Os debates que envolvem as temáticas da sustentabilidade e das emergências climáticas se mostram necessários – e cada vez mais urgentes na atualidade. Na Bett Brasil 2025, o principal encontro do ecossistema educacional da América Latina, que acontece até quinta-feira (1) em São Paulo, a relação entre educação e a Agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) foi tema do painel expositivo “Do local ao global: Educação e ESG como estratégias para um mundo sustentável”, que ocorreu no segundo dia do evento.
Conduzido por Thaís Brianezi, professora da ECA-USP e membro do Comitê Consultivo da Secretaria Especial de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo (SECLIMA), e Edson Grandisoli, diretor educacional do Movimento Escolas pelo Clima, o painel trouxe como mote reflexões sobre o papel da educação diante das emergências climáticas e das transformações ambientais que desafiam o planeta, além de dados, iniciativas e estratégias que conectam escolas, políticas públicas e o setor privado à agenda climática global.
Thaís compartilhou detalhes de um projeto de pesquisa da Fapesp que investiga o papel da comunicação no impacto da educação ambiental e climática. A iniciativa, que começou em fevereiro de 2024 e deve prosseguir até 2026, está estruturada em quatro pilares: construção de uma agenda de políticas públicas, banco de dados colaborativos, formação de educadores e monitoramento contínuo. Um dos destaques da iniciativa foi a formação experimental de professores de 35 escolas da rede municipal de São Paulo, com participação de 12 Diretorias Regionais de Ensino (DREs). “O objetivo foi elaborar um plano de ação climática com as escolas participantes, que agora poderá ganhar escala por meio de uma plataforma de educação a distância no AVAMEC, ambiente virtual do Ministério da Educação”, revelou Thaís.
Para acompanhar os resultados, o projeto conta com a plataforma MonitoraEA, um sistema de avaliação contínua voltado às escolas públicas. Thaís alertou que, embora exista um avanço nas iniciativas, o reconhecimento da importância da educação ambiental ainda é baixo. “Há um distanciamento histórico sobre o tema. Precisamos avançar nessa questão”.
Agravamento da crise climática
O professor e pesquisador Edson Grandisoli trouxe à discussão o agravamento da crise climática, reforçando que o termo “emergência climática” é cada vez mais necessário para descrever a intensidade e urgência da situação atual. Ele apresentou dados alarmantes: se toda a população mundial adotasse os hábitos de consumo dos norte-americanos, seriam necessários cinco planetas Terra para sustentar esse modelo de vida; no caso dos brasileiros, seriam necessários dois. Além disso, Grandisoli destacou que em 2023 a humanidade ultrapassou seis dos nove limites planetários, incluindo a integridade da biosfera, mudanças no uso do solo e o ciclo da água doce.
Grandisoli também compartilhou resultados animadores da Pesquisa Nacional sobre Mudanças Climáticas, organizada pelo Movimento Escolas pelo Clima e pela Reconectta, focada na percepção de crianças, jovens e adultos sobre as mudanças climáticas. O estudo revelou que a faixa etária de 7 a 14 anos representa o público mais engajado com a pauta.
De acordo com o levantamento, a preocupação com as mudanças climáticas aumenta conforme a idade. Enquanto 73,4% das crianças de 7 a 14 anos se dizem preocupadas ou muito preocupadas com o tema, esse número sobe para 86,1% entre jovens de 15 a 29 anos e atinge 96,9% entre adultos com 30 anos ou mais. Com relação à percepção da capacidade de agir, as crianças (7 a 14 anos) e adultos (30 anos ou mais) se percebem mais capazes de agir contra a mudança climática do que os jovens de 15 a 29 anos. Também sobre o grau de otimismo, são os mais jovens – de 7 a 14 anos – os mais otimistas sobre o futuro em relação às emergências climáticas.
“Quando analisados de forma conjunta, essa faixa dos 7 aos 14 anos é a que soma mais qualidades para encampar ações de ativismo climático, especialmente mulheres. Temos um público interessado nessa pauta, e precisamos aproveitar isso”, destacou.
Papel das instituições e o futuro do planeta
Para discutir sustentabilidade, governança e o papel das instituições no futuro do planeta, um painel reuniu o vice-presidente do Instituto Ayrton Senna, Ewerton Fulini, e a diretora de Relações Institucionais, Governamentais e Sustentabilidade do Grupo Marista, Carmen Murara. Fulini ressaltou que, embora a pauta ESG esteja normalmente associada ao mundo corporativo, ela também tem grande relevância no contexto educacional. “A Educação entra como a raiz dessa árvore chamada ESG e é o ponto de partida desse conceito, pois é por meio dela que as crianças aprendem habilidades comportamentais e seguem os exemplos dos educadores.”
Para o vice-presidente do Instituto Ayrton Senna, é essencial que as escolas revisem o que estão fazendo em seu ambiente. “Quais são as práticas que as escolas adotam? Como desenvolver competências nos alunos para que cuidem de si mesmos, dos outros e promovam ações eficazes para diminuir as desigualdades? E que essas ações não considerem apenas o século XX, mas também os próximos”, afirma Fulini.
Já Carmen reforçou que, na Educação, existem dois grandes compromissos quando o assunto é ESG: os alunos e o produto de ensino comercializado. “Temos que pensar nos jovens que estão nas escolas e universidades. Quem são esses futuros cidadãos que estamos formando? Essa é uma grande responsabilidade. Esse é o nosso público prioritário. Também não podemos esquecer do segundo compromisso fundamental: a maneira como comercializamos o produto de ensino. Por exemplo, os livros são sustentáveis? Isso precisa ser um valor dentro das instituições para engajarmos alunos, stakeholders e toda a comunidade escolar. Todos precisam se envolver nessa pauta. É assim que ela começa, e é preciso darmos o exemplo. E se você acredita nisso como valor educacional, é mais fácil transmitir esse princípio para todos”, complementa Carmen.
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BETT BRASIL 2025
28 de abril – 1 de maio
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