Muito se tem ouvido falar sobre a importância das competências socioemocionais dos alunos para que se tornem seres protagonistas de seu futuro. Este tema ganhou força através do movimento de ajuste das instituições escolares à nova BNCC e com os debates realizados à ocasião do Fórum Econômico Mundial. Ambos os fatos deram tração ao debate que hoje vai se sedimentando e ganhando espaço na comunidade escolar.
Para se ter uma ideia, a Metodologia OPEE, pioneira na construção de Projetos de Vida e Atitude Empreendedora, tinha, em 2016, cerca de 100.000 alunos, após 15 anos de existência. A previsão para 2020 é de 300.000 estudantes em mais de 1.500 instituições conveniadas. Está cada dia mais claro para professores, famílias e estudantes que se não formos capazes de criar uma mentalidade e uma atitude diante da vida que tenha em sua base o desenvolvimento destas competências, corremos o risco de ficarmos à deriva no que tange ao desenvolvimento socioeconômico mundial.
Para além das crises
Temos observado diversas crises na América Latina, que se por um lado tem, cada uma suas especificidades e resoluções, tem também algo em comum: elas eclodiram após a queda substancial do preço das commodities. Arroz, feijão, cobre e outras matérias-primas, proporcionaram aos países que as exportavam grandes fontes de riqueza. Com a crescente inovação tecnológica, hoje (e cada vez mais no futuro) a riqueza de uma nação se dará por sua capacidade de gerar valor agregado e não somente contar com os recursos de sua terra. Yuval Harari, autor de “21 lições para o Século 21” e “Sapiens, uma breve história da Humanidade”, tido como um dos historiadores mais renomados na atualidade, nos aponta um grave perigo que pode decorrer da falta de investimento em competências de valor agregado: a dispensabilidade.
Ele explica em suas obras que se antes a riqueza vinha da terra e depois das máquinas e equipamentos, na atualidade (e com a chegada da inteligência artificial), fica clara a importância do desenvolvimento de novas competências, em especial a capacidade de aprender e reaprender, de criar e inovar, de conviver, de reutilizar recursos, de lidar com cenários complexos e imprevistos, de manter o foco e o equilíbrio emocional. Não nos bastarão os conhecimentos da matemática, da língua portuguesa e das ciências. As matérias escolares se tornam tão importantes quanto as competências de lidar com a vida em sociedade e com as nossas emoções.
Na prática
Para ensinar estes novos conhecimentos é preciso, antes de tudo, praticá-los. Que tal seus professores de língua portuguesa proporem uma leitura crítica de notícias na internet, comentando-as, refutando-as, verificando sua veracidade? Ou seus professores de matemática trabalharem a educação financeira dos colegas, oferecendo pistas sobre como planilhar os gastos, equacionar as dívidas e fazer compras mais conscientes? Eles podem até fazer isso junto com os professores de filosofia, que ajudariam a pensar nossos hábitos de consumo e nossos desejos por vezes irrefreáveis de status, que podem desandar em compras insustentáveis. Seus professores de educação física podem contribuir com esta iniciativa promovendo uma semana da qualidade de vida, e os de artes com oficinas de sensibilização sensorial e empatia.
Comece já para colher um dia
Pequenas iniciativas, quando feitas de forma sistemática, podem causar uma transformação em toda a comunidade escolar. Se você quer que seus alunos possam ter uma chance de construírem uma vida com felicidade e sucesso, além da capacidade financeira de matricularem seus próprios filhos em sua escola daqui a 20 ou 30 anos, é bom começar já a transformar sua escola em um lugar bom e feliz – para todos. Seus professores são seu maior e mais importante recurso. Tecnologia é importante, mas desprezar a “pessologia” e a humanização pode ser desastroso. Que tal colocar isso em seu planejamento de 2020? Leo Fraiman – é palestrante, psicoterapeuta, com mestrado em psicologia educacional e do desenvolvimento humano pela USP. É especialista em psicologia escolar e master em programação neurolinguística. Autor de diversas obras: Metodologia OPEE (editada pela Editora FTD), A síndrome do Imperador (Editora Autêntica e FTD) e Meu filho chegou à adolescência, e agora? (Integrare Editora). Integrante do Conselho Mundial de Educação para a Autonomia em Paris e integrante do Simpósio Internacional Formando Lideranças para o Desenvolvimento Futuro na ONU. Contato: comunicacao@leofraiman.com.br