Por Michel Goulart
A sociedade atual está imersa em constantes transformações tecnológicas que têm trazido mudanças significativas na vida das pessoas, seja no âmbito pessoal, social ou profissional. Estas mudanças influenciam e interferem na sua vida cotidiana, nos mais diferentes aspectos. Tecnologias como o telefone, o rádio, a televisão, o computador, a internet têm, desde o seu surgimento, causado impactos impossíveis de passar desapercebidos. Assim como em outras esferas da sociedade, estas mudanças impactam também na sala-de-aula.
O debate acerca das tecnologias educacionais ocorre em um momento de certa “crise de identidade” da escola. Trata-se de uma crise teórico-metodológica, cujo discurso, em alguns casos, remete à seguinte questão: como ensinar uma geração imersa nas tecnologias digitais – denominados nativos digitais– em uma escola fundamentada em práticas pedagógicas oriundas do século XIX? Neste sentido, muitos advogam o uso do computador devido à motivação que ele traria à sala-de-aula e o seu uso na educação poderia ser a solução para a falta de motivação dos alunos.
Todavia, esta abordagem não leva em consideração o uso que vai ser feito destes programas, nem de que forma poderão servir à melhoria do aprendizado dos alunos. Neste contexto, as tecnologias educacionais são apontadas como ferramentas de transição, ou, em alguns casos, encaradas como panaceia que vai resolver os problemas da escola, diminuindo o abismo geracional e aumentando o interesse dos alunos pelas matérias escolares.
Considerando a relação entre os professores e as tecnologias educacionais, é possível perceber algumas tendências. Por um lado, a euforia em relação à tecnologia, a partir de textos ou relatos que estimulam o seu uso. De outro, a resistência de alguns professores, através do argumento de que a tecnologia pode representar um mal para a educação escolar.
Vale ressaltar que este dualismo euforia x resistência é apontado como manifestação de uma mentalidade tecnófila ou tecnófoba, respectivamente. Gérman Klinge e Pedro Demo destacam que o maior problema destas posturas decorre do fato de que a tecnologia, seja para tecnófilos ou tecnófobos, é vista como destino, não como possibilidade. Ambos incorrem, assim, no que os autores denominam tecnocentrismo.
Para superar o tecnocentrismo na escola, é importante percebê-la de forma crítica. Isto significa não pensá-la meramente como algo bom ou ruim. O foco do projeto de cada escola é o aluno. Logo, a tecnologia educacional também deve ser pensada pelo aluno e para o aluno, considerando suas necessidades e aumento do seu potencial de aprendizado. A euforia e resistência em relação ao uso das tecnologias, por si só, não representam ganho algum para a escola.
Michel Goulart, historiador e professor do Colégio Marista de Criciúma, da Rede de Colégios do Grupo Marista.