A atualidade movimenta (e também suscita) uma série de alterações instigantes que percorrem, de certa maneira, todos os campos habitados nos âmbitos socioculturais. Dessa forma, estreitando o olhar na contemporaneidade e em seus efeitos, sobretudo na educação, avistamos interferências que ganham notoriedade em diversas rotinas estudantis e que agregam, em vários planos, um aprendizado que transcende a sala de aula, com foco no mercado globalizado e maior conhecimento das habilidades interculturais.
Para compreender os aspectos que compõem o ensino bilíngue nas escolas brasileiras, conversamos com Lucas Rigonato, coordenador acadêmico da Cultura Inglesa SP, que ressalta: “É inegável o aumento pela procura de escolas que ofereçam educação bilíngue tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo”. Confira abaixo a entrevista:
Direcional Escolas: Com um panorama globalizado e mudanças socioculturais, você acredita que teve um aumento na procura por escolas que ofereçam um ensino bilíngue?
Lucas Rigonato: Nos EUA, após décadas de restrição de ensino bilíngue em alguns estados, por exemplo Arizona, Califórnia e Massachussets, o crescimento é tão significativo que o país passa por dificuldades para encontrar professores que possam atuar no contexto. No Brasil, embora o crescimento nas regiões sudeste e nordeste seja mais significativo, as outras regiões também vêm se destacando na oferta de escolas que atendam a essa demanda no mercado.
DE: Há uma diferença significativa em escola bilíngue e oferecer o inglês em cursos extracurriculares, por exemplo?
LR: Há maneiras diferentes de se entender o bilinguismo, e, por sua vez, a educação bilíngue. No Brasil, não há regulamentação para determinar como o ensino deve ser feito nas escolas que oferecem esse tipo de ensino. Contudo, uma diferença básica é a exposição que alunos terão à língua. Quando o inglês é oferecido como curso extracurricular, normalmente o foco está na língua e não em outras disciplinas, isto é, crianças e adolescentes estão na sala de aula para aprender a língua inglesa. Na escola bilíngue, a instrução de disciplinas diversas é executada na língua-alvo, o inglês. Além disso, a língua é utilizada em todos os contextos e atividades realizadas, o que faz dela o meio real de comunicação. Assim, enquanto no curso extracurricular de inglês o aluno está aprendendo a língua para poder falar sobre ciência, por exemplo, na escola bilíngue o aluno é instruído sobre ciência na língua inglesa, o que envolverá a execução de atividades de discussão, pesquisa e a instrução em si.
DE: É possível afirmar que o ensino bilíngue transforma os alunos bem preparados para as habilidades/necessidades do século XXI?
LR: Como o foco da educação bilíngue está na instrução de disciplinas várias, tendo o inglês como língua de comunicação e instrução, os indivíduos que estão/foram imersos nesse modelo provavelmente estarão equipados para atuar em um mundo globalizado. E essa é, sem dúvida, uma necessidade deste tempo em que vivemos. No Brasil, estar apto a se comunicar e atuar em um mercado globalizado deixa de ser uma ideia utópica a ser vivenciada no futuro, pois é parte do agora. Além disso, a educação bilíngue se torna também uma ferramenta para descobrimento de um mundo que está além dos limites da sua sala de aula e do seu país, ou seja, maior conhecimento de habilidades interculturais. Há também indícios de que a educação bilíngue demonstra resultados, como: maior capacidade para ignorar informações irrelevantes, melhor funcionamento da memória, conhecimento mais profundo de como as línguas funcionam e maior habilidade para identificar ambiguidade.
DE: Existe uma faixa etária específica para inserir os alunos no ensino do segundo idioma?
LR: Não há regra específica para o momento ideal para inserção de alunos no ensino de um segundo idioma. Quando se há um cuidado para a maneira como a instrução é realizada, tendo em vista o desenvolvimento cognitivo e social dos alunos, os resultados são satisfatórios. A exposição a uma segunda língua pode resultar em desenvolvimento mais eficaz das competências analítica, cognitiva, social e intercultural. O aluno torna-se, assim, bilíngue, não somente linguisticamente, mas também em sua formação cidadã.
DE: Quais são as principais dicas para gestores/as que desejam tornar suas instituições em escolas bilíngues?
LR: É necessário que haja clareza do que se entende por bilinguismo. Assim, a direção acadêmica deve decidir qual modelo de ensino bilíngue deseja oferecer. Após isso, buscar ou desenvolver um sistema que esteja de acordo com sua filosofia de ensino, bem como preparar seu corpo docente para os desafios que tangem o ensino e aprendizagem em uma segunda língua.
DE: É necessário realizar capacitações ou cursos de atualização para os professores que atuam no ensino bilíngue?
LR: Sem dúvida. Há educadores que afirmam que não há ensino descolado de aprendizagem, ou seja, para se ensinar melhor, o professor deve constantemente buscar desenvolvimento e atualização. Entretanto, gestores escolares devem sempre estar atentos às promessas de capacitações rápidas, contudo superficiais. Deve-se buscar um programa contínuo de aprendizagem, com parceiros experientes no segmento de ensino de uma segunda língua.
Saiba mais:
Lucas Rigonato tem especialização e mestrado em Linguística Aplicada. É coordenador acadêmico na Cultura Inglesa São Paulo, atuando em criação e desenvolvimento de cursos, e iniciativas de capacitação dos professores da instituição. – lucas.rigonato@culturainglesasp.com.br