Por Cristina Corsini
Inicio o meu texto com uma provocação: Temos hoje uma escola do século XIX, com professores do século XX, dando aulas para alunos do século XXI.
Antigamente a figura do professor era tida como sagrada. Uma pessoa muitas vezes austera, que dificilmente demonstrava seus sentimentos, detentor de todo o conhecimento e formador do caráter e costumes adequados à sociedade. Sua missão: transmitir o saber acumulado culturalmente e historicamente pela sociedade, depositar o conhecimento acumulado na cabeça do aluno, que numa posição totalmente submissa e dependente precisaria absorver, passivamente, como uma esponja, toda e qualquer informação. A sua relação com os alunos era vertical, baseada na obediência e no medo. As famílias atribuíam a ele total confiança, uma vez que era a escola, através do professor, que seus filhos realizariam o sonho dourado de mudança de status e de ascensão social.
No entanto, muita coisa mudou. As demandas do século XXI esperam e exigem um educador que tenha consciência de que não é detentor da informação como (pensavam) que eram os seus colegas de alguns (infelizmente, poucos) anos atrás, e que, mesmo com a consciência das deficiências da sua formação, seja capaz de enfrentar os desafios e esteja comprometido com a qualidade do seu trabalho. Alguém desvinculado de moldes e modelos e que não enxergue todos os alunos como sendo iguais em termos de ritmos e estilos de aprendizagem; que desenvolva a capacidade, a competência e a postura ética e comprometida para trabalhar cotidianamente com a educação na diversidade. Um mediador, que aponte caminhos e oriente o aluno na construção do conhecimento adotando práticas pautadas na criatividade e na inovação, motivando sempre os alunos a uma participação ativa e prazerosa.
Tudo muito bonito, mas NADA fácil! Conheço a realidade.
Professor: profissão pouco valorizada. Aliás, qual jovem hoje “sonha” em ser professor? Salário defasado, pouco investimento e respaldo por parte dos órgãos governamentais. Trabalho em salas de aula com alunos que muitas vezes só vão à escola porque são obrigados por lei ou com outros que por não terem o que comer em casa, vão por causa da merenda… No dia a dia tem que disputar com o celular a atenção do aluno, enfrentar problemas também com famílias, que insistem e, destituir a sua autoridade, questionando as suas práticas e normas. A violência tem crescido a cada dia, agressões, humilhações, indisciplina, dificuldades de aprendizagem e, pior, muitas vezes é visto como alguém que, por não ter tido oportunidade em outras áreas do mercado de trabalho, “quebra o galho” dando aulas.
Por outro lado, hoje o educador passa a ser reconhecido e respeitado não pelo o que sabe, mas pela forma com que media, de forma cooperativa, a construção do conhecimento do estudante. Trabalha em um ambiente mais dinâmico, sem tantas restrições políticas e morais, podendo interagir com seus alunos, sem ter que, para tal, deixar de ensinar e trabalhar o conteúdo. Tem a seu favor o mundo da tecnologia, incorporando práticas mais dinâmicas e inovadoras. E, finalmente, tem em suas mãos o combustível que faz o motor cognitivo funcionar: a afetividade e o diálogo, possibilitando uma relação menos autoritária e mais colaborativa. Então, ser um educador do século XXI é ser protagonista do ensino.
Ok, Ainda temos grandes dilemas. Mas, diante de um problema sempre digo que temos duas opções: ou buscamos culpados ou tentamos encontrar soluções. Podemos ficar no mimimi… mas, isso… mas, aquilo OU pensarmos no “apesar de”, SIM, possível chegar lá!
Eis os dados de duas pesquisas, uma realizada entre 2008 e 2009 e com 15 grupos de estudantes entre 15 e 22 anos, e outra realizada no período de 2015 e 2016 com 29 grupos (alunos, pais e professores) acerca do que é um bom professor / uma boa aula / uma boa escola. Especificamente no que tange a “ser um bom professor”, eis as opiniões dos alunos: tem que ter mais convívio com os alunos; uma relação mais próxima e de apoio. Já para os pais, ser um bom professor é estar mais focado em fomentar criatividade e relacionamento entre os alunos. Finalmente, de acordo com a concepção dos próprios professores, é ser um mediador e orientador. Menos dono da verdade. Ter mais cultura geral e repertório, boa oratória e se manter atualizado tecnologicamente.
A pergunta que não quer calar: o que foi apontado pelos alunos, pais e pelos próprios professores diz respeito à questão estrutural da educação, depende de ações do governo ou depende de investimento financeiro?
É urgente que a educação melhore e isso depende de muitos fatores, mas, principalmente, depende de NÓS, professores!