Espaço, jogo, história, documentação, linguagens… aprender a aprender. Tudo flui pelo planejamento. O planejamento “na ação”, diferentemente daquela ideia que ainda hoje vigora: é de “preparação para um possível vir a ser”.
Nós educadores temos que pensar uma ação para a criança deste tempo presente, considerando o seu hoje, seu contexto, suas necessidades, sua cultura; o tempo novo terá sentido, se viver plenamente e intensamente o presente.
“Planejamento pedagógico é atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador repensar, revisando, buscando novos significados para sua prática pedagógica.” (Ostetto, 2002).
Determinar exatamente como deve acontecer todo o processo de formação é praticamente engessar, não ter flexibilidade para ler o que emerge da práxis.
Planejar com garantia de intencionalidade educativa é respeitar as descobertas feitas pelas e nas relações, assim como a ressonância destas decisões no encaminhamento da proposta.
Em nosso cotidiano escolar temos de ter o movimento que possibilita fazer recortes e aprofundar temas não pensados. Você pode estar numa roda de conversa porque o trabalho suscitou e não porque “estava previsto”. Nem sempre a intenção do adulto atinge a necessidade da criança. Mas quando o propósito é genuíno, pode-se partir da intuição para formar pontes de saber com os pequenos, como dizia Paulo Freire: “Educador, não abra mão da sua intuição”.
Em projetos de pesquisa nos deparamos com este tipo de situação. Realizamos um trabalho com crianças cujo objetivo era discutir sobre a natureza. Fomos a uma chácara para darmos continuidade ao projeto, depois de três dias dialogando – afinal havia um planejamento em que a proposta era tatear aquele espaço e promover o contato; uma criança comentou sobre um barulhinho que a vaca fazia e que chamava muito a atenção. Não demorou muito para ela dar voz a sua curiosidade e solicitar…
− Quero conhecer o badalo da vaca!
Outras crianças manifestaram o mesmo desejo.
− Eu também! Eu também! Nós também!
De repente, estávamos conversando sobre os metais e os sons, uma conexão que partiu do interesse das crianças e das relações que poderiam ser estabelecidas. Como investigar a leitura de mundo que as crianças estão fazendo e a partir dali extrair e ampliar?
Voltamos aqui a mencionar a intencionalidade do planejamento. Se existe um programa pré-estabelecido que diz “agora você vai pintar o número”, “agora não é hora de conversar sobre isso…”. Com esse “agora e mais agora, agora” a literatura fica só na hora da história. E você não pode deixar de aproveitar diferentes e maravilhosos momentos de descobertas para explorar as áreas do conhecimento e as diferentes linguagens.
Tenha sempre muito presente reflexões como: “o que, de fato, estou investigando sobre o mundo com a criança?” e “como trabalho minha formação nesta construção junto com a criança?”.
A infância é a fase das grandes indagações. Um momento em que a curiosidade está aguçada. Muitas pessoas nos perguntam por que as crianças chegam à escola tão interessadas e depois perdem o interesse?
Só podemos investigar esse quadro se olharmos com olhos de criança para algumas situações. Qual é a nossa capacidade de alimentar o interesse e curiosidade? Com o passar dos anos vamos pedindo silêncio… silêncio… silêncio… Não aguçamos e a desmotivação se dá.
Então, aquela mesma criança que chegou indagando e explorando tudo, lá na frente debruça-se sobre a carteira e, muitas vezes, nem quer ir à escola. Não estabeleceu uma relação com o conhecimento que tivesse significado para ela.
Desenvolver um processo de ensinar e aprender mútuo, aprendendo uns com os outros, se concretizará em um planejamento flexível, participativo, consistente e dialético onde os cinco sentidos estarão a serviço do aprendente e ensinante.
Formar redes conceituais, isto é, a relação entre as temáticas, é um movimento intencional. Quanto mais exercitamos a capacidade de reconstruir o planejar e a ação, mais crescemos nessa experiência.
O motivo do planejamento é para sermos cada vez mais conscientes da intencionalidade do nosso fazer junto às crianças. Neste início de 2011, planeje nesta perspectiva, desafie-se.
Por Emilia Cipriano e Claudio Castro Sanches
Emilia Cipriano é Doutora em Educação, Mestre em Psicologia da Educação e Pesquisadora da Infância.
Claudio Castro Sanches é Mestre em Educação, Especialista em Gestão Educacional e Pesquisador da Infância.