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Educar: Uma aposta ética

Matéria publicada na edição 114 | Dezembro/Janeiro 2016 – ver na edição online

Diz o Coelho para Alice: – Oh meu Deus! Eu vou chegar muito atrasado! .

Procuro me apoiar na minha história predileta: Alice no País das Maravilhas para pensar nossa missão ética junto a educação brasileira. Gosto muito da leve e direta abordagem sobre Ética apresentada por Mário Sérgio Cortella: “A ética é uma questão absolutamente humana! Só podemos falar em ética quando se fala em humano, porque a ética tem um pressuposto: a possibilidade de escolha. A ética pressupõe a possibilidade de decisão, ética pressupõe a possibilidade de opção”.

Então como pensar as educações desconectadas da ética? impossível. Educar não é uma tarefa simples, e muito menos se resume a ter filhos e dar a eles, tudo que eles pensam que necessitam. Ou a ser profes- sor e apenas dar aulas. Educar eticamente é parte de um projeto hUMANO, edu- ca-se na vida e para vida, e seu início, se dá no primeiro ambiente de aprendizagem, a família, seja ela que composição tiver.

Os primeiros encontros se dão no seio da família, junto aqueles adultos, que acreditamos serem nossos “heróis”, isso é necessário para a formação psíquica daquele ser, que chega desamparado e ao longo dos seus primeiros anos, experimenta o “amparo”. Entendo a Escola como segundo ambiente de aprendizagem, onde as crianças entram em contato com outras instituições. Frequentemente venho escu- tando de pais, “onde foi que eu errei”?

Não sei se existe uma resposta para tal questão, mas quando pais se perguntam sobre “onde foi que errei”? vejo uma possibilidade de um passo à frente. Pensar a ordem simbólica, que é o que nos carac- teriza como humanos. “O humano é filho ou filha do humano, daí a importância da ordem geracional, da inscrição em uma genealogia, uma história. O humano nunca é solitário, mas sempre solidário” (GUilllOT, 2008, p. 59). Certa vez, li ou pensei, já não

sei mais, o que importa é que me marcou muito: “querer ser mãe não é a mesma coisa de ter um filho”. Tal frase ecoa hoje, mais do que ontem em meus ouvidos.

E ser professor, o que significa? Charlot, nos sinaliza algo muito ético: Como construir uma Pedagogia em uma sociedade que deixou esmorecer a questão dos valores, que não sabe mais dizer aos jovens o que vale a pena (fora de ser aprovados no vestibular) e em que os indivíduos são cada vez mais livres e os sujeitos mais abandonados? (ChArlOT, 2013, p. 34).

Talvez, encontremos nas duas instituições; escola e família, a chave para pensarmos as novas gerações. “A parceria escola-família consiste em reconhecer a parte de cada ator, não a ‘melhor parte’, mas simplesmente uma parte de responsabilidade. A humani- dade não é um bolo a ser dividido entre gu- loseimas ou voracidade” (GUilllOT. 2008, p. 60). Educar é uma aposta humana, logo é uma aposta ética. Ser ético é ser huma- no e ser humano é ser ético, simples assim.

qual é a parte que nos cabe? Sugiro que possamos buscar tal questão, dentro das nossas instituições, para que o leitor faça sua própria interpretação. Desafio os educadores, que leiam o clássico livro de lewis Carrol e também assistam o filme Alice no País das Maravilhas, dirigido por Tim Burton, uma forma que (re) encontrei de dialogar com o mundo contemporâneo, muitas vezes perdido em tantas ofertas e diversidade de valores e crenças. Como pensar em uma educação que contemple as semelhanças-diferenças? Pensar a es- cola é pensar naquilo que acreditamos e desejamos a sim mesmo e ao outro. Saber discernir o que vale a pena ser investi- do e o como concebemos um currículo.

“A melhor maneira de explicar é fazer” diz: Alice(…)
“Dizem que o tempo resolve tudo. A questão é: Quanto tempo?”(…)

Acredito sim em uma educação ética, des- de que saiamos dos discursos pessimistas de “fim da história”, de “o mundo acabou”, “não existe mais família”, ”já não se fazem mais alunos como antigamente”, “essa geração está perdida”… tais queixas ou lamentações não nos levarão a nenhuma efetiva mudança e muito menos a uma proposta e aposta ÉTiCA. Sim, es- tamos diante de uma transição, o tempo que passou, não volta mais, ele permane- ce apenas em nossas lembranças. O que temos hoje, são diversas possibilidades e muitos convites abertos, cabe nos perguntarmos: “para onde caminha a educação?”.

Tal desafio, dentre outros, é que nos impulsiona a ir além da mera constatação e da prescrição estreita, que de alguma forma continuamos fazendo da educação atual. Um passo a frente, é meu convite, adentrar os subterrâneos de nossas instituições educacionais, bem como estabelecer bases e articulações para propor as relações reflexivas sobre si mesmo e sobre o outro.

Não estaríamos diante de um grande desa- fio? Aproveitarmos o final de ano e refletirmos a luz de uma ÉTiCA DO CUiDADO. Como planejar o ano de 2016? Como esta- mos acolhendo essa nova geração nas nos- sas famílias e nas nossas escolas? E termino com um pensamento do padre e médico francês, François rabelais: “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram, quando podiam”.

*Jane Patricia Haddad é pedagoga, com especialização em Psicopedagogia, Docência do Ensino Superior e Psicanálise. Atuou por mais de 20 anos em escolas como professora, coordenadora pedagógica e diretora, é consultora institucional e conferencista. Autora dos livros: “Educação e Psicanálise: Vazio existencial” e “O Que Quer a Escola: Novos Olhares resultam em Outras Práticas”, ambos publicados pela editora Wak, do Rio de Janeiro. Atualmente cursa o Mestrado em Educação na Universidade Tuiuti no Paraná , onde seu tema de pesquisa é a Indisciplina Escolar.

Mais informações: janepati@terra.com.br

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