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Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) na promoção de uma Educação Inclusiva

No cenário educacional contemporâneo, professores têm lidado com o desafio de administrar o ensino e a aprendizagem em uma sala de aula diversa, seja em termos de interesse de cada estudante, modelos de aprendizagem, necessidades biopsicológicas ou contexto socioemocional. A dificuldade em atender as necessidades de estudantes com deficiência, transtornos do neurodesenvolvimento e altas habilidades/superdotação é frequentemente atribuída à falta de formação. Isso pode ser um dos fatores, mas devemos refletir além: que tipos de estudantes podemos ensinar? Existem modelos de estudante?

Nesse sentido, o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) se apresenta como uma abordagem inovadora que busca criar ambientes de aprendizagem flexíveis e inclusivos, baseando-se nos avanços das neurociências e em práticas pedagógicas modernas. Esta abordagem não apenas reconhece as diferenças individuais nas formas de aprender, mas também transforma a maneira como o currículo, os métodos e as avaliações são planejados e implementados.

O DUA surgiu nos Estados Unidos na década de 1990 para responder às necessidades de um número alto de estudantes que demonstravam dificuldades de aprendizagem, particularmente entre grupos vulneráveis, como os estudantes com deficiência e os alunos com altas habilidades/superdotação. Essas dificuldades na aprendizagem surgem de um currículo inflexível e de barreiras para a aprendizagem. Portanto, o DUA surge como uma proposta que considera a diversidade das formas de aprender desde o planejamento do ensino.

Essa diretriz é fundamentada em três princípios, que refletem a complexidade do processo de aprendizagem: I. fornecer múltiplos meios de apresentação; II. proporcionar múltiplos meios de ação e expressão; e III. oferecer múltiplos meios de engajamento. Estes princípios estão interligados e visam atender a variabilidade natural dos estilos e necessidades de aprendizagem dos estudantes.

Oferecendo múltiplos meios de apresentação, por exemplo, os educadores podem utilizar textos de diferentes tamanhos e contrastes, imagens, vídeos acessíveis e materiais táteis para atender a diversos estilos de processamento cognitivo. Da mesma forma, múltiplos meios de ação e expressão permitem que os alunos demonstrem seu conhecimento por meio de projetos, apresentações e produções artísticas, em vez de apenas atividades tradicionais escritas, mostrando que o engajamento dos estudantes pode ser estimulado de diferentes maneiras.

Para entender esses princípios, considere um exemplo da arquitetura: uma escada pode ser uma barreira para pessoas com mobilidade reduzida, enquanto uma rampa é acessível a um público mais amplo. Da mesma forma, o DUA busca remover barreiras educacionais, propondo que o currículo seja inclusivo desde o início. Esse planejamento antecipado não só economiza tempo e recursos, como também promove uma educação mais equitativa.

No Brasil, as políticas que direcionam os princípios da educação inclusiva muitas vezes atendem a um público específico, o que causa uma falta de direcionamento quando falamos da pluralidade da sala de aula, considerando qualquer estudante além dos laudos médicos. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece a importância de uma educação que respeite e valorize a diversidade dos estudantes. Ela enfatiza a necessidade de uma educação integral que abranja todas as dimensões do desenvolvimento humano e que promova um ambiente de respeito e valorização das diferenças.

As práticas pedagógicas pautadas no DUA no Brasil ainda são limitadas, mas o cenário do último Censo Escolar mostra que precisamos mudar. A demanda para atender estudantes com deficiência, transtorno do espectro do autismo e altas habilidades/superdotação cresceu, mas não temos dados que mostrem outras especificidades biológicas que aparecem no contexto escolar. Entretanto, a reflexão que fica é: precisamos colocar todos os alunos em “caixas de laudos” para responder as suas necessidades no contexto escolar? A ideia é que não! Precisamos de professores formados para identificar as necessidades pedagógicas e intervir, utilizando diferentes recursos, materiais e tecnologias para planejar e executar uma aula inclusiva.

Em suma, o DUA representa o avanço para uma educação mais inclusiva e equitativa. No entanto, ainda vivemos na sombra do medo do desconhecido, muitas vezes bloqueando e prejudicando o progresso de cada estudante. A verdadeira inclusão exige uma revolução na prática pedagógica e um enfrentamento das barreiras institucionais e ideológicas.

Jessica Harume é Integradora Pedagógica no time de Ensino e Inovações do SAS Educação. É mestre e licenciada em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Atualmente, é doutoranda na mesma área, com foco na investigação sobre a formação de professores na perspectiva da educação inclusiva.

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