Parte I: Educação 4.0
O tradicional modelo de aprendizagem em salas de aula com lousa, giz e papel já não é suficiente para atender as necessidades das novas gerações de alunos, e nem para acompanhar as evoluções do mundo atual. Este cenário, que já era conhecido como tal e que a inércia decorrente de três séculos de cultura não conseguia mudar, foi abrupta e radicalmente transformado a partir do mês de março de 2020, quando mais de 300 anos da escola que conhecíamos foram definitivamente encerrados.
A escola como tal “criada entre os séculos 18 e 19, que contava com profissionais formados no século 20, para atender os estudantes do século 21” (LOBATO, 2017) despediu-se de nós, mas a saga dos docentes que abraçaram e encararam os novos desafios, da noite para o dia, os gestores que ao invés de se intimidarem transformaram problemas em soluções para suas escolas e os coordenadores e especialistas que não deixaram de prestar todo tipo de apoio ao novo contexto, podem ser considerados como os construtores de uma Escola Ubíqua.
Sim, ubíqua, pois passou a estar em toda parte, na palma das mãos dos estudantes usando os seus celulares (quando têm algum acesso à Internet!), nos laptops por vezes surrados dos docentes, ou em situações mais apropriadas, rompendo com as limitações físicas dos antigos muros das escolas brasileiras. Ali começava a surgir a escola onipresente, com educação oscilante presencial, não presencial, chamada de ‘híbrida’, com educação à distância que, de fato, nunca foi, mas sim a gênese de uma ‘Educação Mesclada’, que começava não mais diferenciar digital de não digital, presencial de não presencial, e outros cenários que foram se apresentando a cada momento e a cada novo desafio.
Por esta perspectiva, o que se mostrava como grande ameaça, como de fato vem sendo no que tange aos aspectos da saúde pública, foi sendo transformado por ação resiliente e criativa de muitos e muitos profissionais da educação, em novas formas de gerenciar a informação, a comunicação, a colaboração e o conhecimento. Contando com plataformas e mídias digitais (e isso não é tecnologia, pois tecnologia não se usa, mas se utiliza, já que é, deveras, a mais importante função da consciência humana, aqui definida como interação cérebro-mente), gestores, educadores, especialistas, estudantes e suas famílias, talvez sem se dar conta, começavam a criar a autêntica escola do século 21, a Escola Ubíqua, embalada por uma Educação Mesclada conforme definida acima.
Este momento em que se evidencia a criação social de um novo paradigma para a escola e a educação vale recorrer, rigorosamente, ao conhecimento científico para sairmos do perigoso pântano do achismo e das concepções de senso comum. Por isso se volta aqui ao modelo teórico da Educação 4.0 que se baseia em 4 pilares referenciais que sustentam processos de inovação nas escolas, a partir de: 1) uma visão sistêmica (Modelo Sistêmico de Educação – MSE); 2) de conhecimentos de base científica para dar suporte aos processos de ensino-aprendizagem, desde sua autoria e avaliação, passando por mediação qualificada do educador (pilar da Educação Científica e Tecnológica – ECT); 3) de Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC, pois hoje temos uma engenharia do conhecimento que, por exemplo, esclarece como as pessoas aprendem, o que diferencia o conhecimento tácito do explícito, e como as mídias podem contribuir no desenvolvimento humano, além de nos ajudar muito a conceber e realizar processos aprendizagem por competência e, por fim, contamos com o quarto pilar da Ciberarquitetura – CBQ, que nos instrui a respeito da ruptura da antiga separação entre o espaço físico e o digital, e dos lugares e ciberlugares onde se dá a interação humana, de modo que hoje podemos desfrutar da dualidade benéfica que integra nossa comunicação presencial à remota.
Além disso, na Educação 4.0 se pratica com maior frequência o learning by doing (aprender fazendo). Isso significa que os alunos ao aprender estarão integrando prática e teoria simultaneamente. O ambiente escolar se torna mais colaborativo e dinâmico a partir desta perspectiva, propiciando inclusive o desenvolvimento das chamadas Soft Skills e aplicação de inteligência distribuída, por processos de aprendizagem conduzidos por PBL (isto é, aprendizagem baseada em problemas), por PLL (Project-Led Learning, ou aprendizagem conduzida por projetos) e de outras metodologias chamadas ‘ativas’ por colocarem o estudante no centro da ação criativa e laborativa.