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CONVITE: O MAL-ESTAR EDUCACIONAL

O mal-estar, que paira na educação contemporânea, esbarra na pressa de mudanças a sair de um discurso denunciante: “Os alunos de hoje não respeitam normas, não estudam, não querem nada com nada, não têm disciplina e desconhecem autoridades”. Será que é tão simples assim? Eu, particularmente, não acredito nisso. Acredito que as novas gerações não estão apostando muito nos adultos, naqueles responsáveis por transmitir algo a eles.

Acredito que o momento é muito delicado e, também, muito profícuo a outras reflexões e debates, como: Quem são os “novos” alunos e alunas? O que nós, adultos, estamos apresentando a eles?

O momento atual requer que nós, adultos, saiamos das queixas e passemos a corresponsabilidade frente a tantos novos impasses.

Entendo a Escola como uma tríade: escola – família – mundo, sustentada no intercâmbio de todas as autorias presentes na escola, fonte de contínua produção e mediação do conhecimento. Na perspectiva psicanalítica, a aprendizagem não está focada nos conteúdos, mas no campo que se estabelece entre professor e aluno, o que pode favorecer a condição ou não para o aprender, independente dos conteúdos apresentados. Podemos então dizer que um professor pode tornar-se a figura a quem será endereçada os interesses de seus alunos, pois representa o objeto de uma transferência.

Portanto, não é tanto o desejo de saber que influencia o aluno e sim a relação transferencial com o Outro (algum professor em especial). Crianças e jovens sentem facilidade em aprender determinada matéria quando gostam do professor.

Essa influência é ressaltada por Sigmund Freud que afirma que a transferência, tanto pode impulsionar o aluno como também pode bloqueá-lo definitivamente no futuro, quanto à possibilidade de acesso a um desejo de saber.

O mal-estar nos convoca a restabelecer novos vínculos, exercitar outros olhares e, sobretudo, uma “nova” forma de escutar alunos e alunas, professores e professoras.

Sinto muito professores e pais, A Escola do passado não volta mais, nem que para isso, eles, nossos alunos e alunas, precisem adoecer para que possamos escutá-los. Seria esse o mal-estar?

Amadurecer é preciso, envelhecer jamais. O momento é de ter algo novo para ser contado para as novas gerações. Contar nossas histórias, escutar suas aflições e, principalmente, o momento é de APOSTAR nas novas gerações.

Nada como lembrar de um trecho da canção: Velha Roupa Colorida de Belchior:

Você não sente nem vê

Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo

Que uma nova mudança em breve vai acontecer

E o que há algum tempo era novo, jovem

Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer (…) No presente a mente, o corpo é diferente

E o passado é uma roupa que não nos serve mais…

Ainda agradeceremos ao mal-estar. Ele é um convite, uma possibilidade de amadurecermos. Somos os adultos dessa relação.

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