbrio dentro e fora da sala de aula, principalmente, no retorno desses jovens que ficaram um longo período fora da atmosfera escolar); e, por fim, fazendo com que o ato de estudar seja significativo (precisamos considerar que os jovens perderam o hábito de conviver e interagir e se habituaram a se relacionar por meio da tecnologia e ambientes digitais).
Agora, com o retorno das aulas presenciais, o grande desafio é engajar os alunos dentro da sala. Além de buscarmos aproveitar cada vez mais a tecnologia para personalizar o ensino, levando em consideração as necessidades de cada aluno e a possível diferença na absorção do conteúdo que foi passado nesses dois anos de pandemia, é importante incentivar os professores a retomarem, em sala de aula, as práticas de metodologias ativas para manter a atenção do aluno e colocá-lo como protagonista de seu processo de aprendizagem. Por meio de experiências, interação, estímulo da curiosidade, aprendizagem significativa (ou seja, trazendo assuntos de seu interesse e problematizando situações e temas de seu cotidiano) e da autonomia, podemos estimular o estudante a se manter concentrado e engajado com a aula, pois somente a aula expositiva não será mais suficiente.
Salas de aula invertidas (em que os alunos absorvem o conhecimento antes da aula para que possam trazer reflexões e perguntas para serem debatidas entre a turma e com o professor), aprendizagem baseada em problemas reais do dia a dia, rotação por estações (que pode acontecer dentro da sala de aula ou em outros ambientes da escola), grupos de verbalização e observação, atividades gamificadas e desenvolvimento de projetos são algumas das metodologias ativas que poderão ajudar os professores nesse processo.
Por fim, desenvolver nesses alunos habilidades socioemocionais, como empatia, comunicação, colaboração, coragem, resiliência, entre outras, os ajudará a lidar com essa nova realidade nas escolas. Além disso, preparar os professores também para este retorno, oferecendo suporte, será fundamental para que as escolas se adaptem neste momento. A inovação, neste caso, não está somente em adotarmos tecnologias ou em mudarmos absolutamente tudo o que temos feito nos últimos anos, mas em olharmos para o nosso trabalho com um novo olhar, agora ainda mais acolhedor, para que possamos continuar sendo ativadores e mediadores de conhecimento, para um aluno cada vez mais dinâmico e protagonista.
Prof. Ademar Celedônio – Diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação
“Hoje, o grande desafio das escolas, neste mundo líquido, é chamar a atenção dos alunos e torná-los parte do processo de aprendizagem de forma interessante. A Gamificação é uma grande tendência atual, pois torna as aulas mais dinâmicas e é uma das metodologias ativas que mais colaboram para o engajamento e interatividade das crianças, facilitando o ensino e o aprendizado dos conceitos pedagógicos. É uma metodologia importante para mensurar resultados.
O professor deve trazer para a sala de aula novos elementos que envolvem arte, pesquisa, criação de projetos, ou seja, fugir um pouco das apostilas, onde perguntas e respostas já estão programadas e que muito se distanciam do protagonismo infantil, algo que algumas escolas proporcionam como grande diferencial.
Uma metodologia que não só coloca o aluno no centro da aprendizagem, mas desenvolve nele a capacidade de se reinventar, pesquisar, ser curioso e criativo, é o ‘Criando Juntos’ do programa De Criança Para Criança. Nele, as crianças criam, desenham e narram histórias em conjunto, com o professor no papel de mentor, que dá suporte e incentiva os alunos a criarem e construírem o seu próprio conhecimento de forma lúdica e divertida. Essas histórias podem tanto ser sobre os conteúdos propostos pelas áreas do conhecimento, quanto temas como racismo, bullying e muito mais. O resultado desse processo é um desenho animado desenvolvido pelo De Criança Para Criança. Um material que contém a linguagem que as crianças mais entendem e se identificam: a sua própria linguagem.”
Vitor Azambuja – Um dos criadores do programa De Criança Para Criança
“A educação interativa consiste em convidar os alunos a participarem de forma totalmente ativa no seu aprendizado, ou seja, é dada a autonomia no processo de ensino e aprendizagem, utilizando a tecnologia como aliada. O estudante de forma ativa trabalha com as questões propostas, o aluno é incentivado o tempo inteiro a trabalhar com autonomia, pensamento crítico, usando a imaginação e a lógica. Essa metodologia desenvolve no estudante a autonomia e responsabilidade desde cedo, trazendo vantagens ao processo de aprendizagem, no qual o aluno consegue entender que a aprendizagem é totalmente ativa.
Essa metodologia é totalmente ao contrário de opções passivas de ensino, onde o aluno é o protagonista neste cenário. O ensino interativo permite que o aluno use a imaginação e a criatividade em todo caminho do ensino, podendo mostrar seu aprendizado de diversas formas diferentes. Nesta metodologia, alunos que apresentam dificuldade com a aprendizagem tradicional tomam a frente do seu aprendizado, as dificuldades são dissolvidas e esse aluno pode mergulhar em um mar de possibilidades de aprender. Assim, eles podem enxergar a sua capacidade de aprender, tornando possível todo um cenário de futuro promissor a um aluno que não se dá bem com o ensino passivo. Para os estudantes que apresentam transtornos ou dificuldades pode ser um caminho enorme para as suas habilidades. Essa metodologia envolve alunos e professores em um universo de possibilidades e formas de ensinar e aprender que incentivam alunos a procurar conhecimento, ensinar outros amigos, inventar e reinventar a forma de aprender.”
Carolinne Coutinho – Cofundadora da franquia Monitorias Reforço Escolar
“Com as mudanças de comportamento e o novo cenário digital, crianças e adolescentes se comunicam e processam informações de maneiras diferentes das de antigamente. Um ponto de atenção das escolas está em criar e manter o engajamento dos alunos. Para isso, criar um ambiente em que o aluno se sinta parte e seja o protagonista do estudo tem sido primordial para o desenvolvimento e aprendizado. Um modelo é o uso de metodologias ativas, como a aplicação da aula invertida, onde o aluno se desenvolve antes de chegar para uma discussão em sala de aula.
Uma vez que o aluno está motivado, você cria um ambiente favorável para que ele consiga potencializar as outras habilidades, como a criatividade. Inserir técnicas de gamificação e projetos que façam os alunos colocarem a ‘mão na massa’ são excelentes oportunidades para estimular essa característica e proporcionar mais autonomia. Isso estimula o aluno a pensar fora da caixa e fora do contexto de suas configurações locais. Nestes casos, o professor atua como mentor e direciona o aluno para realizar a tarefa que o diferencia dos outros, com a sua personalidade.
Como mencionei, para que o ensino seja envolvente, os estudantes devem se sentir pertencentes. Dividir a sala em pequenos grupos facilita a interatividade sem comprometer o tempo de aula. Com essa abordagem, o processo de aprendizagem pode se tornar mais fácil para o aluno que tem grandes ideias, mas que não se sente tão à vontade para falar em público. E o melhor, essa metodologia pode ser realizada tanto no mundo online com a funcionalidade do Breakout Rooms nas plataformas de videoconferência, mas também pode ser aplicada em uma sala de aula presencial. Hoje também existe mobiliário escolar com função pedagógica projetados para facilitar as atividades colaborativas.”
Roberto Moreno – Diretor de Educação da BYJU’S FutureSchool
“Dentro das escolas onde atuamos, ou onde já trabalhávamos, com a matéria de educação tecnológica, por exemplo, notamos que ficou mais fácil despertar o interesse dos alunos para novos projetos e desafios, uma vez que ainda estão sedentos por novas experiências. Mas manter o interesse durante o processo vem sendo um obstáculo a mais.
Nossas aulas foram remodeladas para que, além do acesso às tecnologias, os estudantes também possam ser criadores de novas ferramentas. Dessa maneira, podem se envolver mais em trabalhos em grupos, que ampliam a sociabilidade e comunicação, e em desafios de prototipagem, para ampliar a inventividade adormecida, colocando o processo de criação em suas mãos, como protagonistas, seja para inventar, seja para inovar.
Os processos de criação e prototipagem se baseiam muito na experiência de cada aluno. Com isso, ele poderá empregar todas as tecnologias e metodologia que a escola tem acesso para compor uma solução a um desafio que trouxe para resolver e prototipar. Ainda que muitos pensem que sejam soluções mais voltadas à robótica e automação, o lado social dos projetos vem se destacando, como por exemplo: soluções para smart city e mobilidade, contribuição com afazeres domésticos, compartilhamento de momentos recreativos e até proteção e segurança dos próprios alunos ou familiares.
Essa inventividade passou a ser explorada de diversas formas e formatos, seja na robótica, seja em matérias mais tradicionais, como matemática e português, com temas e abordagens mais conectadas, que trabalham buscando áreas de interesse dos estudantes e os contextos que vivenciam e experimentam durante o processo de aprendizado.”
Henrique Alves Camargo – CEO e co-founder da EdukaMaker
“Com o avanço da tecnologia, conseguimos ampliar significativamente a capacidade de gerar experiências educacionais transformadoras, independentemente do tempo e do espaço. Quando um estudante tem a oportunidade de realizar uma atividade prática várias vezes em um laboratório virtual, por exemplo, podendo simular diferentes parâmetros e configurações, errando, corrigindo e acertando, o nível de profundidade e de retenção do conhecimento aumentam consideravelmente.
Ter à disposição exercícios, vídeos, textos, infográficos, livros digitais, imagens em 3D e outros tipos de objetos de aprendizagem que podem ser consultados facilmente a qualquer momento e sempre que precisar, bem como interagir com professores, tutores e colegas mesmo estando em diferentes tempos e lugares, são elementos que potencializam a aprendizagem.”
Fagner Oliveira de Deus – CTO da +A Educação
“A Brasil Canadá acredita que a aprendizagem por meio da experiência traz mais significado ao aluno, principalmente quando se trata de um novo conteúdo. Nesse sentido, e de acordo com as demandas dessa geração, buscamos refletir constantemente sobre nossas práticas pedagógicas, bem como estratégias que possam gerar maior engajamento e criatividade de todos.
Um bom exemplo de como isso pode ocorrer na prática são as aulas de drone. Iniciamos em 2022 as aulas voltadas à tecnologia dos drones na Brasil Canadá – Perdizes (SP), com os alunos do Ensino Fundamental. Esses momentos são excelentes para que os alunos pratiquem a gestão de projetos e entendam conceitos da física e da química na prática. Além da montagem dos drones nas aulas, há o trabalho com o controle e direção do equipamento, que exige uma apurada coordenação motora, e habilidades como responsabilidade, atenção e concentração que são constantemente exigidas no processo de montagem de um drone.”
Bruna Elias – Head of school da Brasil Canadá Educação Bilíngue