Estamos discutindo constantemente, nos últimos anos, uma proposta de modelo educacional contextualizado, significativo, com metodologias adequadas a aprendizado em grupo, individual e aplicado. No entanto, o foco está, mais uma vez, errado. O passado nos transformou em educadores conteudistas, o presente se propõe a nos transformar em educadores de metodologia e o futuro tende a nos propor ser educadores de recursos tecnológicos.
Em nenhum destes tempos atentamos ao que deveria tomar a nossa atenção, para quem e quais as características deste quem. Em um processo de comunicação, antes de escolhermos o meio, a forma de transmitir, o protocolo ensina que devemos entender quem é o receptor e quais as suas características. De que adianta escrever a mensagem, se o receptor não sabe ler? De que adianta gravar um áudio para alguém que não ouve ou que não conhece a sua linguagem?
Assim, desenvolver um sistema de ensino sem ter como elemento principal o aluno e as suas características é elaborar um projeto fadado ao insucesso da evasão, da falta de motivação e do desinteresse! Em um momento histórico da civilização mundial, onde as transformações sociais, tecnológicas, de perfil de cidadão ocorrem tão rapidamente, não é saudável pensar em um modelo de ensino com qualquer denominação como presencial, EaD ou híbrido sem que se defina, verdadeiramente, o perfil do estudante que será atendido. Uma discussão que traz somente variáveis de custo, de tecnologias, de metodologias e deixa de lado o perfil do estudante e suas principais características de aprendizado não vai levar ao objetivo do aprendizado significativo, que se acumula, que se impregna no ser e serve de alicerce para novos aprendizados
A discussão proposta atualmente é uma vez mais muito superficial, preocupada com os efeitos decorrentes de uma nova realidade econômica, enquanto os padrões e patamares de discussão não se aprofundam a ponto de avaliar como as gerações são diferentes entre si e, cada vez mais rapidamente, apresentam diferenças significativas de perfis, na sua forma de se relacionar com tecnologias, que envolvem a Educação à Distância e como aprendem efetivamente.
Nos últimos oitenta anos, desde 1940 até os dias de hoje temos, ao menos, cinco gerações identificadas neste período:
Geração Baby Boomers – Nascidos após a 2ª Guerra Mundial até a metade da década de 60, caracterizam-se pela dedicação; são leais e comprometidos, são competitivos, contestadores, focados em resultados e aprenderam a lidar com os avanços tecnológicos, mas de uma forma mais gerencial do que aplicada à mudança de hábitos.
Quanto ao mercado de trabalho, valorizam estar em uma mesma empresa pela vida toda e a ascensão profissional. Quanto à tecnologia, são familiarizados com os desktops. Quanto à forma de aprendizado, sãobastante consumidores e inovadores, portanto, estão sempre atentos às movimentações do mercado. Por essa razão, na maioria das vezes estão em cargos de diretoria e gerência nas empresas; possuem raciocínio linear, ou seja, focam na aprendizagem com início, meio e fim, como se fosse a leitura de um livro. Preferem ler e seguir programas de ensino tradicionais e valorizam treinamentos, principalmente relacionado a tecnologias.
Geração X – Nascidos após 1960 até 1980, caracterizam- se pela força, foco e desejo de chegar à aposentadoria. São independentes e empreendedores, valorizam a estabilidade, apresentam um pouco de resistência a mudanças, buscam a ascensão profissional, apresentam-se como uma geração equilibrada, que não se precipita na tomada de decisões e apesar de não serem nativos digitais, são dedicados e se tornam experientes.
Quanto ao mercado de trabalho, buscam, efetivamente, a ascensão profissional. Quanto a tecnologia, já são familiarizados, além dos Desktops com os Laptops. Quanto à forma de aprendizado, como destacado, adaptam-se rapidamente às tecnologias; utilizam recursos tecnológicos, mas prezam o consumo de informação de uma forma híbrida (online e offline) e valorizam a flexibilidade e a aprendizagem colaborativa, com o compartilhamento de conteúdos e o envolvimento das pessoas por meio de comentários.
Geração Y – Nascidos entre 1980 até 1995, caracterizam-se por considerar que dinheiro não é tudo. São autônomos, têm múltiplas carreiras e são conhecidos pelo potencial inovador. Acreditam no trabalho em equipe, são informais e imediatistas, apresentam mais facilidade para assumir riscos, mas buscam recompensas tangíveis. Apresentam alta capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, sem perder o foco. Cresceram com os diversos recursos tecnológicos à disposição, logo, estão sempre conectados, mas não abrem mão da comunicação ao vivo e valorizam e de propõem a grande preparo intelectual e acadêmico.
Quanto ao mercado de trabalho, valorizam a empresa em que trabalham, embora estejam sempre buscando oportunidades melhores. Querem ser tratados de igual para igual, independentemente do nível hierárquico. Desejam uma remuneração competitiva, atrelada a metas e objetivos muito claros.
Quanto a tecnologia, já são familiarizados com os Laptops e os diversos Dispositivos Móveis. Quanto à forma de aprendizado, estão acostumados com o grande fluxo de informações, que consomem com facilidade e rapidez e preferem aprender de maneira informal, são multitarefas e apresentam raciocínio linear.
Geração Z – Nascidos entre 1996 e 2010, caracterizam-se por serem idealistas quanto a sua capacidade de mudar o mundo. Valorizam a consciência coletiva e sentem necessidade de expor suas opiniões. Valorizam ações criativas, não temem arriscar e por ter tecnologia inata são considerados móbile e nativos nas redes sociais. Apesar de realistas, competitivos e independentes, preocupam-se fortemente com o ecossistema, com a sustentabilidade e com os recursos naturais.
Quanto ao mercado de trabalho, não se sentem limitados pelos espaços geográficos, tomam decisão de forma ágil e aspiram rápida ascensão profissional. Quanto à tecnologia, já são nativos dos dispositivos móveis. Quanto à forma de aprendizado, consomem informação principalmente via smartphones e têm preferência por conteúdos em vídeo (curtos), fotos e jogos interativos, aprendem de múltiplas maneiras, são multifocais e convergem em diferentes plataformas e apresentam raciocínio não-linear
Geração Alpha – Nascidos após 2010, caracterizam-se por ser autoritários e donos de suas ações. Destacam-se pela espontaneidade e autonomia. Com acelerado poder de adaptação, interagem com a tecnologia desde o nascimento, portanto são movidos pelos estímulos sensoriais. Quanto ao mercado de trabalho, ainda não estão expostos a ele, porém tendem a ser muito acelerados em suas expectativas. Quanto à tecnologia, estão habituados com dispositivos móveis, são wearables e susceptíveis a interações tangíveis e múltiplas.
Quanto à forma de aprendizado, já consomem informação em diversos canais, como on demand, vídeos, jogos, realidade virtual e aumentada. Apresentam uma forma de aprendizado mais horizontal e preferem ensino personalizado, feito sob medida. Apesar do grande contato com tecnologia, preferem a educação híbrida que possam aplicar em situações do cotidiano, a educação contextualizada.
Como é possível perceber, não existe um sistema de educação, um modelo único que possa atender desde alunos com 60 anos até alunos com 10 anos. Entretanto, o uso de tecnologia na educação — que mais do que uma tendência, é uma realidade com a flexibilização do regulatório à luz das necessidades sociais e também das estruturas de ofertas existentes — precisa ser modulado pelas características de aprendizado de cada um dos grupos apresentados, como exemplo, e que a Neurociência aplicada à educação deve indicar quais os principais modelos educacionais adequados.
A discussão de modelos educacionais a partir do conteúdo, a partir da modalidade de ensino, a partir dos recursos tecnológicos se esvai, pois não considera os diversos modelos de pensamento, de organização mental das gerações para as quais estes sistemas e modelos educacionais deveriam ter sido pensados.
Assim, os aspectos sócioeconômicos, a redução de custos, as dificuldades dos conteúdos, a forma de oferta presencial, EaD ou híbrida e quais ferramentas devem ser aplicadas deveriam ser variáveis importantes, mas secundárias. Já os modelos de aprendizagem e as realidades das gerações nos aspectos emocionais e intelectuais deveriam ser os primeiros fatores de decisão nas escolhas das metodologias que compõem os projetos pedagógicos.
Daí a proposta de encantar o aluno, de dar razão ao seu aprendizado, de motivá-lo e estimulá-lo para os desafios que o aprender, o desenvolver apresentam. Sem este conhecimento, disponível em diversas mídias, sem esta preocupação a oferta da educação será sempre enfadonha, padronizada, pasteurizada e servirá apenas para apresentar o mesmo para diferentes.
Os indicadores de evasão dos cursos de graduação à distância mostram que o caminho escolhido ainda está longe de ser o correto e a falta de discussão científica, pedagógica, neurológica do aprendizado indica que estamos longe de atingir uma proposta que identifique o perfil do aluno e se adequem às reais necessidades e desejos de cada grupo.