Para quem já atua no ramo da educação há algum tempo, não é novidade a tendência à informatização de suas estruturas. Da implementação de eficientes sistemas operacionais na administração, passando pela digitalização dos materiais dos professores, até o uso de tablets e smartphones pelos alunos.
Em algumas (quanto não em muitas) atividades, dentro e fora da sala de aula, o uso de recursos dessa natureza parece seguir uma trajetória incontornável, que o fará, em breve, deixar de ser um diferencial para tornar-se a regra nas escolas.
É evidente que a tecnologia tem seu lugar e relevância na atualidade. Negar seu uso e sua importância, inclusive na escola, seria uma impropriedade que beira a tolice.
Afinal, em um mundo cada vez mais conectado, com incontáveis recursos para o aprendizado, não incluir o elemento digital seria negar à criança muito da informação disponível.
Entretanto, em nome do bom senso, cabe aqui um questionamento: até que ponto as telas podem substituir o material físico? Será realmente saudável, para a criança, o uso recorrente de eletrônicos?
Indo mais longe: quais serão os impactos do uso prolongado das telas no desenvolvimento cognitivo do aluno?
É sabido que, até os primeiros seis anos de vida, a criança encontra-se no ápice de sua plasticidade neuronal. Esta, apesar de presente em toda a vida, vai tornando-se menos intensa à medida em que o indivíduo avança pela adolescência e vida adulta. Portanto, a primeira infância e os anos da pré-adolescência são cruciais para a formação neurocognitiva, sensório-motora, linguística e socioemocional.
Assim, quanto melhores forem os estímulos oferecidos, melhores condições a criança terá de passar por um desenvolvimento completo e eficaz.
É o momento de “usar e abusar” dos brinquedos pedagógicos, dos jogos e das brincadeiras que permitam a interação com o outro, da leitura autônoma ou acompanhada (e devidamente ajustada à idade), enfim, práticas que envolvam a utilização de materiais físicos. Afinal, é através das coisas palpáveis que a criança estabelece sua relação com o mundo.
Por outro lado, o uso de telas na infância é apontado como um fator responsável por diversos malefícios. A Sociedade Brasileira de Pediatria, por exemplo, sustenta que as consequências nefastas do uso de telas por crianças vão desde ansiedade, depressão, distúrbios de atenção e cognição, insônia e até lesões na coluna vertebral.
Não por acaso, a Organização Mundial de Saúde recomenda que crianças de até cinco anos não sejam expostas às telas por mais do que uma hora ao dia (incluindo a televisão).
Mas, e quanto ao uso dos livros?
Ao contrário das telas, a leitura traz incontáveis benefícios a todas as idades, especialmente à formação dos pequenos. A mesma Sociedade Brasileira de Pediatria informa que a leitura na infância, além de aumentar a capacidade de concentração e memória, favorece o desenvolvimento da compreensão crítica da realidade, estimulando a criatividade e imaginação.
Segundo estudos recentes, uma criança que tem contato diário com a leitura (lendo ou acompanhando um adulto que lê) desenvolve melhor a fala e diversifica seu vocabulário, potencializa sua capacidade cognitiva e conhece melhor seus sentimentos e emoções.
Longe de demonizar o uso da tecnologia, dentro e fora da sala de aula, sejamos razoáveis. O livro, assim como todo e qualquer material pedagógico de natureza física, nunca deve ser preterido em benefício das telas, sob risco de essa escolha trazer danos irreversíveis para toda uma geração de crianças e adolescentes.
Então, mais livros e brinquedos, e menos telas!