A neurociência nos mostra que a maturação e a plasticidade do sistema nervoso (presente inclusive na idade adulta) são dependentes de estimulação e que a experiência e a repetição fortalece, ativa ou reforça vias neurais específicas. Sabemos que o treinamento auditivo fortalece os processos e habilidades auditivas, além de facilitar as estratégias de compensação. Nele são enfatizados aspectos como: consciência fonológica; estimulação mono e binaural; dessensibilização de fala em presença de ruído; atenção seletiva e escuta direcionada; discriminação de padrões temporais de frequência, intensidade e duração; memória e rotulação linguística, entre outros. A cabine acústica permite que o treinamento seja feito em local silencioso e o audiômetro dois canais possibilita a estimulação monótica e dicótica, o controle da intensidade e, a critério do fonoaudiólogo, a maior estimulação do lado pior.
O treinamento auditivo em cabine acústica parte das habilidades auditivas detectadas como alteradas em relação ao esperado para a idade, portanto uma Avaliação do Processamento Auditivo atualizada é sempre necessária para iniciar o treino. O diagnóstico de Desordem no Processamento Auditivo não é dado antes de 8 anos em consideração à maturação do cérebro auditivo, no entanto, o treino poderá ser realizado assim que o paciente tiver condições de atenção, a critério do fonoaudiólogo, com estratégias adaptadas a cada idade. Assim, a estimulação da maturação cerebral e o treino auditivo pode ser realizado em crianças ainda muito pequenas, evitando complicações futuras, e também em idosos, atenuando os efeitos das dificuldades com atenção, memória auditiva, compreensão e adaptação de aparelhos auditivos.
Uma vez que o indivíduo com alteração de Processamento Auditivo pode passar por anos de desenvolvimento de linguagem e de aprendizado escolar com as habilidades auditivas prejudicadas, as conseqüências podem se manifestar na linguagem oral e na escrita e não devem ficar sem reabilitação. Assim, o treinamento auditivo em cabine não dispensa nem substitui a terapia Fonoaudiológica convencional, que, quando necessária, irá sanar os impactos do processamento auditivo alterado na linguagem e aprendizagem. Diante da necessidade da realização das duas modalidades de terapia fonoaudiológica, elas podem ser realizadas concomitantemente mas, havendo a necessidade de iniciar apenas com uma delas, deve-se priorizar a reabilitação do processamento auditivo.
Maria José Lopes de Andrade, Fonoaudióloga Clínica e Escolar da clia Psicologia, Saúde & Educação – C.R.Fa. 4201
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