Nos últimos anos acompanhamos muitos avanços em vários setores da educação. As instituições educacionais, para sobreviver a concorrência do mercado e acompanhar as demandas sociais, buscaram diferenciais em seus projetos pedagógicos e em suas estruturas físicas.
Entendendo que cada realidade é única e que cada sociedade local tem suas características, as instituições buscaram, inclusive, modelos para garantir seu espaço em meio ao enfrentamento de fusões, de um mercado agressivo, de grupos econômicos poderosos e de exigências de suas comunidades.
Frente a todos esses desafios há um aspecto que consideramos essencial e que deveria ser COMUM e PRIORITÁRIO em todas as realidades: considerar a pessoa humana em primeiro lugar. Antes mesmo que qualquer tecnologia, que qualquer hard e/ou software e investimentos físicos e/ou pedagógicos.
O valor da pessoa humana, mais ainda nos tempos atuais, deveria ser o grande valor e diferencial de qualquer projeto político pedagógico.
O olhar para o humano, para as relações entre as pessoas, para as resoluções de conflitos e para o respeito às diferenças, deveria pautar todos os pilares dos projetos pedagógicos e de formação.
Pode parecer óbvio e lugar comum, mas as pautas socioemocionais e todos os programas que estão debruçados sobre o tema, nos deixam claro: as relações humanas estão em conflito e, muitas vezes, esquecidas em alguns cenários educacionais.
Será que um aluno pode ser ignorado, não enxergado ou realmente não reconhecido em sala de aula?
O que significa verdadeiramente incluir?
Há muitas formas de se lidar com a inclusão, não apenas nos referindo a casos que, por distintas razões, necessitam de uma atenção especial, ou os casos atípicos, como síndromes ou transtornos de diversas ordens.
Como acreditar em uma inclusão afetiva, acolhedora e transformadora?
A riqueza do ambiente escolar e também suas dificuldades residem na multiplicidade de comportamentos, de visões de mundo, de síndromes e/ou de estereótipos. E neste emaranhado de contextos está a complexidade humana, que se faz e se enriquece nas relações com os outros.
Somos o resultado de nossas relações, de nossas histórias e muitas delas construídas no ambiente escolar. Ambiente este que necessita de espaços para escuta, de abertura e olhar atento aos outros. Pensamos que as palavras compaixão e solidariedade poderiam resumir nossas reflexões.
Como conseguir se colocar no lugar do outro? Como ser-com-os outros?
O que entendemos por compaixão no ambiente escolar?
É o sentimento de uma pessoa que se coloca pronta a compreender o estado emocional de outra, sente empatia e a acolhe com o desejo de que ela supere seus sofrimentos ou o estado desolador no qual se encontra. Entendemos que a compaixão vem acrescida da ação solidária que se refere ao ser-com-os-outros. Ação esta que se encontra numa “ética da compreensão”. Segundo Morin e Viveret (2013, p. 15), “a compreensão humana comporta o entendimento não só da complexidade do ser humano, mas também das condições em que são modeladas as mentalidades e praticadas as ações”.
Isto significa que as interrelações no ambiente escolar, para que sejam saudáveis, precisam da compreensão dos acontecimentos que ali se encontram, de modo que todos que dele participam possam se colocar disponíveis ao exercício da escuta atenta e, assim, não se colocar intolerante ou indiferente ao próximo.
Deixamos aqui provocações para que cada um/a que se sentir tocado/a pense em situações cotidianas que possam levar seus alunos, parceiros de trabalho, gestores e outros que participam do espaço escolar ao exercício da compaixão, da solidariedade e da compreensão.
Estamos indo contra a maré de pensarmos igual aos outros, de pertencermos só às mesmas bolhas ou tribos, de pertencermos aos grupos virtuais ou reais que pensam da mesma forma sem diversidade ou senso crítico. Assim, refletindo sobre como estabelecemos vínculos relacionais, como lidamos com nossas interrelações faremos nosso papel na sociedade enquanto educadores.
Incitar nossos alunos, parceiros, educadores e famílias ao exercício da aceitação dos outros é não termos medo de sermos cancelados pela violência de grupos radicais que massificam o pensar, manipulam um agir tantas vezes pulsional, irrefletido e repudiam preconceituosamente quem tem outro ponto de vista, e este por não compartilhar em anular a presença daqueles que são considerados “estranhos”.
Referências:
MORIN, Edgar e VIVERET, Patrick. Como viver em tempo de crise. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
Prof. Dr. João Carlos Martins
Doutor em Psicologia da Educação, Mestre em Educação, Sociólogo, Historiador, Administrador Escolar, Psicopedagogo, Educador e Gestor. Atualmente Diretor Executivo da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo.
Profa. Ms. Lucilla Da Silveira Leite Pimentel
Mestre em Filosofia da Educação e Mestre em Comunicação e Cultura Midiática. Psicopedagoga, Assessora em Educação, Membro-sócio do Instituto Juan Drogrett e Membro da JCM Consultoria em Educação.