Investir em educação tem valores especiais associados a expectativa de resultados a serem atingidos, além dos financeiros, permitindo a expectativa de agregar valor social, cultural e ajudar a construir uma sociedade diferenciada pela formação dos cidadãos.
Este conceito já tem feito dezenas de gestores de fundos de investimentos se motivarem a se aproximar deste segmento. A Educação Superior foi a etapa inicialmente escolhida pelos investidores por conta de ações decorrentes de políticas indutoras ao acesso ao Ensino Superior, como as versões iniciais do PROUNI, que transformou Faculdades e Universidades sem fins lucrativos para com fins lucrativos, para poderem se isentar de impostos com a oferta de vagas gratuitas a alunos com baixo poder aquisitivo.
Assim, desta forma, oferecer Educação com lucro deixou de ser encarado algo “amoral” (as Universidades, Centros Universitários e Faculdades passaram a ser encaradas como empresas) desde que tivesse alguma qualidade e agregasse valor a formação do cidadão; e o FIES que ampliou o acesso para as classes C e D, maior volume populacional e ampliação expectativa de movimentação social.
Este movimento de aproximação de investidores com a Educação Superior, iniciado na década final do século XX e que se consolidou nos primeiros anos do século XXI, agora tem um reposicionamento claro da atenção para a Educação Básica!
O maior grupo Educacional mundial, a Kroton, seguiu este caminho com a compra da Somos e suas mais de 30 escolas. Criando uma Holding chamada SABER para gerir toda a operação de Educação Básica do grupo.
A fundamentação financeira de que faz sentido investir na Educação Básica se baseia no indicador de valor de uma empresa que é o LTV (Life Time Value – quantidade de valor que um cliente contribui para a sua empresa ao longo da vida) dividido pelo CAC (Custo de Aquisição de Clientes).
As negociações com startups, que assumem valores muito significativos consideram este valor de divisão muito interessante quando o indicador fica na faixa entre 10 e 15, se considerarmos uma escola de Educação Básica que oferece da Educação Infantil ao Ensino Médio, nesta análise este resultado fica entre 50 a 83, ou seja, custo de captação é baixo em relação ao tempo de vida do cliente que chega a ser de 15 a 20 anos, considerando que o aluno entra na escola com idade de 1 a 3 anos e sai com 17 anos.
A educação básica é um segmento e mercado muito promissor! Enquanto no Brasil existem apenas 2.500 Instituições de Ensino Superior, sendo que a maioria foi aberta nos últimos quinze anos, existem mais de 36.000 escolas de Educação Básica. É raro existir um bairro que não tenha, ao menos, uma unidade escolar ofertando algum dos níveis da educação básica que são a infantil, fundamental 1, fundamental 2 e médio.
A pulverização de alunos também é muito grande, pois as maiores escolas não apresentam mais do que 2.000 alunos por unidade.
Outro fator que contribui para a atenção que os grupos de investimentos estão dando para Educação Básica é a previsibilidade de receita. Os tickets médios são dados e conhecidos pelo posicionamento institucional e quanto a quantidade de horas de aulas diárias e atividades oferecidas, já a evasão sempre é representada com indicadores na casa de um dígito. A inadimplência também baixa e recuperável em períodos inferiores a 2 anos.
Outra oportunidade importante para os grupos educacionais é a oferta de serviços e atividades complementares a formação tradicional. Hoje a receita anual de todas as instituições de Ensino que ofertam Educação Básica supera R$ 60 bilhões por ano, mas as famílias dispendem mais outros R$ 40 bilhões em serviços relacionados a programas complementares a formação, reforço escolar, atividades físicas e artísticas e inglês. Cabe destacar que só o valor gasto com cursos de língua inglesa supera R$ 10 bilhões ano (25% dos valores extras aos cursos curriculares da educação básica).
Assim, as escolas que se posicionam ofertando cursos e atividades no contraturno da formação curricular, podem tentar ampliar a sua receita em, ao menos, 66,7%, em números atuais.
Outro fator importante que ocorre com a chegada dos investidores em um segmento é busca pela otimização dos processos administrativos. A SABER, mantida pela Kroton, entende que consegue ofertar serviços de cobrança, de registro acadêmico, de ações de relacionamento que fazem parte de um centro de serviços únicos a valores que reduziriam em 50% os custos das atividades transacionais relacionadas a educação básica. Isto significa que, minimamente, com uma ação de melhoria de processos ou de contratação de serviços externos os resultados operacionais podem ter um acréscimo de valor da ordem de mais 15%.
Assim, investir em um segmento onde a vida útil do cliente pode chegar a 17 anos, onde evasão e inadimplência são da ordem de 1 dígito, com a possibilidade de mais de 66,7% de novas receitas com atividades complementares a curricular normalmente oferecida e que tem uma latitude de até 15% na redução de custos com a otimização dos processos transacionais, relembra de maneira muito melhor o início do investimento na Educação Superior nos idos dos anos de 1990.
A expectativa é que estes grupos tenham aprendido com os investimentos na educação superior e que a educação não pode ser tratada com um modelo extrativista, e que minimamente deve existir investimento na formação e especialização das equipes administrativas e acadêmicas, principalmente, e em recursos tecnológicos para atender a evolução das gerações e de seus modelos de aprendizagem.
Os resultados das instituições de ensino superior nos últimos períodos são muito ruins, pois a base de alunos não cresce e o valor da mensalidade média chegou cair mais de 25% em dois anos. Quem venha o desafio do investimento e consolidação do segmento da educação básica no Brasil.