A biblioteca ainda é considerada por muitos um lugar de obediência, silêncio e até castigo. Nosso pensamento é que esse dogma está completamente ultrapassado. Há quase 15 anos, nos esforçamos para dar nova cara e significado para esses locais passando a utilizá-los como instrumentos de formação de leitores. Nós acreditamos que as bibliotecas são ambientes holísticos, e no ambiente escolar devem trazer também ludicidade. Além de livros, oferecer outros meios de interação e instrução, como arte, música, CDs, internet e, sim, brinquedos para os mais novos.
Enfim, acreditamos num lugar que desperte a imaginação e instigue a criatividade.
Isso porque a leitura deve ser entendida como sinônimo de prazer, conhecimento e também de divertimento. E a biblioteca é a principal ferramenta para promoção dessa ressignificação.
Dentro dela, leitura, entretenimento, brincadeiras para os públicos menores, se confundem propositalmente, afinal a leitura acontece para além da palavra escrita, podendo acontecer por meio de outras formas de linguagens.
Para que se crie um país de leitores, é fundamental que a biblioteca esteja inserida na vida dos cidadãos desde muito cedo, ainda na primeira infância (0 a 6 anos). Mesmo que nessa idade a criança não esteja alfabetizada e pronta para interpretar os textos, ela já se familiariza com as palavras e cria intimidade com o livro da mesma forma que é estimulada, desde cedo, a gostar de brinquedos.
Quando uma criança brinca de cozinhar, por exemplo, ela está exercitando sua leitura de mundo e, se esse brincar acontece acompanhado de um brinquedo chamado livro, ele passa a naturalmente existir na vida da criança. O processo de construção de conhecimento desse leitor é sempre individual.
Por isso, é necessário dar autonomia para que as crianças, jovens e adultos sejam protagonistas de sua própria formação leitora. Cabe ao educador a função de mediar o aprendizado e usufruir dos instrumentos disponíveis na biblioteca para contribuir com o processo de aquisição de linguagem e letramento.
Ao longo dos mais de quinze anos de trabalho, encontramos professores desestimulados e desacreditados dos alunos, da educação.
A partir do momento em que passaram a usufruir de bibliotecas com novos conceitos e, sobretudo, quando perceberam a evolução e envolvimento dos alunos com o espaço, voltaram a acreditar no próprio trabalho.
Estamos com uma pesquisa em andamento que mostrará resultados surpreendentes que comprovam o potencial transformador de bibliotecas em que o livro não é um objeto distante no alto da estante, mas sim um elemento de alto contato e interação, com outros elementos da vida moderna, inclusive. Bibliotecas em que crianças e jovens encontrem ambientes que lhe são familiares e convidativos.
A divulgação dos resultados acontecerá ainda no primeiro semestre deste ano em evento internacional organizado pelo Instituto Brasil Leitor que reunirá especialistas de vários países para discutir a leitura como agente de transformação.
Mais do que implementar espaços físicos para depositar e gerenciar acervos de livros, nossa crença é que a biblioteca em seu novo modelo é um elemento fundamental dentro de um programa amplo de formação de leitores.
É um trabalho educativo, cultural, longo e contínuo, permeado uma nova formação para todos – professores, crianças e responsáveis. A maior recompensa virá com a percepção de evolução das crianças, mas também com o reconhecimento dos outros – gestores, familiares, comunidade.
Em 2013, por exemplo, fomos convidados a apresentar um projeto do IBL, a Biblioteca Para Primeira Infância, durante a Conferência Internacional “Prepare foi Life! – Raising Awareness for Early Literacy Education em Leipzig na Alemanha. O evento reuniu especialistas do mundo inteiro para compartilhar experiências sobre a primeira infância – e essa voltada a crianças de até seis anos foi a única brasileira selecionada.
Mostramos para o mundo que a nova biblioteca tem papel importantíssimo na formação de crianças e jovens e do seu gosto pela leitura. É nisso que acreditamos.