*Por Sávio Grossi
Números indicam que mais de 60% dos alunos do quinto ano têm dificuldades em interpretar um texto simples e realizar cálculos matemáticos básicos. Esses dados revelam o que educadores, pais e estudantes já sabiam: a educação do nosso país está passando por uma crise. Os motivos para esse problema são muitos, mas a falta de autoridade dos pais sobre os filhos, a transferência da responsabilidade da educação para a escola e a falta de recursos por parte das escolas são considerados os principais para essa crise.
Segundo estudos realizados pela Fundação Lemann, uma das maiores dificuldades dos jovens é o elo do que é ensinado em sala de aula e o conhecimento e as habilidades que serão exigidas na vida adulta. Eles sentem uma falta de orientação e um maior preparo para lidar com as dificuldades e desafios cotidianos, seja na faculdade ou no trabalho. Em contrapartida, os professores universitários e empregadores sentem nesses jovens uma falta de competência básica, como comunicação, raciocínio lógico e resoluções de problemas.
Pensando em como ajudar a solucionar os desafios que a educação do país enfrenta, listarei ações que podem ajudar a reverter esse problema:
- INVESTIMENTOS GENERALIZADOS
Muitos alunos em uma única sala, sem estrutura, passando poucas horas e professores mal remunerados. A solução para esse problema seria um investimento maciço em escolas preparadas com laboratórios, computadores, aplicativos de comunicação, bibliotecas e aumento salarial para os professores, além de um programa de educação continuada a eles. Países mais desenvolvidos são justamente aqueles que mais investem em educação.
- MAIS ACESSO À ESCOLA
A meta inicial do Plano Nacional de Educação (PNE) previa que crianças de 0 a 3 anos de idade deveriam ter acesso à creche e escolas. Infelizmente essa meta, que tinha data final para 2010, não foi atingida e a “solução encontrada” foi postergar o plano para 2020. O déficit é tão grande que apenas 23,5% das crianças estão matriculadas em creches. Entretanto, a solução não é apenas aumentar o número de vagas, mas garantir que haja qualidade no ensino.
- CARGA HORÁRIA X VAGAS
O brasileiro passa pouco tempo na escola durante sua vida como aluno. Ao contrário da maioria dos países desenvolvidos, onde o estudante fica tempo integral, é preciso que a carga mínima de 800 horas anuais seja cumprida e distribuída em 200 dias letivos. Isso asseguraria maior tempo para trabalhos escolares e plano de desenvolvimento.
- FORTALECIMENTO DA ESCOLA PÚBLICA
Inclusão de alunos com deficiência, tratamento à diversidade em todas as suas esferas e organização da grade curricular. O fortalecimento da escola pública nestes (e outros) aspectos passa por uma gestão participativa e democrática. Neste modelo, os pais participam da vida escolar dos filhos com voz ativa, em um modelo baseado na parceria escola-comunidade e o gestor passa a ouvir opiniões e sugestões.
- ESCOLA X FAMÍLIA
Acredito que o diálogo entre a escola e família é um dos fatores que precisam ser solucionados com maior urgência. A falta de interesse, um engajamento por parte dos pais e uma proximidade maior por parte das escolas são soluções que deveriam ser praticadas. As tarefas escolares dos alunos deveriam ter um apoio maior por parte dos pais, auxiliando nas dificuldade e soluções das tarefas, pois a atuação e a participação da família na educação são parte importante no processo educacional. Por parte da escola, falta um envolvimento maior nos problemas sociais e familiares dos estudantes.
- MODELO DISTORCIDO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES
Países como França e Alemanha têm instituições dedicadas exclusivamente à formação de professores. No Brasil, o professor aprende o conteúdo que precisa ensinar (como Português, Geografia e História), mas não aprende especificamente a parte didática e pedagógica. Outro agravante é o fato do professor aprender a dar aula e trabalhar com um modelo específico de aluno, considerado o ideal, longe da realidade heterogênea e diversificada tanto cultural, quanto social e econômica na qual estamos inseridos. A criação de institutos dedicados à formação de professores, programas de educação continuada e certificada, com avaliação constante deste aprendizado e um novo currículo dos docentes, estão entre os caminhos para reverter este modelo distorcido atualmente empregado.
A educação de hoje enfrenta desafios que não existiam antigamente, com carreiras que sequer eram conhecidas e aprendidas por parte dos professores. Muito do que já foi feito em países desenvolvidos sequer começou no Brasil e isso precisa ser mudado. Porém, toda e qualquer mudança passa pelo engajamento da sociedade no assunto.
*Sávio Grossi é CEO e fundador da Pertoo, uma solução que permite que professores e instituições de ensino possam comunicar de forma simples com os alunos e os pais dos alunos. Por meio da ferramenta professores compartilham informações sobre o processo de desenvolvimento dos alunos, marcam avaliações, enviam recados e compartilham diversos tipos de conteúdos de forma simples e fácil, aproximando os pais no processo de educação escolar e mudando a forma de comunicação entre mestres e pais