Por Maíla Sandoval
Querer que as crianças cresçam saudáveis e educadas e tenham sucesso na vida é natural. Mas a que custo? Impor limites é um dever dos pais e responsáveis, no entanto, ao fazer isso, por vezes são impostas as vontades e é até mesmo limitada a capacidade de escolha das crianças.
O empoderamento infantil age na contramão desses atos e prova que os pequenos podem ter as suas próprias escolhas e ser mais ativos em sua própria vida. No texto de hoje, ampliaremos os conhecimentos sobre esse conceito.
Rompa com a imposição dos gêneros
Provavelmente, você já escutou algo como “brincar de boneca é para meninas” e “brincar de carrinho é para meninos”. Enquanto as meninas são estimuladas a desenvolver habilidades para cuidar da casa, criar filhos e manter a boa aparência, os meninos têm o dever de ser fortes, superar limites (sem reclamar) e gostar de esportes.
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, tais aptidões não são naturais de cada gênero. Na verdade, elas são impostas e estimuladas pela sociedade, seja por meio da publicidade, da mídia de forma geral ou até mesmo dos pais, que, muitas vezes, acreditam apenas estar encaixando os seus filhos em um molde tido como “normal”.
Pense bem: a televisão mostra comerciais de produtos de limpeza direcionados às mulheres, enquanto as propagandas de carros são voltadas aos homens. Aspectos como esses vêm sendo transmitidos de geração em geração e têm uma consequência muito grave na formação de crianças e adultos.
Diariamente, meninas são impedidas de jogar futebol, brincar com brinquedos ditos masculinos e aprender artes marciais. Enquanto isso, parece quase impossível que um garoto tenha interesse em atividades como cozinhar ou dançar ballet.
Como teríamos uma jogadora excelente como a Marta, na Seleção Brasileira de Futebol Feminino, se os pais a tivessem impedido de jogar? O que dizer, então, dos chefs de cozinha renomados que têm ganhado cada vez mais destaque? Essas pessoas conquistaram o seu espaço, mas é preciso entender que muitas crianças podem ter deixado de desenvolver talentos e até de se divertir por conta das barreiras sociais.
Mesmo que ainda seja nova, uma criança sabe reconhecer as coisas de que gosta. Portanto, se um filho ou filha lhe pedir algo que não é encarado como “normal” para o gênero, liberte-se dessas amarras e deixe que o seu pequeno escolha o que fazer.
Atualmente, locais como a Escola de Super-Heroínas e Heróis têm surgido para mostrar que é possível empoderar as crianças sem a necessidade de impor os gêneros. Com certeza, essa é uma parte extremamente importante do empoderamento infantil.
Estimule a autonomia
Os pais e responsáveis costumam dizer “não” para as crianças com uma grande frequência. Determinar o que é bom ou não para os pequenos de fato é importante, mas devemos saber que eles precisam ter autonomia. O empoderamento infantil também consiste em permitir que as crianças escolham o que fazer ou vestir, desde que isso não vá de fato prejudicá-las.
O que não significa que você tenha que deixar os filhos no comando da casa, mas, sim, estimular que tomem as suas próprias decisões. Isso fará com que aprendam com os erros e consigam se sentir seres pensantes, em vez de ser apenas guiados pelos pais, o que pode torná-los dependentes até mesmo para as pequenas atitudes do dia a dia.
Luta contra a opressão estética
Atualmente, muito se fala na luta contra os diversos tipos de preconceitos, como o racismo, a gordofobia e outros julgamentos que causam a opressão estética e interferem muito na autoestima das crianças.
Em novelas, animações e revistas, são mostrados exemplos de crianças consideradas bonitas. Embora pareçam inofensivas, essas imagens acabam sugestionando que somente aquele padrão é belo. Com isso, as crianças desenvolvem a vontade de ser mais magras, ter o cabelo mais liso e até a pele mais clara.
A cantora Karol Conka chegou a contar em uma entrevista o quanto ela desejava ter a sua pele mais clara quando criança, chegando a molhar as mãos em água sanitária para atingir esse objetivo.
Muitas meninas ainda novas desenvolvem distúrbios alimentares por causa da pressão para sempre serem muito magras. Os responsáveis podem demorar muito tempo para descobrir o problema, que não é fácil de identificar e, muitas vezes, é descoberto quando a situação está bem complicada.
Os meninos também têm tido um estímulo constante para ser fortes e musculosos, o que pode levar ao uso de substâncias perigosas na adolescência e na fase adulta.
É da saúde das crianças que estamos falando. Por isso, é necessário que todos entendam o quanto esses padrões de beleza devem ser evitados, a começar em casa.
A colunista Amanda Beatriz conta que sentia vontade de ter um cabelo “cor de biscoito Fandangos”, mas, no dia em que ganhou uma boneca negra, conseguiu se identificar e resgatar sua autoestima.
Esse é um exemplo claro de como a representatividade importa na vida das crianças e como esse padrão que é imposto as afeta.
É preciso que você leia a respeito e entenda que há formas de evitar isso no dia a dia, fazendo com que a criança se sinta bem e que foque no que realmente importa, que é aproveitar a infância da melhor forma.
Interrompa o ciclo do preconceito
O preconceito está tão presente no cotidiano que é difícil percebê-lo, no entanto, ao prestar mais atenção, conseguimos observar que aquela piada sobre gordos dita em um momento de descontração também pode estar sendo utilizada pelas próprias crianças, que reproduzem o discurso dos pais e responsáveis muito facilmente.
Dessa forma, é preciso entender que não é “só uma brincadeira” ou “só uma piada”. Além de ter a noção de que esses comentários podem de fato afetar a vida das pessoas e das próprias crianças, que são vítimas de bullying diariamente por conta de traços como peso, cor de pele, cabelo e outras características que prejudicam muito a autoestima.
Crianças que têm uma boa visão de si mesmas conseguem se relacionar com o mundo de uma forma muito melhor. Além disso, o empoderamento infantil de forma geral ajuda para que elas tenham uma infância saudável e consigam crescer e se desenvolver mais confiantes e felizes.
Deixe que as meninas vistam azul e joguem bola — se for isso o que elas desejam —, deixe que os garotos brinquem de boneca também. Isso não influencia na sexualidade, que não é alterada por conta de brincadeiras ou vestuário.
Rompa com seus próprios preconceitos e ensine as crianças a fazer isso, afinal, elas estarão expostas a eles nas escolas e em outros ambientes também.
É imprescindível lembrar-se de que são as crianças que vão construir o futuro e que, para que ele seja melhor para todos, é importante que a mudança comece por seus filhos. Pode-se dizer, portanto, que o empoderamento infantil é um dos caminhos para um mundo melhor, com crianças mais contentes e satisfeitas e adultos mais conscientes.
Agora que você conhece a importância do empoderamento infantil, que tal compartilhar este conteúdo com os seus amigos nas redes sociais? Assim, você também ajudará muitas outras pessoas!
Maíla Sandoval é formada em Letras pela Universidade de São Paulo, trabalhou com educação por mais de 15 anos, especializou-se na área e atualmente trabalha como consultora pedagógica no JOCA, único jornal brasileiro voltado ao público infanto-juvenil. Cursa Mestrado em Estados Literários, Culturais e Interartes no ramo comparatista da Universidade do Porto, em Portugal.
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