Matéria publicada na edição 49 | Junho/Julho 2009 – ver na edição online
Prevenção, educação em saúde e primeiro atendimento.
Por Rosali Figueiredo
O Colégio Bandeirantes em São Paulo adotou uma iniciativa inédita entre as escolas brasileiras. Por meio de seu ambulatório médico e do CPG (Grupo de Processo em Grupo), responsável, entre outros, pelos trabalhos de orientação sexual e prevenção ao consumo de drogas junto aos alunos, desenvolveu uma campanha de vacinação anti-HPV com as adolescentes do Ensino Médio.
O Papiloma Vírus Humano é uma doença sexualmente transmissível, altamente contagiosa e está fora do calendário oficial do governo, porque é muito cara, justifica a pediatra Beatriz Salles Aguiar, responsável pelo serviço médico da escola. Em sete dias de vacinação, ocorrida no início de junho, foram atendidas 261 alunas, cerca de um terço do público potencial, “número muito bom por ser uma primeira campanha”. Todo o trabalho foi precedido por palestras de orientação aos professores e alunos, cartas enviadas aos pais e a montagem de um blog na internet (http://sextips.colband.blog.br/tag/hpv). A vacinação prevê outras duas doses, a serem ministradas até o mês de dezembro. Mas até lá o ambulatório estará envolvido com novos programas, “provavelmente sobre nutrição, aproveitando o sucesso do blog”, afirma Beatriz.
“O ambulatório escolar deve ser destinado justamente à prevenção, educação em saúde e ao primeiro atendimento”, recomenda Angélica Azevedo Rosin, enfermeira e superintendente técnica do Coren (Conselho Regional de Enfermagem) no Estado de São Paulo. “Nossa orientação é que fiquem bem claros os seus objetivos, que haja uma equipe preparada e sempre presente e que o espaço atenda às normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.” Angélica Rosin refere-se à Resolução RDC 50/2002, a qual estabelece parâmetros para a organização física dos serviços assistenciais de saúde, incluindo as enfermarias ou ambulatório escolar.
De acordo com o SIEEESP (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), o serviço não é obrigatório e resulta de um diferencial estabelecido por algumas escolas. No entanto, ressalva a superintendente do Coren, desde que oferecido, ele deve atender à Resolução e também à Lei Federal 7498/86 e ao Decreto-Lei 94.406/87, que tornam obrigatória a presença do profissional enfermeiro.
No ambulatório do Colégio Bandeirantes são realizados de 80 a 100 atendimentos diários entre alunos, professores e funcionários, diz a médica Beatriz Aguiar, na maior parte casos corriqueiros, de chicletes grudados no cabelo a cólicas, dor de garganta e pequenas lesões. São poucos os casos graves, como um braço quebrado, diz. Todo o prontuário pode ser acompanhado pela família via internet e os procedimentos são realizados após consulta à ficha médica do aluno e consentimento dos pais. Especializada em hematopediatria, Beatriz Aguiar atende diariamente no local e tem o apoio de três profissionais da área de enfermagem. O serviço funciona das 6h40 às 21h30.
Para a médica Glaura César Pedroso, pediatra da Unifesp, presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo e Coordenadora do Programa Escola Promotora de Saúde do município de Embu, o ambulatório deve oferecer um primeiro atendimento e acionar os serviços de emergência nos casos mais graves. “As escolas podem organizar salas para atendimento com armário para guardar o material de primeiros socorros e eventuais medicamentos, fora do alcance das crianças”, diz. Na lista desses materiais, constam luvas descartáveis, gaze esterilizada, esparadrapo ou faixa, água e sabão (“de preferência líquido ou em pequenos pedaços, para que o restante possa ser jogado fora após o uso em ferimentos”). Segundo Glaura, “outros equipamentos podem ser acrescentados, dependendo do número de alunos e de características específicas da escola”.