Por Rafael Pinheiro
Interatividade, conectividade, acessibilidade. Essas três definições ganharam (e ainda ganham) uma amplitude imensurável quando lançamos nosso olhar à vivência contemporânea. É possível observar, principalmente nas últimas duas décadas, um aumento considerável de usuários que utilizam aparatos tecnológicos não só com o intuito de entretenimento, mas com objetivos profissionais, educacionais e de conhecimento complementar. Analisar esse fenômeno que encanta essa geração conectada é uma forma de propiciar espaços dinâmicos, com novos recursos e uma gama gigantesca de possibilidades.
Segundo relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o Futuro do Software e da Sociedade, muitas tecnologias emergentes de que ouvimos falar nos dias de hoje chegarão a um ponto de mudança extrema até 2025. O mercado de trabalho, inclusive, deve ser bastante afetado. Na Austrália, por exemplo, devido os avanços tecnológicos e automação, muitas carreiras se tornarão obsoletas e 60% dos jovens estão entrando no mercado de trabalho em empregos que serão radicalmente afetados dentro dos próximos 10 a 15 anos. Os dados pertencem ao relatório The New Work Order, divulgado pela Foundation for Young Australians (FYA).
Com relação à educação, uma pesquisa realizada pelo portal Guia de Carreiras, analisou o interesse de seus usuários e descobriu que quase metade deles (46%) deseja cursar uma graduação a distância (EaD). O levantamento foi baseado nas respostas de 650 mil pessoas que informaram suas preferências em ferramenta disponível no portal. O dado confirma a tendência de crescimento da educação a distância no Brasil que, no início de 2015, o total de matriculados já ultrapassava a marca de 3,8 milhões de pessoas, segundo dados Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED).
A pesquisa também investigou a área do conhecimento de escolha dos futuros alunos e cursos de Negócios (tais como Administração, Comércio Exterior e Ciências Contábeis) e de Saúde (como Medicina, Enfermagem e Psicologia) lideram o ranking, somando 49% de interesse dos entrevistados. Em seguida, aparecem áreas como Educação, Engenharia e Tecnologia. Com relação ao perfil dos respondentes, o levantamento aponta um dado curioso: embora 72% tenham o ensino médio completo, outros 19% buscam uma segunda graduação.
DEFINIÇÃO EAD
Conceituada pela Legislação Brasileira no seu artigo 1º, Educação a Distância “é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação” (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, decreto nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998).
Usualmente o termo “educação a distância” é empregado para qualquer tipo de sistema que esteja centrado na expansão do acesso ao ensino. “Uma característica da EaD é a utilização de tecnologias para mediar o ensino e a aprendizagem, como: material impresso, material em áudio e vídeo, TV, rádio, internet. De qualquer forma, envolve o papel do professor como mediador da aprendizagem. A educação a distância não é uma educação diferente da presencial, é uma modalidade da educação que se realiza em diferentes espaços, tempos ou ambientes de aprendizagem”, diz Maria da Graça Moreira da Silva, Docente do Programa de Pós-graduação em Educação – linha de pesquisa de Novas Tecnologias da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
De acordo com a docente, a modalidade de educação EaD pode se desenvolver em diversos formatos, como: Totalmente a distância (a maior parte da carga horária a distância); Semipresencial (parte presencial e parte a distância); Apoio ao ensino presencial (até 20 % da carga horária a distância); e outros formatos. Já os cursos ou atividades a distância podem ser desenvolvidos em diversos níveis de ensino: Ensino Fundamental e Médio; Suplência; Graduação (Graduação ou Graduação Tecnológica); Pós-graduação (especialização, MBA); Cursos livres ou de extensão profissional; Cursos corporativos.
“A modalidade a distância é bastante antiga no Brasil e vem crescendo nos últimos 10 anos devido às políticas públicas de incentivo às instituições de ensino públicas e ao interesse de mercado das instituições particulares – somados à disseminação das tecnologias de informação e comunicação”, ressalta Graça Moreira.
TRADICIONAL versus TECNOLÓGICO
Atravessamos um período disruptivo, uma era em que notamos a potencial existência tecnológica e caminhamos para nos adequar a ela – em todos os sentidos sociais. Na educação, em especial, as transformações disponibilizam aprender e ensinar sob novas formas, com adições de valores, métodos inovadores e melhoramento de ambas as partes, tanto para o professor gestor de conteúdo como o aluno aprendiz.
Nessas transformações, algumas problematizações abrem caminhos para questionamentos, no que tange o envolvimento entre o ensino tradicional e o tecnológico. “Existem vários estudos que mostram que não estamos numa disputa entre EAD e ensino tradicional. O que se mostra mais efetivo é o ensino híbrido em que sala de aula, AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) e metodologias ativas desenvolvem mais os estudantes que atingem média acadêmica e motivação maiores que nos cursos tradicionais”, explica Carlos Longo, Pró-Reitor Acadêmico da Universidade Positivo (UP), de Curitiba (PR) e Diretor de Relações Nacionais da Associação Brasileira de Ensino a Distância (ABED).
Segundo Carlos, o termo EaD deve ser traduzido como aplicação de tecnologias de informação e comunicação, as chamadas TICs, no processo de ensino e aprendizagem. “Hoje cada vez mais estamos unindo o AVA com a sala de aula, adicionando metodologias ativas nos encontros presenciais. Na Universidade Positivo, temos disciplinas blended, em que os alunos acessam o AVA para leitura e atividades de preparação para o encontro presencial a cada 15 dias, em que em grupo ou individualmente tem atividades práticas de fixação de conhecimento. Ou seja, usamos sala de aula invertida com AVA, sala de aula e metodologias ativas”.
Assim, é possível avistar vantagens nestas modalidades de ensino e, consequentemente, aspectos positivos que alavancam o campo educacional que, além da acessibilidade, reforçam exigências de qualidade, disciplina e empenho do aluno. A educação a distância, conta a docente Graça Moreira, possui as mesmas exigências de qualidade que os cursos da modalidade presencial, dependendo, certamente, da instituição de ensino ofertante, do curso e da dedicação do aluno e da disponibilidade de meios tecnológicos. “Contrariamente ao que se pressupõe, a EaD não é considerada como uma forma mais ‘fácil’, exige do aluno dedicação aos estudos e frequência nas atividades”.
Essa nova plataforma de ensino propicia novas fontes e aproveitamento de conhecimento, de forma plural, pautada em recursos que nossa atual sociedade da informação despeja em nosso cotidiano. O ensino a distância é uma forma de trilhar novos caminhos na relação ensino-aprendizagem, vivenciar experiências gratificantes e visualizar as transformações que ocorrem na educação.
“A entrada das tecnologias da informação e comunicação – presencial ou a distância – é acompanhada por novas oportunidades para repensar novas práticas para as instituições de ensino, professores e alunos. Para as instituições de ensino é necessário refletir e desenhar novos currículos, mais flexíveis que englobem as tecnologias e as metodologias ativas, bem como investir em infraestrutura tecnológica, na formação de gestores e professores, prever novos processos para o atendimento ao aluno”, finaliza Graça. (RP)
Saiba mais:
Carlos Longo – carlos.longo@up.edu.br
Maria da Graça Moreira da Silva – mgraca.moreira@gmail.com