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Como praticar a educação antirracista com crianças e adolescentes

Por Helen Mavichian*

Saiba como educar para estimular que desde cedo reconheçam, valorizem, respeitem e acolham as diferenças

O Brasil é reconhecido por todo o mundo como um país miscigenado. 54% da população brasileira é negra, mas, apesar dos fatos, o racismo estrutural ainda está enraizado na sociedade. O período escravocrata nos deixou como herança pensamentos como o negro sendo inferior aos brancos em todos os aspectos, cultural, intelectual e físico. Apresentar esse tema para as crianças pode não parecer ter sentido por achar que elas sejam incapazes de praticar atos discriminatórios, porém, é na escola que acontecem as primeiras experiências de racismo.

As crianças percebem as diferenças e as verbalizam por não terem maturidade cognitiva para filtrar o que falam. Porém, é como diz uma frase famosa do líder africano Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.

É importante ensinar às crianças e aos adolescentes sobre respeito e diferenças raciais. Acabar com o racismo estrutural é algo complexo, mas que podemos lidar melhor com as novas gerações, conscientizando-as desde cedo sobre as injustiças e as desigualdades sociais que existem no país. Elas precisam aprender, desde cedo, que não há problema em serem diferentes, pois as pessoas realmente são diferentes umas das outras. Temos tamanho, cabelos e cores de pele diferentes. E, para que isso não seja visto como um problema, as diferenças devem ser reconhecidas e acolhidas.

Desde pequenas, as crianças aprendem, por exemplo, que o céu é azul e o sol é amarelo e assim por diante. Com isso, passam a naturalmente “catalogar” tudo que visualizam. Não podemos ensinar que somos todos iguais, mas sim respeitar as diferenças. Para isso, nada melhor do que recorrer ao aprendizado lúdico, usando brincadeiras, livros, músicas, filmes, onde essas diferenças podem ser observadas. 

Para desenvolver uma infância sem racismo, o melhor caminho é a educação. Apresentar contos, histórias e costumes de variadas culturas é sempre uma boa alternativa. Os mundos perfeitos com apenas castelos, princesas, super-heróis e “finais felizes” são bacanas para trabalhar a imaginação, mas é necessário complementar com narrativas com personagens reais e plurais. O estímulo à convivência com crianças de gêneros, etnias e trajetórias de vida diversas educa para que todas as diferenças sejam respeitadas.

E esse cuidado não deve ser feito apenas no Dia da Consciência Negra, apenas como um evento isolado. Vivemos em um país multiracial e em que a falta de representatividade negra em posições superiores ou em ambientes favorecidos é evidente. Mostrar que todos podemos ocupar os mesmos lugares, ensina a questionar a presença ou ausência de negros, reconhecer situações de racismo e evitar que ocorram. 

Por fim, um aspecto importante para a educação antirracista é incentivar que os pais sejam uma referência na vida dos filhos. É importante que avaliem constantemente como se relacionam e expressam com outras pessoas. Vale refletir se a diversidade está presente em igualdade nos relacionamentos dos adultos para que isso possa estar presente também na vida das crianças. Só assim elas também serão capazes de entender as dificuldades sofridas por minorias e contribuirão com a desconstrução do racismo estrutural. 

* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita. Mais informações em https://helenpsicologa.com.br/

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