Matéria publicada na edição 69 | Junho e Julho 2011- ver na edição online
Pela “combinação inteligente” entre papéis, apoio e cobrança
Construir objetivos comuns, estabelecer metas e ações, cobrar resultados e dar clareza aos papéis que competem a cada colaborador conferem qualidade à gestão escolar e garantem o sucesso do projeto educativo das instituições.
Esse foi o ponto marcante das palestras do 7º Educador Management (Seminário Internacional de Gestão em Educação), que registrou grande afl uência de público na Educar 2011.
Há cerca de dez anos um grupo de professores de Vitória, Espírito Santo, se uniu em torno de uma cooperativa e criou o “UP Centro Educacional”, escola de Ensino Médio e pré-vestibular. A instituição atende hoje a 2.700 alunos em três unidades, está prestes a inaugurar uma sede própria (a quarta unidade) e, por meio desta, pretende chegar aos cinco mil alunos em ambos as modalidades e ainda implantar o Fundamental II. Mas boa parte do grupo de professores se mantém agora apenas em sala de aula, já que a escola foi assumida no fi nal de 2008 por um mantenedor proveniente da área médica, que lhe imprimiu outro perfi l de administração e, sobretudo, pôs fi m à sobreposição de funções que até então vinha comprometendo a administração e, em consequência, a saúde fi nanceira da instituição.
“Tínhamos muito cacique, como os professores eram donos, havia confusão de papéis”, relata Fábio Cardoso Portela, atual diretor-presidente do UP e também professor de Português na escola, ex-aluno e ex-sócio da cooperativa. Fábio esteve na Educar 2011 com parte dos atuais gestores do UP. Segundo ele, trabalhar a redefi nição dos papéis “foi uma solução” para a instituição, que na época da mudança de comando tinha 800 alunos e era defi citária. “Já em 2009, saltamos a 1.800 estudantes”, lembra. O segredo foi delimitar essas funções, bem como adotar ferramentas de gestão empresarial comuns a outras empresas, como a composição de um Conselho de Administração – “que é quem manda”, e o planejamento estratégico. Ele e o professor Alexandre Bittencourt Borges de Oliveira mantiveram a dupla função (Alexandre também é diretor), mas Fábio observa que se posicionam diante dos alunos como docentes e não permitem que sejam abordados como dirigentes em sala de aula.
OBJETIVO COMUM, RACIONALIDADES DISTINTAS
A ênfase na necessidade de defi nição e clareza dos papéis dos colaboradores perpassou grande parte das palestras do 7º Educador Management (Seminário Internacional de Gestão em Educação), promovido no âmbito da Educar 2011. Em uma das palestras mais concorridas do evento, a consultora e pedagoga Célia Godoy defendeu a revisão das atribuições e responsabilidades de cada um no interior da escola como forma de revitalizá-la, de transformá-la. “Quando misturamos papéis, surgem confl itos, não se sabe para quem se pergunta”, disse. A redefi nição deve começar nos gestores, em especial pelo coordenador pedagógico, hoje muito absorvido pelos problemas operacionais do dia a dia, sem tempo, portanto, para articular a implantação do projeto pedagógico. Por outro lado, é preciso também situar o professor no próprio processo, proporcionando-lhe condições para o exercício do trabalho.
Em uma mesa de “conversas” comandada pelo educador Celso Antunes, em que gestores e consultores abordaram o assunto, Mario Uribe, diretor do Programa de Gestão e Direção Escolar da Fundação Chile e membro do Comitê de Formação de Gestores de Excelência do Ministério da Educação daquele país, disse que deve haver uma “combinação inteligente entre pressão por resultado e apoio”, dentro de um modelo que reforce “o papel, o status e a identidade do professor”. Na verdade, conforme ponderou seu colega de mesa, Júlio César Furtado dos Santos, reitor do Centro Universitário Uniabeu, do Rio de Janeiro, revitalizar uma escola ou fazê-la crescer, “sem olhar para o capital humano, é ato de loucura”. Júlio e Mario estavam acompanhados ainda por Tobias Ribeiro, coordenador do Programa de Gestão de Qualidade da Fundação L’Hermitage, e Casemiro Campos, consultor em formação de professores e gestão.
“A escola é executora de um projeto para o qual todas as pessoas que nela atuam precisam estar cientes e de acordo”, afi rmou Júlio Furtado. Ou ainda, retornando à palestra de Célia Godoy, a gestão acontece “junto e por meio de pessoas”, em direção a objetivos construídos pelo grupo, sob o uso de suas funções e do conhecimento. Mas cada cargo apresenta uma “racionalidade diferente”, conforme pontuou Casemiro Campos. “A do gestor é a racionalidade do não, que a gente tem que dizer o tempo todo, enquanto a do professor é a do ativista, dizendo o tempo todo para o aluno que ele pode.”
DELIMITANDO AS FUNÇÕES
DIRETOR
O reitor Júlio Furtado lembrou que as escolas bem posicionadas junto ao IDEB têm professores satisfeitos com os resultados de seu trabalho. “Compete, portanto, ao gestor fazer com que esse resultado apareça, o que atua como automotivação e, junto com os demais apoios, leva à mudança da escola.” Mas quem deve ser esse diretor? Para o consultor Tobias Ribeiro, que também ministrou uma palestra específica sobre o perfil do diretor, ele deve ser assertivo, o que facilita a adesão e o alinhamento da equipe.
“Ele não pode ser nem fiscal nem demasiadamente agradável, nem passivo nem agressivo, portanto, deve saber cobrar e para isso o autoconhecimento é fundamental.” Tentativas de parecer sempre simpático e bonzinho à equipe revelam um dirigente com baixa autoestima, o que compromete o seu trabalho, disse Tobias.
COORDENADOR PEDAGÓGICO
Segundo Célia Godoy, poucos sabem qual a função do coordenador pedagógico. Nem os próprios diretores têm clareza acerca desta figura, pois “o vê como braço direito, um faz tudo, quando, na verdade, o seu papel é mediar a práxis docente e o projeto pedagógico, verificando se há consonância entre os dois”. Em outras palavras, o coordenador realiza a mediação entre a proposta (tomada como estímulo) e a prática (tomada como resposta), cobra dos professores sua participação na construção deste projeto. “O coordenador pedagógico não é para resolver problemas ou sanar dificuldades. É preciso mudar o foco: ele deve trabalhar para a realização de objetivos que estejam claros, combinados, explicitados e construídos coletivamente.”
Saiba mais
Casemiro Campos
casemiroonline@casemiroonline.com.br
Célia Godoy
godoycelia@godoycelia.com.br
Celso Antunes
celso@celsoantunes.com.br
Fábio Cardoso Portela
www.upvix.com.br / profabio@gmail.com
Júlio César Furtado dos Santos
reitoria@uniabeu.edu.br / julio@juliofurtado.com.br
Mario Uribe
muribe@fundacionchile.cl
Tobias Ribeiro
Tobias@lhermitage.org.br