Das muitas abordagens alternativas possíveis na prática do ensino, possivelmente a menos compreendida e mais discriminada em nosso país seja a Pedagogia de Projetos.
Proposta, incialmente, pelo filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859-1952), ativo representante do movimento Escola Nova, essa metodologia tem por objetivo superar a dicotomia professor-aluno no processo de ensino-aprendizagem, tornando a criança uma figura ativa, protagonista do próprio desenvolvimento cognitivo.
A ideia é, a partir de um projeto de pesquisa que desperte na criança o interesse pelos problemas do mundo concreto, ensiná-la, então, por meio da experiência.
Pela ressignificação do espaço escolar, o professor compartilha a centralidade da educação com o aluno, tornando-se mediador onde, antes, era apenas transmissor do conhecimento. Longe de substituir de forma definitiva o ensino tradicional e suas disciplinas, como Linguagens, Ciências da Natureza e as Ciências Exatas, a Pedagogia de Projetos oferece um importante meio de conectar teoria e prática na vivência do estudante.
Das muitas possibilidades oferecidas pela Pedagogia de Projetos, podemos mencionar a Educação Empreendedora, Financeira, Ambiental e Patrimonial, além do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, atitudes proativas, formação ética, entre muitas outras. Com elas, é possível vislumbrar a realização da tão sonhada e pouco concretizada educação integral.
Mas, sendo essa alternativa capaz de agregar tantos ativos à formação da criança (e, por que não dizer, dos professores e comunidade escolar como um todo), por que ela enfrenta, ainda, resistência por parte de alguns educadores? Afinal, quem, como nós, já passou pela experiência da sala de aula, sabe o quanto falar em um “novo projeto” pode causar maus burburinhos pelos corredores da escola.
Em primeiro lugar, o desconhecimento de sua verdadeira proposta. Para alguns professores, o desenvolvimento de projetos em sala de aula ainda representa uma perda de tempo, que poderia ser melhor aplicado no simples cumprimento da matéria. Contribuem para essa visão equivocada a inexperiência de muitos com a prática da Pedagogia de Projetos, a desinformação sobre o tema e os consequentes resultados de algumas experiências malsucedidas.
Em segundo lugar, a falta de material humano preparado para esse tipo de abordagem. Como toda teoria cientificamente testada e validada, a Pedagogia de Projetos requer método em seu desenvolvimento. Assim, as qualificações teórica e prática do docente, associada a uma formação continuada seriamente comprometida com os resultados, é essencial para que se cumpra o papel esperado por essa abordagem.
Em terceiro lugar, a recorrente falta de infraestrutura. É empiricamente observável que, em muitas escolas, faltam os recursos essenciais ao desenvolvimento de projetos pedagógicos: da carência de recursos para pesquisas de campo à inexistência de matérias-primas para atividades maker, a indisponibilidade de elementos básicos a esse tipo de trabalho é uma realidade triste e relativamente comum.
Por fim, aquilo que seria uma espécie de vício de tempos passados, ou seja, uma visão de educação que ainda é, de certa forma, “professocêntrica”, ou seja, que entende o processo de ensino-aprendizagem não como uma construção mediada, mas uma transmissão unilateral. Nessa perspectiva, para a qual a criança é coadjuvante (aluno, do latim alumnus, “aquele que é alimentado”), tendo papel secundário de absorver aquilo que lhe é oferecido. O “professocentrismo”, herança de tempos passados que ainda não conseguimos superar, é, talvez, um dos grandes obstáculos para a consolidação de uma educação integral, capaz de formar na criança habilidades intelectuais e humanísticas, preparando-a para os desafios da vida real.
Contudo, apesar das dificuldades que se impõem, é preciso encarar o tema com otimismo. Da Lei de Diretrizes e Bases às orientações da BNCC, contamos com uma das mais modernas legislações educacionais do mundo, a qual contempla a Pedagogia de Projetos com um de seus alicerces. A formação acadêmica de nossos docentes também tem acompanhado essa evolução. Além disso, o mercado educacional brasileiro tem oferecido novas alternativas para o desenvolvimento de projetos pedagógicos nas escolas. Os desafios são muitos, mas o futuro é promissor.