O termo bullying, que tem origem do termo em inglês “bully” (“valentão”, “tirano”, “brigão”) com o sufixo “ing” (que indica uma ação contínua), é utilizado no Brasil em sua forma original, e pode ser compreendido como atos de intimidação, humilhação, insultos, apelidos jocosos, ameaças e tantas outras práticas negativas – intencionais e repetidas – provocando consequências sérias às vítimas, tanto no aspecto físico como no psicológico.
As agressões reiteradas, realizadas por um/uma estudante (ou um grupo de estudantes) contra outro/a estudante (ou um grupo), podem surgir como “chamar um colega de nomes pejorativos, impedir que um colega participe de uma atividade, inventar mentiras sobre um colega para prejudicá-lo, ou mesmo agressões físicas, como chutar, bater, com intencionalidade”, situa Beatriz Zancaner, pós-graduada em Neurociências e Comportamento pela PUC-RS.
Os dados de estudantes que relataram terem sofrido algum tipo de agressão identificada como bullying são preocupantes. Os dados do Projeto São Paulo para o Desenvolvimento Social de Crianças e Adolescentes (SP-Proso) de 2019, em uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), realizada com 2.702 estudantes de 119 escolas públicas e privadas da capital paulista indicou que 29% desses adolescentes foram vítimas de bullying; e 23% sofreram algum tipo de violência.
A pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa DataSenado realizada em maio de 2023 ouviu 2.068 estudantes de 16 anos ou mais, e teve como propósito traçar um panorama sobre a violência na escola. De acordo com o relatório, quase 7 milhões de estudantes brasileiros sofreram algum tipo de violência no ambiente escolar nos 12 meses anteriores à pesquisa, ou seja, ao longo de 2022.
De acordo com Beatriz Zancaner, fatores sociais e culturais podem influenciar ou inibir práticas de bullying. “Escolas onde não há ampla divulgação de temas como respeito, amizade, valorização da diversidade, estão bem mais suscetíveis à prática de bullying entre os estudantes”, relata. “Além da educação com relação a esses temas e ao conceito de bullying propriamente dito, é fundamental que a postura de todos os colaboradores da escola seja de atenção às atitudes dos estudantes, escuta ativa, mediação de conflitos com intervenção imediata para coibir práticas de bullying”, completa.
O/a estudante que sofre atos discriminatórios, insultos, humilhações, ameaças e ataques físicos recorrentes pode apresentar sérias consequências, tanto no progresso escolar como em seu desenvolvimento humano e social. O desinteresse pelos estudos, o desenvolvimento de uma baixa autoestima, o isolamento social, a autolesão, pedir para mudar de escola, ter sintomas de ansiedade e depressão, agressividade, enfraquecer os recursos psíquicos para se defender do/a agressor/a, e, em casos mais graves, ter ideação suicida, são algumas características apresentadas pelas vítimas. Mas é preciso destacar que, em muitos casos, o sofrimento do/a estudante pode não ser visível, por isso é de extrema importância que cada escola tenha protocolos de prevenção e estratégias de intervenção quando ocorrer alguma prática de bullying.
PAPEL DA ESCOLA
Para romper com a realidade de agressões e violências, que atingem estudantes em todo o país – tanto presencialmente como na internet, com o cyberbullying – é preciso compreender a instituição de ensino como uma forte aliada na erradicação dessas práticas.
Fernanda King, diretora pedagógica e consultora educacional, ressalta que a gestão escolar pode criar um ambiente seguro e acolhedor por meio de ações preventivas, como “criar canais abertos para denúncias anônimas; monitorar de perto o comportamento dos alunos; realizar palestras de conscientização com as famílias; promover rodas de conversa com todos os alunos. E para quando acontecerem episódios, se possível ter um psicólogo à disposição para conversar com os envolvidos, atuando o quanto antes, para que a situação não evolua e cause problemas ainda maiores”.
Segundo a diretora, alguns valores podem estimulados com o intuito de erradicar práticas de bullying, como o convívio com a diversidade, o respeito às diferenças e o desenvolvimento da empatia desde a primeira infância. “Mas além da empatia, devemos trabalhar outros valores, como a resiliência e o senso de justiça. Somente com pessoas emocionalmente fortes e justas conseguiremos combater o bullying”, diz.
“Temos que ter vozes fortes e ativas nas classes, que sejam atuantes na denúncia e na defesa das injustiças. Se a turma não compactuar com o agressor, o bullying dificilmente se perpetua. E por fim, precisamos de famílias mais presentes na vida dos filhos. As instituições de ensino certamente devem exercer seu papel de prevenção. Mas isso só funciona de verdade se existir a parceria entre família e escola, tão essencial ao bom desenvolvimento das crianças e adolescentes”, indica King.
CONSCIENTIZAR E ERRADICAR O BULLYING
Beatriz Zancaner elenca algumas ações de conscientização/prevenção e intervenções que podem ser acionadas pelas escolas. Desenvolvimento de políticas contra o bullying com medidas corretivas claras e definidas; mapeamento individual de estudantes para saber como cada um/a se sente; e promoção de campanhas de conscientização (rodas de conversa em sala de aula, treinamento para colaboradores, palestra para os pais e/ou responsáveis, cartazes na escola, etc.) são indicações que podem ser trabalhadas para a conscientização da temática.
“Já as intervenções podem incluir: intervenção imediata de qualquer colaborador da escola para interromper uma prática de bullying que ele está presenciando; apoio psicológico para vítimas e agressores; e um sistema de denúncia anônima, assegurando que todos os casos sejam investigados”, complementa Zancaner.
PROJETO NA ESCOLA
O Colégio Santa Marcelina de São Paulo desenvolveu recentemente uma iniciativa com foco em promover um ambiente mais seguro, acolhedor e inclusivo. Intitulado “Anti-Bullying – Amizade Social”, o projeto está impactando 315 estudantes do Ensino Fundamental Anos Iniciais e tem como propósito conscientizar sobre os diferentes tipos de bullying e seus impactos negativos na vida de estudantes, além de educá-los sobre as causas implícitas do ato e fornecer estratégias eficazes de prevenção, como incentivar a empatia e o respeito mútuo.
Silvana Aparecida Moretto Pacífico, professora do colégio, ressalta que a iniciativa busca capacitar os estudantes para que não apenas saibam como identificar o bullying, mas para que também se sintam confortáveis em relatar incidentes e saibam como intervir de forma segura e eficaz. “Queremos que todos se sintam valorizados e protegidos contra o bullying e outras formas de violência, a fim de reduzir as taxas de ocorrência, tanto em termos de frequência quanto de gravidade dos incidentes, promovendo uma cultura escolar baseada no respeito mútuo, na aceitação da diversidade e na valorização das diferenças individuais”, afirma a docente.
Saiba mais:
Beatriz Zancaner – atendimento@direcionalescolas.com.br
Fernanda King – atendimento@direcionalescolas.com.br