Para muitos professores, esta pergunta representa um dilema. Para outros, tem resposta óbvia: inimigo. Nestes casos, vale uma reflexão profunda sobre o papel do conteúdo e do próprio professor nos processos atuais de ensino e aprendizagem.
O professor que se coloca, ou que se vê, como fonte do repertório que desenvolve o conhecimento no aluno, em fluxo unidirecional, passível de admiração, respeito, reverência, mas não de questionamento como fonte crível ou consistente de informação, percebe o smartphone na mão do aluno como meio de dispersão ou como veículo para intervenção transgressora, em casos em que o Google (ou outro mecanismo de pesquisas) é acessado pelo aluno para “validar” o que é exposto pelo professor.
Nada contra o enaltecimento do professor pelo aluno. Muito pelo contrário! Como filho de professora, gostaria de ver minha mãe sendo ovacionada a cada de fim de aula. Entretanto, a perspectiva do aluno atual não necessariamente projeta gratidão ou entusiasmo na simples transmissão de informação. O professor, ou a memória do professor, é percebida como uma fonte de conteúdo. Assim como qualquer site ou serviço da Internet também são.
Mas quem garante que um site qualquer, listado numa janela de resultados do Google, é tão confiável quanto o professor? Ninguém. Mas quem está preocupado em tempos de Wikipédia? Isso é uma conversa à parte…
O ponto é que grande parte dos alunos leva o smartphone para a aula. E a maioria deles os utiliza. O tempo todo.
Professores lendo este artigo, por favor, reflitam sobre a inglória batalha com o foco dos olhos dos alunos em suas pequenas telas. Pensem também sobre a aplicável sabedoria traduzida em provérbios. Sugiro um em especial: “Se não pode vencê-los, junte-se a eles…”.
Muito se fala sobre a inclusão digital e o papel da tecnologia na educação. Como estes são conceitos bastante amplos e abrangentes, a materialização em práticas capazes de melhorar a experiência de professores e alunos e, desejavelmente, seus resultados não tem formula. Gostaria, entretanto, de fomentar essa discussão em torno de um único objetivo: sequestrar uma parcela relevante do foco do aluno em seu smartphone em prol da aula.
Se o professor se colocar, ou se vir, como moderador, instigador e fomentador do desenvolvimento do repertório do aluno, provocando, inclusive, a crítica em relação à origem de cada informação, o smartphone pode assumir um papel instrumental. Para tanto, não é necessária ciência de foguete, muito menos proficiência em tecnologia ou novas mídias. Considerando que, atualmente, alunos de idades diversas conseguem trabalhar com janelas de aplicações como Facebook, WhatsApp, Instagram, Youtube, Google e várias outras abertas simultaneamente, um caminho seria vincular conteúdos ou pequenas atividades acessíveis por meio desses serviços ao contexto da aula. Pesquisas rápidas, vídeos, enquetes, votações são apenas alguns dos muitos exemplos que podem tornar a dinâmica da aula mais digital e, consequentemente, o foco do aluno mais natural.
Concluindo, os smartphones, assim como qualquer recurso tecnológico, não são fim e sim meio. Se adequados em termos de contexto e papel, tendem a ajudar a fazermos mais e melhor.
* Youssef Mourad é CEO da Digital Pages, empresa pioneira em soluções tecnológicas para a disponibilização de conteúdos digitais em múltiplos dispositivos.