Matéria publicada na edição 110 | Agosto 2015- ver na edição online
Lembro-me bem da cena. Estávamos em pleno caos aéreo e, ao meu lado, no balcão onde tentava obter alguma informação sobre o horário em que meu vôo partiria uma mulher de cerca de 40 anos, aos empurrões e aos gritos dizia: “Esse avião vai ter que decolar! Não vou perder meu compromisso por causa de incompetentes! Eu exijo que o avião decole imediatamente!”. Tornou-se imediatamente o centro das atenções e dos comentários, tamanha a perplexidade com que olhávamos para aquela figura que acreditava piamente que o seu problema era o maior, senão o único em meio a todo o caos que vivíamos. A partir daquela cena, intensifiquei minhas reflexões a cerca da importância do desenvolvimento de competências sócio-emocionais e a cerca das consequências que a falta de tais competências ocasiona.
Competências sócio-emocionais são aquelas que possibilitam um relacionamento saudável entre as pessoas, tendo como base uma boa administração da dinâmica emocional na qual estamos inseridos ao longo da vida. Suportar as frustrações a ponto de não sermos deseducados com os outros é um exemplo de competência sócio-emocional. Outra competência sócio-emocional essencial é reconhecer nossas possibilidades e limites em contextos coletivos, como pode nos exemplificar (pela falta) a mulher do caso anterior. Imagino que nossa personagem afoita não teve muitas oportunidades de desenvolver tais competências e me pergunto qual o papel da escola nesse contexto.
Acredito que algumas questões já são sabidas. Desenvolver competências sócio-emocionais é tarefa que se concretiza a partir de um acordo claro entre escola e família. Outra questão é a necessidade dos profissionais da escola já terem essas competências desenvolvidas. Por incrível que pareça não estamos falando de nada absurdo. Não são raros os educadores que fazem “pirraça” com seus alunos e se posicionam no mesmo patamar de desenvolvimento emocional que eles, intensificando situações conflituosas que deveriam ser encaradas como oportunidades para o desenvolvimento de um perfil sócio-emocionalmente saudável.
Existem funções-chave no desenvolvimento dessas competências. É necessário fazer com que nossas crianças e jovens conheçam suas emoções, saibam administrá-las e descubram maneiras de expressá-las de forma construtiva. Essas habilidades permitem lidar bem com o stress, controlar os impulsos e motiva a perseguição de metas, ultrapassando quaisquer obstáculos que surjam. A escola precisa deixar claras suas crenças e valores a respeito dessa questão e construir, em conjunto com as famílias, um planejamento coletivo que envolva todos os agentes. Unificar ações que visem identificar e gerir emoções, controlar impulsos, lidar com situações frustrantes e colocar-se no lugar do outro são pré-requisitos essenciais para que nossos alunos não protagonizem cenas de onipotências fantasiosas nas situações de caos que muito provavelmente eles viverão no futuro.